Psicólogo de cachorro: coisa de doido?

Photo credit: Aidras / Foter / CC BY-ND
Photo credit: Aidras / Foter / CC BY-ND

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

No que consiste a consulta?

No decorrer de uma consulta, o profissional procura entender qual é o problema comportamental do cão. Por exemplo: latidos excessivos, agressividade e automutilação. A situação é descrita em detalhes, e as pessoas dizem como tentam solucioná-la. Nessa hora, o profissional precisa ter bastante jogo de cintura e saber lidar com gente, porque freqüentemente os membros da família começam a discordar. Às vezes sai até briga.

Alguns desses problemas chegam a levar casais ao divórcio! Atendi uma moça que tinha recebido um ultimato do marido: ele sairia de casa se ela não se livrasse do cachorro. O motivo era que, quando o marido se aproximava da esposa, o cão o atacava. A esposa deixou claro para mim que, se não conseguíssemos resolver o assunto, iria se separar, já que amava o cão e não concordava com aquele tipo de imposição do marido. Graças a Deus, o caso foi resolvido e salvamos o casamento.

Uma vez compreendido o problema e as atitudes das pessoas em relação a ele, o profissional explica o que realmente está acontecendo e o que deve ser feito. Nessa hora, as pessoas costumam ter um insight e dizer: nós é que precisamos ser treinados!

E é exatamente isso. O especialista em comportamento animal recomenda novos comportamentos e atitudes para os humanos e, assim, procura alterar indiretamente o comportamento do animal. Na maioria das vezes, as pessoas estão fazendo tudo errado.

Quando aprendem como devem se comportar, é comum ocorrer uma mudança drástica no comportamento do cão, para melhor. Algumas pessoas dizem que até parece mágica.

As consultas costumam levar cerca de uma hora e devem ser feitas preferencialmente onde ocorre o problema. Normalmente, o conflito acontece na casa onde o cão vive. Por isso, o ideal é que o profissional vá até a residência do cliente para poder diagnosticar corretamente. A maioria dos cães se comporta de forma diferente conforme se encontre dentro ou fora de casa. Recomenda-se que todas as pessoas que interagem com o cão participem, para que possam colaborar com informações e ajudar na solução do problema.

Quem são esses profissionais?

Não existe formação obrigatória para poder atuar nesta área. Cabe ao contratante, portanto, verificar se o profissional tem experiência e condições para lidar com o caso em questão. Normalmente, as pessoas procuram este tipo de especialista por recomendação. Profissionais de nível superior que costumam atuar nesta área são: psicólogos, biólogos, veterinários e zootecnistas.

Problemas de longa data

Os cães estão sempre aprendendo e se ajustando ao meio em que vivem, por isso não desista de tentar resolver um problema que esteja prejudicando o cão ou a sua relação com ele, mesmo que o animal seja idoso.

O que se pode solucionar

Numerosos problemas de comportamento podem ser solucionados pela terapia comportamental. Os mais freqüentes são a agressividade por dominância, a ansiedade de separação, a compulsão e as fobias.

A maior dificuldade do especialista é conseguir a colaboração das pessoas que convivem com o cão. Não é fácil mudarmos o nosso comportamento, por mais simples que possa parecer. Algumas pessoas se sentem arrasadas quando tentam deixar de mimar o cão, mesmo sabendo que é para o bem dele.

Duração do tratamento

Normalmente bastam algumas consultas para o profissional identificar o problema e bolar uma estratégia para solucionar o caso. Muitas soluções acontecem em alguns dias, outras podem demorar meses e alguns problemas só diminuem de intensidade. Na maioria das vezes, o novo comportamento das pessoas da casa em relação ao cão deve ser mantido depois de o problema ter sido resolvido, para que não venha a se repetir.

Motivando o cachorro a aprender a obedecer ? – Parte 2

Photo credit: sleepyneko / Foter / CC BY-SA
Photo credit: sleepyneko / Foter / CC BY-SA

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

Voz aguda, cão mais feliz
Está comprovado cientificamente que as vozes mais agudas são as que surtem o melhor resultado quando se elogia um cão. Portanto, machões, deixem de frescura e comecem a dizer as palavras de estímulo aos seus cães da maneira que eles mais gostam! A dica é experimentar falar com eles de diversos modos, para ver com qual parecem mais felizes e animados.

Postura importa
Abaixar-se ao festejar o cão também o torna mais alegre. Principalmente se ele puder lamber o nosso rosto! Quando está feliz, o cão normalmente gosta de ficar perto da cara do seu parceiro humano. Por isso, muitos condutores o premiam, no agility (esporte canino), deixando-o pular no colo e, muitas vezes, permitem lambidas no rosto. É preciso, porém, evitar esse tipo de intimidade com os cães agressivos, pois podem atacar mesmo ao receber carinhos e elogios.

Não recompensar a desobediência
Muitas vezes premiamos o cão justamente quando ele escolhe não atender ao nosso comando. Parece óbvio, mas, se ele não obedecer, vale estarmos atentos para não lhe dar biscoito, brinquedo ou seja lá o que ele quiser.

Outro caso muito comum é a pessoa oferecer petisco ou recompensa para conseguir algo do cão que está desobedecendo, como ao querer tirá-lo de casa quando se recusa a sair. Quem usa essa estratégia, em pouco tempo, terá um cão que preferirá obedecer só quando alguém oferecer algo bem interessante para ele.

