O método targeting para adestrar gatos

Photo credit: bortescristian / Foter / CC BY
Photo credit: bortescristian / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Para adestrar e controlar felinos, sejam gatos domésticos, onças ou leões, o targeting é a segunda técnica mais difundida, que perde só para o clicker. As duas podem ser utilizadas em conjunto, sempre que possível

Por que ensinar meu gato?
Com a ajuda do targeting, fica mais fácil e prático ensinar o gato a ir para determinado lugar sob comando – por exemplo, a subir na geladeira, a entrar na caixa de transporte, etc. No caso de grandes felinos perigosos, essa ferramenta torna possível deslocar os animais e posicioná-los sem ter de entrar em contato com eles, o que é muito prudente. Diversos zoológicos do mundo utilizam o targeting quando precisam lidar com grandes animais de modo a evitar acidentes envolvendo tratadores.Usando o targeting, por diversas vezes ensinei gatos domésticos a achar uma saída para descer de árvores e telhados sem precisar de escada! Com esse método conduzi também, para um documentário, uma jaguatirica por caminhos específicos dentro de um recinto enorme. Dificilmente trabalho com um animal sem ensinar a ele as técnicas do clicker e do targeting.

O que é?
Essa técnica de adestramento normalmente ensina o animal a se aproximar de um alvo (target, em inglês) e a encostar o focinho nele. Dessa forma, guiamos o bicho para onde queremos com a ajuda do target, que pode ser uma bolinha na ponta de uma vara, por exemplo.

Como treinar
Antes de tudo, devemos definir um bom target e associá-lo a uma ou várias recompensas. Depois, ensinamos o gato a seguir o target e a tocá-lo. A partir daí, é só posicionar o target no lugar aonde queremos que o gato vá. Com alguns truques podemos ensiná-lo não só para qual lugar ir mas também por onde e como ir. Aos poucos, torna-se possível substituir o targeting por comandos verbais ou gestuais.

Escolha do alvo
Existe uma infinidade de objetos que podem ser utilizados como target. Encontram-se diversas opções no mercado, bastando digitar “target training” em um buscador da internet, como o Google. Há também diversas soluções caseiras que podem funcionar muito bem, como bolinha de pingue-pongue, fitinha e guizo. Um bom target deve ser de fácil visualização, substituível, não ingerível e seguro. Quanto mais ele se destacar no ambiente, mais fácil será para o animal localizá-lo.

Para tanto, ajuda bastante levar em conta as características do local onde o gato será treinado bem como conhecer as características da visão dos gatos. Escolha um target que possa ser substituído se estragar, pois, caso contrário, você precisará adaptar o gato ao novo target. Muitos gatos dão fortes patadas no target para tentar agarrá-lo ou, em alguns casos, tentam comê-lo! Por isso, evite qualquer coisa que possa machucar ou ser ingerida.

Recompensas
Sempre que o gato se aproximar do target ou que tocar nele, deve ser recompensado. No início, convém colocar o target bem perto do focinho do gato e, com o tempo, podemos ir afastando. Quem já usa o clicker pode clicar e recompensar o gato sempre que tocar o alvo ou se aproximar dele. A maneira mais rápida de ensinar é pôr um petisco bem apetitoso no próprio target. Assim, o gato se aproxima e encosta no target para pegar o alimento. No instante em que ele irá alcançar a comida, podemos clicar (a dica vale também para quem não usa ainda o método clicker).

Você pode serrar uma bolinha de pingue-pongue ao meio e colocar um petisco dentro de uma metade, usando-a inicialmente como se fosse um pratinho. Depois de algum tempo, começo a não pôr o petisco na meia bolinha todas as vezes, mas continuo clicando e recompensando. Muitas pessoas fazem essa transição rápido demais e o gato passa a ignorar o target. Evite que isso aconteça intercalando o local da recompensa. Ponha-a às vezes no próprio target e, às vezes, na sua mão. Quanto estiver pondo o petisco somente na sua mão, já poderá usar uma bolinha inteira como target, mas não há problemas em continuar usando a meia bolinha.