Não punir a obediência
É preciso associar a obediência a coisas e situações prazerosas e não a punições. Voltar de um passeio, tomar banho, ter que engolir remédio são punições para a maioria dos cães. Portanto, o cão que brinca no parque e atende ao chamado do dono, se for preso na guia logo em seguida e levado para casa, se sentirá punido. E não terá a menor motivação para obedecer novamente.

Como agir, então, para dar remédio ao cão ou para levá-lo embora depois de um passeio no parque? Pode-se chamá-lo diversas vezes e recompensá-lo, cada vez que vier, com algo que adore, como um brinquedo, carinho ou petisco. Só depois disso, prende-se o cão na guia. A brincadeira continua por um pouco mais de tempo, antes de ele ser levado para casa ou para onde lhe será dado o remédio. Dessa maneira, a frustração de ir embora ou de tomar remédio se diluirá nas diversas vezes em que o cão for recompensado. Haverá, também, maior distância temporal entre a obediência e a “punição”.

Nem sempre recompensar
Devemos mostrar ao cão que nem sempre ele será recompensado, mas que não lhe faltarão chances para ganhar algo que o agrade. Isso é importante, pois evita que desista de obedecer. É como quando o carro de uma pessoa pega sempre na primeira tentativa enquanto o de outra só pega às vezes. Ao falhar a partida, a segunda pessoa tentará acionar a ignição por muito mais tempo, por acreditar que a qualquer momento o motor voltará a funcionar, enquanto a outra estranhará a situação e desistirá muito mais rapidamente.

Só convém começar a recompensar alternadamente o cão quando ele estiver razoavelmente adestrado. Caso contrário, poderá ficar confuso e desanimar.

Recompensas em qualquer momento e lugar
É comum ouvir a reclamação de que o cão só obedece na área onde estão guardados os seus biscoitos ou quando há algo do interesse dele na mão da pessoa que dá ordem. O truque é você fazê-lo acreditar que poderá ser recompensado em qualquer lugar e a qualquer momento, mesmo quando não houver nada nas suas mãos.

Para conseguir isso, deixe petiscos em diversos pontos da casa e esconda alguns deles no bolso. Use-os para surpreender o cão em momentos nos quais ele não espera ganhar recompensa. Em questão de dias, no máximo, o seu aluno estará obedecendo em qualquer ambiente.

Não parecer disputa de poder
Um cão dominante pode recusar obediência até mesmo quando o prato dele, cheio de comida, estiver nas mãos do dono. Se isso acontecer, não deverá ser forçado a obedecer e nem deverá levar bronca. A pessoa simplesmente irá embora, sem demonstrar chateação nem irritação, depois de ter deixado o prato em cima de um lugar fora do alcance do cão.

Uma nova chance será dada depois de algum tempo, que pode ser de até poucos minutos. Assim, ele associará a obediência com a oportunidade de obter o que deseja, em vez de associá-la com perda de poder.

Motivando o cachorro a aprender a obedecer ? – Parte 1

Photo credit: http://www.petsadviser.com / Foter / CC BY
Photo credit: http://www.petsadviser.com / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

É muito mais prazeroso ensinar um aluno motivado. Ele nos olha com atenção, procura fazer a parte dele da maneira correta e não desanima nem desiste facilmente. Também é gostoso ver alguém desenvolver uma atividade com perfeição e prazer. Por causa da enorme contribuição da motivação para o aprendizado e para a sua retenção, existem diversas técnicas para empresários, pais e professores motivarem seus funcionários, filhos ou alunos, por exemplo.

Mas, até onde eu sei, não há nada específico sobre como motivar cães a gostar de aprender e a sentir prazer em ser obedientes. Neste artigo, procuro transmitir os conhecimentos mais importantes que acumulei a partir de muitos erros e acertos e de bastante estudo sobre o comportamento animal.

Repetir o que é bom, evitar o que é ruim
Partiremos do princípio de que o cão procura fazer o que lhe traz prazer e evitar o que é incômodo para ele. Assim, quando ele obedece, é porque quer ganhar algo que deseja, como atenção, carinho e petiscos, ou porque quer evitar o desconforto de uma repreensão, por exemplo. Sempre há um interesse envolvido, e isso é normal e natural!

Sem a expectativa da troca, seja para ganhar algo gostoso, seja para evitar algo ruim, o cão não se sentirá motivado a obedecer. Ele pode, portanto, obedecer ao comando “senta” para ganhar carinho, petisco ou para evitar o desconforto de ter alguém pressionando a traseira dele ou apertando seu pescoço com a guia.

Prazer ou desconforto
Quando causamos uma sensação desagradável no cão, para forçá-lo a nos obedecer, associamos um sentimento de desconforto a tudo o que ele está percebendo. Com isso, o cão pode deixar de gostar do local onde é adestrado, da coleira que usa e até da pessoa que o adestra.

Mesmo que o forçamento seja funcional, para motivar o cão a obedecer, não o é para ensiná-lo a gostar de aprender, gostar de quem o treina e do local onde isso acontece. Por que, então, alguns cães ensinados com reforços negativos amam tanto seus treinadores? Porque os associam também com sair para passear, receber atenção e carinho. Mas esses cães ficariam mais motivados a aprender e sentiriam mais prazer em obedecer ao adestrador se ele usasse técnicas mais positivas.

Evite frustrações
Um dos maiores inimigos da motivação é a frustração. Seja do cão, seja do treinador, o qual, ao ficar frustrado, pode contribuir para a desmotivação do animal. Geralmente, a frustração ocorre quando o cão não consegue fazer o que desejamos. Em geral, porque foi submetido a um treino mais difícil do que seria necessário. Por exemplo, para executar o comando “deita”, é preciso que o cão faça uma seqüência de posições intermediárias.

Se, ao começar a treinar esse comando, ele já tiver de fazer a seqüência completa de movimentos, é mais provável que desista antes de terminar. E sairá frustrado por não ter conseguido abocanhar o petisco que viu na mão do treinador. Ele se lembrará disso e, no próximo treino, estará menos motivado a fazer aquele exercício.

Estabeleça metas fáceis de serem atingidas e recompense o cão sempre que ele as alcançar. No caso do comando “deita”, por exemplo, dê petisco a cada movimento que o cão fizer. Dessa maneira, o objetivo final será atingido com maior rapidez e com muito menos frustrações.

Pagamento justo
Cães também têm seu preço! A recompensa pela execução de comandos que requerem maior esforço para serem atendidos deve ser maior do que a normal. Assim, o cão estará motivado a obedecer a qualquer comando em qualquer situação. Caso contrário, ele irá avaliar a situação e decidir se obedecerá ou não.

O preço pode variar de acordo com a situação. Por exemplo, vale muito mais o cão atender ao “vem” quando chamado num parque cheio de cheiros e de cachorros para brincar, do que quando chamado dentro de casa, sem a concorrência de outro estímulo. Também vale mais o atendimento a comandos dos quais o cão gosta menos. É o caso do “deita” e do “morto”, quando comparados com o “senta” e o “dá a pata”.

O cão que avalia constantemente se deve ou não obedecer perde a motivação e responde aos comandos com mais lentidão e menor interesse. Por isso, procure recompensá-lo de modo que ele se sinta cada vez mais interessado em obedecer. No próximo artigo, darei mais dicas de como motivar o cão a obedecer e a se comportar.

O que molda o comportamento dos cachorros

Photo credit: Desfolio / Foter / CC BY-ND
Photo credit: Desfolio / Foter / CC BY-ND

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

Diversos fatores podem influenciar o modo como um cão age. Saiba quais são.

Raça ou criação?
A pergunta que mais ouço é: o que determina o comportamento de um cão? A raça ou o modo de criá-lo? A resposta quase sempre frustra porque não é simples. As pessoas gostariam que ela fosse simples e, de preferência, que confirmasse o que pensam. Mas a tentativa de simplificá-la demais pode resultar em preconceitos relacionados com o comportamento das pessoas ou das raças de cães.

Temperamento
Podemos dizer que o temperamento reflete a maneira como o cão sente as coisas. Reações como medo, curiosidade e agressividade diante de um estranho são influenciadas pelo temperamento. Um cão medroso, por exemplo, tenderá a se encolher diante de situações novas ou que considere perigosas. A partir de uma pequena diferença de temperamento, podem ser desenvolvidos comportamentos completamente distintos.

Entre dois cães que têm medo de outros cães, um poderá ficar mais medroso se nunca interagir com exemplares da espécie e o outro poderá, aos poucos, perder a fobia caso passe por experiências positivas. Da mesma forma, se dois cães ficarem atrás de um portão em ocasiões diferentes, o mais agressivo poderá se sentir provocado pelos passantes que se assustam ao vê-lo, enquanto o mais dócil poderá receber carinho dessas pessoas. Com o tempo, as diferenças entre os dois ficarão mais evidentes. Um se tornará bem agressivo e o outro, bastante dócil.

Tipos de temperamento
O maior estudo que conheço sobre a classificação de cães por tipos de temperamento levou em consideração mais de 15.000 exemplares. Foram determinadas as seguintes classes: brincalhões, curiosos ou medrosos, interessados em perseguir coisas, sociáveis e agressivos.

De acordo com as classes de temperamento nas quais um cão se enquadra, é possível saber como ele se comportará diante de estímulos. Por exemplo, um cão brincalhão e medroso brincará quando estiver em lugar conhecido, mas ficará acuado em ambiente desconhecido.

Efeitos da raça
Na média, cães de raças diferentes podem ter comportamentos distintos. Muitos mais Labradores correm atrás de bolinhas do que Akitas. Por quê? Porque, na média, correr atrás de objetos é mais típico do temperamento dos Labradores. Goldens Retrievers costumam ser mais sociáveis com estranhos do que Rottweilers. Portanto, a raça à qual o cão pertence pode ter, sim, influência no comportamento.

Mas há muitas exceções. Sempre que definimos o temperamento de uma raça, devemos ter em mente que é na média. Em nenhuma raça todos os indivíduos têm o mesmo temperamento. Rottweilers mansos e Goldens Retrievers agressivos não são tão raros quanto se costuma imaginar.

Educação e ambiente
Não devemos subestimar o poder do ambiente sobre o comportamento dos animais. Um cão pode aprender a controlar o temperamento agressivo ao receber educação. O exemplar de temperamento medroso pode deixar de temer gente se tiver contato com muitas pessoas de maneira correta e se as associar a coisas boas. É possível mudar com facilidade alguns comportamentos pela educação, mas outros são dificílimos de alterar. Transformar em corajoso um cão com temperamento medroso, quando possível, exige muito trabalho.