Seguir o target
Aos poucos, vá distanciando o target e faça o gato percorrer distâncias cada vez maiores. No início, o target pode ser posicionado a centímetros do focinho, mas depois pode chegar a diversos metros de distância. É nessa fase que começa a ser muito útil prender o target em uma haste, para ganhar agilidade e alcançar lugares altos ou distantes. Sempre que o gato alcançar o target, deverá ser recompensado.

Criar gesto ou comando
Se, por exemplo, quisermos ensinar o gato a subir na geladeira simplesmente apontando para ela, devemos fazer o gesto de apontar e imediatamente posicionar o target no topo dela. Assim que o gato pular e chegar lá, devemos recompensá-lo. Com o tempo, ele irá se antecipar e pulará na geladeira somente ao ver você apontar com o dedo. Não esqueça de recompensá-lo nesse momento!

Como lidar com mais de um gato

Photo credit: Bev Goodwin / Foter / CC BY
Photo credit: Bev Goodwin / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Você tem vários gatos? Veja como proporcionar a eles mais bem-estar na vida em grupo

Meus gatos estão bem?
Gatos são bastante mais sutis que cães para dar pistas quando a situação não é das melhores. Em vez de terem compulsões e de se automutilarem, como ocorre com os cães, os gatos simplesmente reduzem a atividade e dormem mais. Cai, portanto, a freqüência das explorações, das brincadeiras, da alimentação e do uso da caixa de areia. Mudanças como essas exigem cuidado e atenção para serem percebidas.

Espaço mínimo
Alguns estudos demonstram que, quando os gatos se dão relativamente bem, é melhor deixá-los vivendo em grupo do que separados individualmente. Para isso acontecer, entretanto, é preciso que o grupo possa se comportar o mais naturalmente possível. Ou seja, entre os felinos que estão em ambiente confinado, o relacionamento deve acontecer de maneira semelhante à que ocorreria se não houvesse restrição de espaço.

O normal, para um gato que vive em grupo, é permanecer cerca de 50% do tempo fora da visão dos demais e, quando está com os outros gatos, passar a maior parte do tempo afastado deles, de um a três metros. Sempre que possível, portanto, é preciso que o ambiente ofereça condições e espaço para cada gato ficar fora da vista dos demais e a até três metros um do outro.

Com relação ao espaço para exploração e exercício, quanto maior ele for, melhor. Mas um ambiente pequeno pode se tornar interessante e estimulante para o gato. E mais vale um ambiente menor, mas estimulante, do que um espaço maior, porém vazio.

Prateleiras e divisórias
Prateleiras aumentam a área de exploração e possibilitam que os gatos observem o ambiente a partir de um ponto elevado, o que lhes dá maior controle. Em conjunto com divisórias, as prateleiras oferecem a possibilidade de cada gato ficar fora do campo de visão dos demais.

Um estudo científico demonstrou que, freqüentemente, o controle do espaço no piso é feito pelos gatos mais dominantes, enquanto os mais submissos se refugiam nas prateleiras.

Esconderijos
Ter onde se esconder é importante para os gatos. O esconderijo, mesmo quando não usado, deixa o felino mais confiante por saber que, quando for preciso, poderá ter uma rota de fuga e um lugar para se abrigar.

Está comprovado cientificamente que, nos gatos que vivem em ambiente confinado, mas com esconderijo, há uma redução do hormônio cortisol, o qual, em níveis altos, indica estresse e maior sensibilidade para doenças e alergias.

Recursos essenciais
É comum um gato se sentir inibido para beber, comer ou usar a caixa de areia quando outro gato mais dominante o observa. Por isso, convém que a água, a comida e os banheiros sejam disponibilizados em mais de um local, colocados de modo que não se torne possível a um gato controlar todos esses recursos ao mesmo tempo. Assim, se o gato mais dominante estiver deitado na frente de uma caixa de areia, haverá outra caixa de areia para ser usada longe do olhar dele.