Quanto antes se percebe como é o temperamento de um cão, tanto maiores as chances de controlar sua influência sobre o comportamento dele. Essa avaliação, em conjunto com a adoção de um programa específico de adestramento, pode ajudar a evitar problemas futuros para o cão e para a família.

Função original
Parece óbvio que cães de guarda sejam mais agressivos e que cães de caça gostem de perseguir coisas, por exemplo. Mas, por mais estranho que possa parecer, não é o que demonstram os estudos recentes sobre comportamento. Ou seja, dizer que uma raça tem este ou aquele temperamento por causa do grupo em que está inserida — guarda, caça, etc. –, já era!

A explicação mais plausível é que, nas últimas décadas, a seleção artificial feita pelo ser humano modificou muitas aptidões originais de raças. Como exemplo, podemos citar Dobermanns guias de cego nos Estados Unidos, função na qual o cão não pode demonstrar nenhuma agressividade, apesar de o Dobermann ter sido desenvolvido inicialmente para atuar na guarda.

Brincadeiras e treinos sexuais dos cachorros

Photo credit: Christina Spicuzza / Foter / CC BY-SA
Photo credit: Christina Spicuzza / Foter / CC BY-SA

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

O comportamento sexual e a alimentação são igualmente importantes para a sobrevivência das espécies. Muitos machos param de se alimentar diante da excitação de detectar fêmea no cio. Alguns chegam a arriscar a própria vida para copular! De nada adiantaria os animais se dedicarem a sobreviver se não passassem para diante os seus genes. Por isso, não deveríamos sentir estranheza ao ver cães “desesperados” para acasalar.

Movimentos pélvicos
Proprietários que vêem, com naturalidade, seu cão brincar de luta, se espantam quando ele brinca de fazer movimentos pélvicos. Já ouvi muitas pessoas fazer observações como: “Alexandre, meu filhote é tarado! Já está querendo cruzar com apenas 40 dias de idade! O que faço?”

É com as brincadeiras que os cães aprendem a praticar os comportamentos essenciais para a sobrevivência. São conhecidos vários casos de cães com problema para acasalar por terem sido separados novos demais da mãe, dos irmãos e de outros indivíduos da espécie. É normal que as brincadeiras e treinos de monta comecem quando o filhote ainda está mamando e que continuem por toda a vida. Isso vale tanto para os machos quanto para as fêmeas. E não faz diferença se a prática ocorre com exemplares do mesmo sexo ou não.

Brincadeiras sexuais com gente
Durante o período de sociabilização, que vai até os 90 dias, os cães aprendem comportamentos próprios da espécie por meio do convívio. Quando esse aprendizado inclui a interação com seres humanos, o cão passa também a se identificar com pessoas. Para ele, torna-se natural considerá-las parceiras de brincadeiras e de treinos sexuais. Mas é claro que, pela educação, podemos ensinar o cão a não tentar copular com os nossos braços ou pernas.

Monta
O cão que monta sobre outro pode apenas estar expressando dominância. Quanto mais dominante for, menos aceitará que outros cães subam nele — principalmente os de mesmo sexo. Em compensação, o dominante poderá querer subir em todos os demais cães. Outra situação é a do macho que insiste em querer montar numa fêmea. Ela se irritará e passará a ameaçá-lo com mordidas sempre que ele chegar perto demais.

Masturbação
Alguns cães desenvolvem o hábito de se masturbar. Embora este seja um comportamento considerado normal, desde que não praticado em excesso, costuma deixar as pessoas embaraçadas. Proprietários se queixam disso principalmente quando recebem visitas. Segundo eles, o cão parece fazer de propósito. Assim que a visita chega, ele traz o travesseirinho ou brinquedo predileto e começa a se masturbar no meio da sala! Esse comportamento pode proporcionar ao cão diversos benefícios, pelo prazer obtido ao se masturbar, por conseguir chamar a atenção e por aliviar a ansiedade de ver mais pessoas interagindo com seus donos. Mesmo com tanta “concorrência”, costuma ser fácil ensinar o cão a não se comportar dessa maneira.

Há casos mais raros de cães que se masturbam compulsivamente até se machucarem. O tratamento é semelhante ao de outros problemas compulsivos, como o de lamber a pata em excesso.

Cão precisa cruzar?
Tanto o cão quanto a cadela podem ter vida saudável e longa sem nunca acasalar. Na verdade, os acasalamentos aumentam o risco de contrair doença sexualmente transmissível.

Acasalar acalma?
Muitas relacionam a falta de relações sexuais ao grau excessivo de atividade do cão e ao comportamento de montar nas pessoas. Vários experimentos já demonstraram que o cão agitado, com alta libido ou que apronta pela casa, continua se comportando do mesmo modo depois de ter relação sexual. O cão jovem, ao sair da adolescência, por exemplo, apresentará mudanças comportamentais independentemente de ter acasalado ou não.

Castração provoca sofrimento?
A castração causa alterações hormonais que mudam o comportamento sexual. As cadelas deixam de entrar no cio e a maioria dos machos perde o interesse por elas. Fora isso, os animais castrados demonstram alegria, curiosidade, interesse no que acontece ao redor e brincam sem parecer prejudicados pela castração. Os cães-guias de cegos, por exemplo, são todos castrados para desempenhar melhor suas funções.

Mitos e verdades sobre adestramento

Photo credit: Amy Loves Yah / Foter / CC BY
Photo credit: Amy Loves Yah / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

Mesmo sendo bem difundido e relativamente fácil de ser encontrado, o serviço de adestramento não é usufruído por boa parcela da população que poderia se beneficiar com ele. Há também pessoas que, sem ter ideia correta sobre a função desse treino, contratam um adestrador com expectativas irreais e ficam frustradas com o resultado. Procuro esclarecer aqui alguns conceitos bastante difundidos, para melhor entendimento deste importante assunto.

Mitos

“O cão só obedece ao adestrador”
Se fosse verdade que o cão só obedece a quem o treinou, como seria possível preparar cães guias de cego, já que os portadores de deficiência visual não têm como fazê-lo? É provável que o mito nasceu da frustração de donos cujos cães depois de adestrados apenas apresentam melhora de comportamento e obediência quando estão com o adestrador. Na verdade, essa diferença de atitudes acontece não exatamente por causa da pessoa do adestrador. Mas porque o cão, por ser inteligente, associa a validade de uma regra a um determinado contexto. Para ele agir do mesmo modo com seu dono e com o adestrador é preciso que ambos usem os comandos em contextos semelhantes. Sem o envolvimento com os métodos do adestrador, o dono do cão e seus familiares jamais obterão os mesmos resultados que o adestrador consegue.

“Não vou adestrá-lo pois não quero um robô!”
Essa frase superestima o poder do adestramento e subestima a inteligência canina. Engana-se quem acha que o cão aprende um determinado comando e passa a obedecê-lo como uma máquina. Ele nos obedece por estar interessado em alguma troca. Seja para ganhar algo que goste ou para evitar algo que não goste. Além da troca, existe a questão da hierarquia. Um cão dominante pode oferecer resistência e não obedecer a comandos de uma pessoa, mesmo que esteja interessado na troca, por se considerar em nível hierárquico superior ao dela.

“Cães só devem ser adestrados após os seis meses de idade”
Muitos acham que não podem adestrar o cão antes que ele atinja meio ano de vida. Esperam impacientemente que complete essa idade para procurarem um adestrador. Mas os cães aprendem o tempo todo, independentemente do que achamos. Por meio do adestramento ensinamos o que queremos e o que julgamos ser importante. Isso deve ser feito durante toda a vida do cão, com ou sem a supervisão de um profissional de adestramento.

“Meu cão é muito burro, não aprende nada!”
Cuidado com essa frase. Provavelmente ela diz mais a respeito da sua técnica de ensino do que sobre a inteligência do seu cão! Cães aprendem com bastante facilidade, mesmo os menos inteligentes. Executar comandos básicos é algo facílimo para eles. Portanto, se o seu cão não obedece, não deve ser por burrice. Questione a sua didática e o interesse que consegue despertar no seu aluno canino com o que você oferece a ele.

“Só cães de grande porte devem ser adestrados”
Cães de qualquer tamanho podem ser beneficiados pelo adestramento. Lembre-se: adestrar é educar. Cães pequenos também podem destruir objetos, atacar pessoas e não obedecer aos proprietários!

Verdades

“O cão só obedece por interesse”
É isso mesmo. E não deveríamos achar ruim o cão gostar de recompensas. Quem trabalha de graça? Mesmo quando não buscamos dinheiro, queremos nos sentir recompensados de alguma maneira. O mesmo princípio é válido com os cães. Para obtermos maior influência sobre o comportamento deles devemos sempre procurar identificar quais estão sendo as trocas, mesmo que elas não sejam óbvias.

“Até os cães mais velhos podem aprender”
Correto. Da mesma maneira que as pessoas mais idosas também aprendem. Alguns hábitos praticados durante toda a vida podem ser um pouco mais difíceis de modificar. Mas, na maioria das vezes, a capacidade do cão para se adaptar a novas regras é surpreendente. Não existe uma idade determinada para o cérebro bloquear novos aprendizados. Portanto, acredite no seu cão velhinho!

Depende… 

“Cães não gostam de ser adestrados”
Isso está muito relacionado com a técnica que o adestrador utiliza. Algumas são embasadas em recompensas e reforços positivos; outras, em punições e reforços negativos. Cães treinados com reforços positivos e recompensas gostam muito mais das aulas dos que os treinados com punições. Mas os cães ensinados com reforços negativos também podem gostar delas. Ter contato social, sair para passear, ser estimulado é tão importante para eles que os reforços negativos e as punições ficam em segundo plano.

Do lobo ao cachorro doméstico

Photo credit: Tambako the Jaguar / Foter / CC BY-ND
Photo credit: Tambako the Jaguar / Foter / CC BY-ND

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

Muitos comportamentos do cão são herdados. E só podem ser realmente compreendidos se levarmos em conta a história evolutiva da espécie. Alguns deles, como a gravidez psicológica, abordada nesta seção (edição 315), deixaram de fazer sentido no modo de vida atual. Outros adquiriram funções diferentes. Por exemplo, a capacidade de seguir um rastro para capturar uma presa é hoje aproveitada para busca e salvamento.

Ao contrário do que muita gente pensa, ainda não sabemos exatamente como ocorreu a domesticação do cão. Acreditava-se que teria sido há cerca de 15 mil anos. Descobertas arqueológicas referentes àquela época mostraram cães enterrados com seres humanos em posições que sugeriam afetividade entre eles. Estudos recentes de DNA mitocondrial (tipo de DNA que permite estimar separações entre grupos de animais) apontam para a separação entre o cão e o lobo há mais de 100 mil anos! Uma teoria lança a ideia de que o cão já havia se separado do lobo antes mesmo do contato com seres humanos. Com isso, o homem deixaria de estar na posição de “criador” do cão.