Água
Gatos que vivem agrupados em espaços pequenos consomem, geralmente, muito menos água do que deveriam. Procure estimular os seus gatos a beber. Disponibilize fontes de água e coloque-as afastadas das caixas de areia e dos potes de comida.

Comida
Sempre que possível, devemos procurar alimentar os gatos individualmente ou sob supervisão. Controlar a quantidade de comida que cada gato ingere permite evitar obesidade e detectar se algum deles está sem apetite, eventual sinal de doença ou de estresse. Quando não é possível fazer esse tipo de controle, a recomendação é adotar uma rotina rigorosa de verificação do peso de cada gato.

Caixas de areia
O baixo uso das caixas de areia pelos gatos que vivem em casa pode causar problemas de saúde. Para evitá-los, devemos nos esforçar para cada gato poder ir ao “banheiro” com facilidade. Estimula-se o maior uso das caixas de areia posicionando-as longe da comida e da caminha e mantendo-as sempre limpas. O ideal é ter uma caixa a mais do que a quantidade de gatos. Se não for possível, convém ter pelo menos uma caixa para cada dois gatos.

Intolerância entre dois gatos
Confrontos entre gatos de um grupo são comuns. Nessas disputas ocorrem chiados, patadas e unhadas. Um pouco de agressividade deve ser considerada normal. Mas, se um dos gatos ficar aterrorizado demais e viver escondido, deve-se separá-lo ou pedir ajuda a um especialista em comportamento. Algumas vezes, a única saída é formar dois grupos de gatos numa mesma casa, mantidos separados ou em gatis diferentes.

Gato, o pet do futuro?

Photo credit: litratcher / Foter / CC BY
Photo credit: litratcher / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

O número de pessoas que escolhem ter gato é cada vez maior. Já há mais domicílios com gatos do que com cães nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo. No Brasil, existem ainda muitos mais donos de cães do que de gatos, mas a quantidade de donos de gatos está em crescimento. Se a tendência se mantiver, portanto, os donos de gatos serão maioria também no Brasil. Por que isso está acontecendo? Tenho algumas explicações.

Mais independência
As famílias estão cada vez menores, cada vez mais pessoas vivem sozinhas e cada vez mais os pets ficam sozinhos, sem humanos para tomar conta deles e lhes fazer companhia. Como os gatos são menos dependentes que os cães, adaptam-se melhor à solidão e sofrem menos com ela. Por isso, as pessoas ficam com menos peso na consciência ao adotar um gato em vez de um cão. É provável, também, que se sintam mais independentes do bicho, o que diminui o drama de ter que deixá-lo sozinho.

Fácil manutenção
Limpar-se por conta própria e tomar banho se lambendo quase que compulsivamente são características típicas dos gatos. A aspereza da língua deles tem exatamente a função de limpar e retirar os pêlos mais velhos. Não que os gatos não se beneficiem de uma boa escovação e de cuidados com a higiene, mas normalmente são bem mais “autolimpantes” do que os cães, muitos dos quais costumam freqüentemente ser levados para tomar banho e para ser tosados.

Para se aliviar, os gatos procuram instintivamente as caixas de areia. Além disso, enterram seus excrementos, diminuindo assim o cheiro que poderia nos incomodar. Já os cães, além de não enterrarem os dejetos deles, precisam ser ensinados a fazer as necessidades onde queremos.

Embora os gatos também possam demarcar território com urina ou fezes, os cães costumam fazer isso com muito mais freqüência.

Menor gasto
O custo médio para manter um gato costuma ser menor do que o para manter um cão. Primeiramente, pelo porte do gato, que equivale ao dos cães bem pequenos. Isso se reflete na menor despesa com ração, remédios, procedimentos cirúrgicos (consumo de menos anestesia), etc.