Está cada vez mais certo que o cão doméstico se originou do lobo cinzento (Canis lupus) ou de um ancestral comum muito próximo. Teorias antigas levantavam hipóteses de o cão ter sido originado a partir de coiotes, chacais ou outros lobos. Mas essas idéias foram abandonadas depois de analisado o DNA de cada espécie e de se ter constatado que o lobo cinzento e o cão possuem DNA quase idênticos.

Muitos estudos sobre diferenças e semelhanças entre lobo e cão procuram mostrar a influência humana na seleção das características comportamentais do cão atual. As semelhanças entre as duas espécies são muito grandes. Desde a comunicação corporal, feita com sinais de submissão e dominância, até o comportamento de ataque e a inteligência para resolver problemas complexos.

Outro fato interessante é que a seleção realizada pelo homem especializou os cães em diversas funções sem acrescentar comportamentos inexistentes nos lobos. Foram fixadas grandes diferenças de morfologia (de formas) e de comportamento, sempre por meio de trabalhos feitos com características e aptidões já presentes. Nas raças de guarda, por exemplo, ressaltaram–se o instinto guardião e a coragem do lobo. No comportamento de pastoreio do Border Collie, foi reforçado o instinto de cercar a presa antes de capturá-la, e assim por diante. O ser humano, portanto, apenas selecionou e reforçou, nos cães, características que já estavam presentes no lobo, sem ter criado comportamentos novos.

A habilidade de comunicação interespecífica, ou seja, entre o cão e o homem, ocorre nos cães em maior grau do que nos lobos. Faz bastante sentido imaginar que o ser humano, consciente ou inconscientemente, tenha selecionado características e aptidões que facilitaram a comunicação entre as duas espécies, durante o longo convívio entre ambas.

Experimentos recentes feitos com cães e lobos socializados demonstraram que os cães prestam mais atenção no rosto humano e têm mais facilidade do que o lobo para compreender gestos de apontar feitos por pessoas.

Outra diferença curiosa entre cães e lobos criados nas mesmas condições é que, ao contrário dos lobos, os cães podem preferir imitar alguns comportamentos humanos em vez dos da própria espécie, a partir de certa idade.

A capacidade de ser treinado e de se adaptar a diversas situações também diferencia as duas espécies. É muito mais difícil ensinar um lobo do que um cão a sentar, a deitar, etc. Tais capacidades podem estar relacionadas a uma característica do cérebro canino adulto: ele se mantém semelhante ao cérebro do filhote de lobo por toda a vida. “Cérebros novos” possuem uma plasticidade maior para lidar com ambientes diferentes e para aprender coisas novas.

As aptidões dos cães os tornam mais adaptados à vida com o ser humano. Da mesma forma, os lobos se saem melhor na vida selvagem, para enfrentar os problemas comuns ao habitat deles.

Lidando com a gravidez psicológica

Photo credit: jespahjoy / Foter / CC BY
Photo credit: jespahjoy / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

A gravidez psicológica, ou pdeudociese, ocorre em mais de 50% das cadelas não castradas. Além das mudanças comportamentais, ela causa alterações físicas, como o desenvolvimento das glândulas mamárias e a produção de leite, chegando a surpreender muitos proprietários. Como isso foi acontecer se a fêmea nem esteve com um macho?

Como surge?
Do ponto de vista fisiológico, a gravidez psicológica é um engano do organismo. É gerada por alterações hormonais, capazes por si só de influenciar o comportamento e o desenvolvimento de tecidos mamários. Portanto, para que a “gravidez” ocorra, não é preciso haver filhotes no útero.

A confusão parece acontecer quando diminui bruscamente o hormônio progesterona, presente durante o cio e por mais dois meses. Quando a cadela está para dar a luz, cai o nível de progesterona, o que estimula a produção do hormônio prolactina. A prolactina, por sua vez, age no tecido mamário, podendo ativar a produção de leite e também causar o comportamento maternal. É comum as cadelas desenvolverem gravidez psicológica após a castração, se realizada até três meses depois do início do cio. Com a retirada dos ovários, que produzem a progesterona, há a interrupção da produção desse hormônio e a liberação da prolactina pela hipófise, localizada no cérebro.

Por que é comum?
À primeira vista, fica difícil imaginar como a gravidez psicológica se tornou comum na espécie canina. Mas, se pensarmos numa alcateia (grupo de lobos), a coisa fica mais fácil. Nela, só os indivíduos dominantes costumam se reproduzir. E eles, tanto os machos como as fêmeas, são também os melhores e mais corajosos caçadores.

As lobas não dominantes que desenvolviam gravidez psicológica podiam cuidar, com perfeição, dos filhotes das fêmeas dominantes, já que apresentavam os comportamentos necessários para tal, e até amamentavam. Graças a essa ajuda, as fêmeas dominantes podiam caçar e conseguir alimento para o grupo. Com isso, as fêmeas que cuidavam dos filhotes se aproximavam afetivamente da líder e desenvolviam um bom relacionamento com a próxima geração. E ser influente numa alcateia é importante para a sobrevivência e para a escalada hierárquica.