Em segundo lugar, como o gato se limpa sozinho, raramente é levado para tomar banho ou para ser tosado, o que proporciona uma economia significativa quando comparado com um cão freqüentador de banho e tosa.

Por último, o gato não necessita tanto de adestrador. Os problemas de comportamento comuns em gatos costumam incomodar menos do que os problemas típicos de cães, como agressividade por dominância, latidos por defesa de território, etc.

“Ideal” para apartamentos pequenos
Não que gatos prefiram viver em espaços pequenos, mas dão a impressão de se adaptarem bem também nos menores apartamentos. Como os gatos aproveitam o espaço vertical além do horizontal, não precisam se limitar a ficar no chão. Ao contrário dos cães, podem também explorar os topos dos armários, as prateleiras, etc. Tenho um cliente que mora num apartamento bem pequeno. Ele comenta que tropeça o tempo todo no cachorro enquanto o gato nem o incomoda. Acredito que essa diferença decorra de o gato ficar em cima de móveis e de outros objetos e de não ser tão “grudento”.

Menos restrições em condomínios
Muitos prédios que aceitam gatos proíbem a permanência de cães. O motivo é que os cães geram mais reclamações de mau cheiro, de latidos excessivos e de ataques nas áreas comuns. Embora gatos possam miar bastante, deixar apartamentos fedidos e até atacar, com eles esses problemas ocorrem com muito menor freqüência.

Boas experiências com gatos de conhecidos
O aumento da quantidade de gatos também pode contribuir para o aceleramento da tendência de expansão. Quando visitamos amigos, parentes e colegas que têm gato, podemos nos influenciar e querer um também, principalmente quando passamos por experiências positivas nos contatos com o felino.

Diminuição do preconceito
Gatos são egoístas! Gatos são traiçoeiros! Gatos dão azar! Gatos são bichos de louco! Gatos são perigosos para bebês! E assim por diante… Não faltam preconceitos com relação aos gatos. Nada como a experiência e o convívio com esses felinos para desmistificar os mitos sobre eles. Quanto mais pessoas tiverem contato próximo com gatos, mais dificilmente os preconceitos continuarão a ser espalhados.

Massageou seu gato hoje?

Photo credit: sethstoll / Foter / CC BY-SA
Photo credit: sethstoll / Foter / CC BY-SA

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Massagear o gato é uma prática que traz benefícios para ele e para o dono

Este é um procedimento que recomendo para todo dono de gato! A massagem presenteia o felino com momentos de prazer e de relaxamento.

Confiança e carinho
Durante a massagem, o gato associa o prazer que está sentindo com a presença, o cheiro e a voz do proprietário. Com o tempo, vai se deixando tocar em mais lugares, à medida que percebe não correr risco. Isso faz o gato confiar cada vez mais no dono e gostar cada vez mais dele.

Estresse e relaxamento
Uma massagem mais profunda é capaz de provocar um relaxamento ainda maior do que um simples carinho superficial. Mas, se o gato não estiver acostumado a esse tipo de interação, o efeito pode ser oposto, estressando-o ainda mais. Em situações tensas, portanto, só lance mão da massagem depois de o gato estar habituado a ser manipulado.

Incômodos e dores
Nossos bichos, infelizmente, não conseguem nos comunicar quando sentem dor. Para detectá-la, precisamos perceber sintomas como parar de comer, impaciência, agitação e, em alguns casos, agressividade.

Com os gatos essa percepção pode ser especialmente difícil, pois, instintivamente, eles disfarçam a dor e o desconforto para não mostrar fraqueza. O motivo é que ficam em situação de risco na natureza se os adversários perceberem que não estão bem ou que se encontram feridos.

Uma das técnicas dos médicos-veterinários para descobrir se o gato está sentindo dor é apalpá-lo. Ao ser pressionado no local dolorido, o gato tem reações que permitem saber da existência de problema e em qual região do corpo isso ocorre.

A limitação dessa técnica é não funcionar bem quando o gato está assustado, exatamente o que se espera que aconteça quando ele é apalpado por um desconhecido, fora de seu território.

Por meio de massagens diárias, podemos acostumar o gato à manipulação. Assim, será mais fácil submetê-lo a futuros exames. O proprietário conhecerá profundamente o corpo do gato, as reações típicas dele e os pontos mais sensíveis. Com essas informações, será possível dar uma importante ajuda ao médico-veterinário. O dono terá condições de fazer uma descrição precisa dos locais do corpo que, quando pressionados, fazem o gato reagir com sinais de dor. Também é esperado que o gato aceite com menos tensão o exame clínico do veterinário, pois estará acostumado a ser apalpado.

Como fazer a massagem
Existem várias técnicas para massagear gatos, descritas em livros, sites e DVDs, algumas, inclusive, patenteadas. Portanto, para quem quiser ir mais a fundo, há bastante conteúdo disponível por aí.

Mas não é preciso ser um expert para começar a usufruir os diversos benefícios da massagem animal. Seguindo algumas dicas gerais, você poderá praticar hoje mesmo em seu gato.

Tipo de massagem
Ao fazer carinho no gato, coloque um pouco mais de pressão nas mãos. Tente sentir o corpo do felino por baixo da pele – músculos, ossos e articulações. Concentre-se como se quisesse descobrir cada pedacinho dele, sem deixar despercebida qualquer parte do corpo.

Tempo, local e posição
É importante que o momento da massagem seja prazeroso, tanto para você quanto para o gato. Respeite, portanto, os limites dele. Aos poucos, ele aprenderá a relaxar e a confiar cada vez mais em você ao ser massageado.

Forçar o gato a aceitar uma massagem mais prolongada do que está disposto a aceitar ou querer que ele continue deitado contra a vontade costumam ser iniciativas contraproducentes. Não há problema se, no início, for preciso dividir a massagem em várias sessões, até conseguir que o gato seja massageado por inteiro.

Regiões sensíveis ou doloridas
Nunca inicie a massagem em uma parte do corpo que possa estar dolorida. Tome também muito cuidado ao manipular uma região sensível. Não é intuito da massagem causar dor, e sim prazer e relaxamento.

Se perceber que o gato está se sentindo incomodado ou se houver possibilidade de machucá-lo, não exagere na pressão. Procure conhecer até que limite ele a aceita tranquilamente. No futuro, uma mudança nesse limite poderá indicar um problema de saúde.

Quando começam a receber carinho ou a ser massageados, os gatos não costumam permitir que a região do abdômen seja tocada. Nesse caso, evita-se massagear a barriga do felino até que ele fique totalmente relaxado ao ser manipulado. Muitos donos só conseguem fazer isso depois de massagear o gato por meses!

Seu gato pode gostar mais de você

Photo credit: mamaloco / Foter / CC BY-ND
Photo credit: mamaloco / Foter / CC BY-ND

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

Muitas pessoas me perguntam o que fazer para seus gatos gostarem ainda mais delas. Normalmente apaixonadas pelos felinos que têm, querem reforçar o sentimento recíproco

Afetividade
Diversas iniciativas podem nos tornar mais importantes para nossos gatos. Devemos, porém, levar em conta que cada espécie e cada indivíduo possuem uma maneira diferente de amar. Humanos e cachorros são, na média, muito mais carentes de atenção e de carinho que gatos. Em outras palavras, não devemos esperar de um gato a mesma carência de um cão.

Maior dependência
As dicas a seguir farão o seu gato se ligar mais a você. Mas ele poderá também se tornar mais dependente, com mais chance de sentir a sua falta, quando você não estiver. Antes de pôr em prática as estratégias para se sentir mais amado por ele, pense nisso, para não comprometer o bem-estar do seu animal de estimação.