O que fazer?
Quando ocorre a gravidez psicológica, há quem deseje interrompê-la para a cadela voltar logo ao normal. Medicamentos que inibem a prolactina fazem cessar rapidamente a produção do leite e o comportamento maternal.

Sem medicação, a gravidez psicológica costuma terminar em duas semanas. Alguns proprietários preferem aproveitar essa fase para admirar o comportamento materno das suas cadelas. Apreciam vê-las adotar e proteger os filhotes imaginários, na forma de bichos de pelúcia, de bolinhas e até de controle remoto de TV! Uma das atitudes destinadas à proteção dos filhotes é cavar – serve para lhes preparar uma toca.

Devemos retirar os filhotes imaginários?
Algumas pessoas, para impedir que a cadela adote objetos, têm atitudes como tirá-la do cantinho que escolheu e esconder seus brinquedos. Tais procedimentos podem aumentar a ansiedade da cadela e estimular comportamentos compulsivos. Deixá-la a vontade é a maneira mais respeitosa de lidar com a situação.

Evitar agressividade
A cadela pode ficar com ciúme dos filhotes imaginários e se tornar agressiva para protegê-los. Mostre que você não irá roubá-los. Para isso, ao se aproximar dela, ofereça um petisco ou brinquedo. A maioria das fêmeas deseja a aproximação de alguém que, além de não ser ameaça, traga coisas gostosa.

Complicações com as mamas
O aumento das mamas é normal durantes a gravidez psicológica e o leite produzido acaba sendo reabsorvido pelo corpo da fêmea. Mas às vezes ocorre a mastife – inflamação nas glândulas mamárias. Por isso, se surgirem caroços, dores ou pele avermelhada, não deixe de consultar um médico-veterinário. A produção de leite pode aumentar ou durar mais tempo se as mamas forem estimuladas. É melhor, portanto, evitar manuseá-las. E se a cadela praticar auto-sucção das mamas, pode ser recomendado impedi-la com um colar elisabetano (posto em volta do pescoço torna impossível o contato da boca com o próprio corpo).

Cuidados que seu cachorro merece na velhice

Photo credit: jumpinjimmyjava / Foter / CC BY
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Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

Cão também envelhece
Cães, como nós, envelhecem. E estão sujeitos a doenças, dores e alterações comportamentais. Dar atenção às mudanças da idade permite suprir novas necessidades e, com isso, proporcionar a eles melhores condições de vida.

Semelhanças com os humanos
O processo de envelhecimento canino é bastante semelhante ao nosso. Vários inconvenientes e doenças são iguais. Os cães também podem sofrer de artrite, mal de Alzheimer e depressão. Problemas como esses e outros, decorrentes da idade, são diagnosticáveis desde o início pela observação das mudanças comportamentais e pela realização de checapes veterinários.

Envelhecimento conforme o porte
Cães pequenos envelhecem mais lentamente e vivem mais do que os grandes. Um Poodle pequeno, por exemplo, pode viver 18 anos. Já um Dogue Alemão vive apenas 9 anos, em média.

Alterações no metabolismo
Com o envelhecimento, normalmente, o organismo produz menos calor e gasta menos energia. O cão fica propenso a sentir mais frio e a engordar com mais facilidade, mesmo que continue comendo sempre a mesma quantidade de ração. Por sentir frio, passa mais tempo encolhido e treme freqüentemente.

Oferecer uma casinha protegida do vento, com o fundo coberto por material isolante impermeável, contribui para o bem-estar do cão idoso. Roupas também podem ajudar. É mais importante proteger os cães do frio quando estão inativos ou dormindo – raramente eles sentem frio durante a prática de atividades. Para controlar a tendência de engordar. Procure diminuir um pouco a quantidade de alimento oferecido ou substitua-o por ração diet.

Dores nas articulações
O desgaste e a inflamação das articulações também são comuns nos cães idosos. Na maioria dos cães, existe tratamento para amenizar o desconforto e estimular o crescimento da cartilagem desgastada. Animais com esses problemas preferem não andar muito porque as caminhadas lhes causam dor. Outro sintoma comum é a dificuldade que o cão tem para se levantar após fazer atividade física. De certa maneira, não praticar exercícios pesados ajuda a evitar que o problema piore. Mas alguns cães ficam tão excitados com bolinhas e outros estímulos que podem não respeitar as limitações corporais. É preciso conter a excitação evitando corridas e saltos, para o cão não se machucar facilmente. Fique atento se ele tiver tomado analgésico. Ao sentir-se aliviado da dor, poderá exagerar nos exercícios e piorar a situação.

Oferecer uma cama macia colabora para diminuir a pressão sobre as articulações, que é uma causa das dores provocadas por má circulação. Nesse caso, colocar um colchão na casinha do cão é uma boa alternativa. Para evitar as dores articulares, que se manifestam mais quando o cão se levanta, a tendência é ele passar mais tempo parado. Se antes do problema o cão se levantava e ia para outro lugar quando molestado por crianças, por exemplo, poderá passar a rosnar para afastar quem o incomoda. Por isso, convém oferecer aos cães que se encontram nessa situação locais resguardados de perturbações.

Mudanças nos sentidos
Visão, olfato e audição também podem ficar prejudicados com a idade. É comum o atropelamento de cães mais velhos, por não perceberem a aproximação do carro.
O cão de guarda idoso pode levar mais tempo para reconhecer pessoas amigas, inclusive os proprietários. Por isso, ajude-o a identificar você. Ao entrar na área onde ele fica, fale com ele e evite estar trajado de modo muito diferente do usual, como com chapéu e sobretudo se não for esse o seu costume.

Envelhecimento cerebral
O cérebro também sofre alterações com a idade e passa a ser cada vez menos flexível a novas rotinas e aprendizados. Mudar de casa, de ambiente ou de proprietário pode deixar o cão ansioso ou desorientado. Mesmo estando num lugar que conheça bem, o cão está sujeito a desorientar e a cair de uma sacada ou na piscina, por exemplo.

São males típicos do envelhecimento os distúrbios de caráter depressivo, compulsivo, bipolar (quando ocorre alternância entre depressão e mania), e o mal de Alzheimer, entre outros. Alguns sintomas decorrentes de tais males são o choro contínuo sem razão, distúrbios de sono, comportamentos repetitivos sem função alguma, como ficar lambendo a pata e ficar tentando por horas passar por espaços menores que o corpo. Para a maioria desses distúrbios, existem tratamentos feitos com remédios homeopáticos, alopáticos e fitoterápicos (de plantas). É interessante notar que a maioria dos remédios utilizados são os mesmos adotados para pessoas. Advertência: não dê medicamento sem aval do seu veterinário.

Verdades sobre o treinamento para a guarda

Photo credit: orangeacid / Foter / CC BY
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Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

O desejo do proprietário
Quase todo mundo quer um cão que seja ao mesmo tempo de companhia – dócil e carinhoso com os familiares, amigos e convidados – e protetor; sempre pronto para reprimir agressivamente os ladrões. Melhor ainda se ele atacar sob comando.

O treino de defesa
Na busca por esse companheiro guardião, há quem treine o cão de casa para o ataque (ou defesa, como é mais conhecido esse adestramento hoje). O trabalho consiste em ensinar o cão a reagir agressivamente ao receber determinados comandos do proprietário ou quando houver uma pessoa se comportando de modo suspeito. Nas aulas, geralmente, o ladrão ou agressor é simulado por uma pessoa contratada, o “cobaia”. O treino consiste na reação agressiva do cão; ele precisa perseguir o alvo até abocanhá-lo e só soltá-lo quando receber ordem do proprietário.

O que ocorre com o cão treinado
Por melhores que sejam o cão, o proprietário e o treinador; quando se trata se comportamento e de aprendizado não há como esperar que funcionem como relógio suíço. O cão treinado para atacar pode confundir uma criança, brincando de esconde-esconde em um parque, com um “cobaia”, e atacá-la. Ou partir para o ataque por interpretar erroneamente um movimento ou uma palavra. Há a possibilidade, ainda, de não ser obedecido o comando de soltura. Tais acidentes não são apenas hipóteses. São comuns com cães treinados para defesa!
Treinar um cão para atacar não deve ser comparado à programação de uma função no computador, daquelas que geram sempre a mesma resposta quando ativadas. Condicionamentos precisam ser mantidos, revisados e corrigidos. E o controle deve ser maior ainda quando se lida com comportamentos perigosos.

Recomendações inadequadas de treino para ataque
Há quem receite o treinamento de ataque para corrigir o cão medroso. A alegação é que ele irá se tornar mais confiante e, com o tempo, mais corajoso. É verdade que com o treino muitos cães medrosos passam a atacar. Mas isso não quer dizer que deixam de ser medrosos. A maioria deles aprende a atacar por medo, e isso cria uma situação especialmente perigosa e de difícil controle. Existe também o mito de que, para obter controle total sobre um cão, é necessário ensiná-lo a atacar e a interromper o ataque sob comando. Acreditando nisso, alguns adestradores podem estimular o cliente a treinar o cão para o ataque mesmo quando o objetivo é apenas o melhor controle.

Cães costumam atacar mesmo sem treino
Muitos cães defendem o proprietário e a propriedade naturalmente, sem terem sido treinados. Nesses casos, é importante conseguir controlar e inibir a agressividade do animal para evitar acidentes. Esse controle é obtido por meio da repreensão do cão quando ele se mostrar agressivo diante de uma situação, a qual pode ser armada especialmente para isso.

Pense com cuidado antes de estimular a agressividade
O cão pode ser excelente defensor da propriedade e da nossa vida. Mas também pode machucar seriamente uma criança ou uma pessoa inocente e até matá-la. Por isso, pense com cautela ou discuta com um especialista em comportamento antes de estimular o seu cão a ser agressivo com seres humanos.

Para quem não desistiu da idéia de ter um cão treinado para ataque
É possível treinar um cão para latir e acuar um invasor sem mordê-lo. Esse condicionamento também tende a estimular a agressividade do cão, mas não é tão perigoso quanto o treino que permite ao cão morder pessoas.

Resumo
– O treinamento de defesa nunca é completamente seguro – precisa ser mantido, revisado e corrigido.
– O cão treinado pode errar na identificação da presa e se confundir com o comando dado pelo proprietário.
– Não é recomendado treinar para defesa um cão medroso.
– É um mito acreditar que alguém só terá controle sobre a agressividade do cão se o treinar para o ataque.
– A agressividade pode surgir mesmo sem treino. Controlá-la é importante para evitar acidentes.
– Cães podem machucar inocentes e até matá-los. Pense nisso antes de estimular a agressividade do seu cão.
– Treinar o cão a acuar um invasor sem mordê-lo é um procedimento menos perigoso.

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