Tendência genética
Gatos já nascem carentes. Determinadas raças e linhagens são mais dependentes, carentes e carinhosas que outras. Por isso, espere filhotes mais afetivos de pais também mais afetivos.

No útero da mãe
A facilidade de apego ao ser humano começa a se formar no útero materno. Durante a gravidez, hormônios produzidos pela mãe influenciam a formação do cérebro do filhote e o quão propício a desenvolver vínculos afetivos ele será. De maneira geral, filhotes cujas mães ficaram muito estressadas durante a gravidez tendem a ser mais medroso e a gostar menos de carinho.

Idade crítica
O que acontece com o filhote até os 2 meses de idade tem uma enorme influência no comportamento futuro do gato. Por isso, procure acostumá-lo desde cedo à presença, cheiros e barulhos de seres humanos. Também está comprovado que massagear o filhote por alguns minutos aumenta a carência e a tolerância a carinho humano. Quanto mais sociabilizado for o gato, maiores serão as chances de ele demonstrar afeto em público, já que não ficará retraído ou escondido sempre que uma visita chegar!

Represente coisas boas
Gatos nos associam com tudo que sentem ou que percebem quando estamos perto deles. Se nos associarem com coisas boas, gostarão cada vez mais de nós. Portanto, o truque é conhecer quais são as coisas que agradam o seu gato e associá-las a você da melhor forma possível.

Alimentos e petiscos
Essas são ótimas ferramentas para uma aproximação afetiva com o seu felino. Para ele associar você a comidas gostosas, não basta que o veja completar o potinho com mais comida. A não ser que seja daqueles gatos que só querem comer quando a ração acaba de sair do saco…

De qualquer forma, é importante que o felino esteja com apetite quando algo gostoso é ofertado a ele. Por isso, receber uma quantidade controlada de alimento o tornará mais apegado a quem o serve do que ter comida disponível o dia todo.

É impressionante como petiscos dados na hora certa podem melhorar – e muito – um relacionamento. Tente recompensar o seu gato com petiscos sempre que ele atender a um chamado seu, como quando você chega em casa, e até mesmo quando ele vier de maneira completamente espontânea.

Diversão
Brincadeiras, principalmente de caça, são bastante prazerosas para o gato. Sempre que possível, brinque com ele. Assim, você ficará associado também a entretenimento e diversão. Aprenda a mover objetos da maneira que o seu gato mais gosta e descubra brinquedos que ele adore.

Conforto e segurança
Deixe o seu cheiro nos lugares onde o gato gosta de relaxar. Passe simplesmente a mão naquele local ou esfregue-se num pano e ponha-o perto dali.

Procure nunca pegar o gato enquanto ele relaxa nem tente tirá-lo de onde se escondeu, principalmente se estiver assustado com alguma visita. Nesses casos, tente atraí-lo oferecendo algo, mas sem insistir demais.

Ficar junto
Quanto mais tempo você passar com o gato, melhor. Isso inclui deixá-lo dormir com você. O chato é não poder se movimentar muito na cama, pois os felinos costumam reclamar ou ir embora… Normalmente, quando durmo com gatos tento me mexer o mínimo possível, para não incomodá-los.

Ensine seu gato a passear na rua de coleira

Photo credit: juhansonin / Foter / CC BY
Photo credit: juhansonin / Foter / CC BY

Por mais estranho que pareça, é possível levar o gato para dar uma volta e ele tirar um bom proveito do passeio

Passear com o gato é bem diferente do que passear com o cão. Exige, portanto, procedimentos específicos. E o resultado pode ser um programa prazeroso e seguro para o felino.

Vantagens para o gato
Gatos são curiosos e precisam ser estimulados. A situação torna-se crítica quando ficam restritos a um espaço pequeno, quase sem atividade. Um experimento inglês constatou que gatos em liberdade chegam a andar mais de dois quilômetros por noite e caçam dezenas de pequenos animais, como insetos, répteis e ratos. Os passeios podem devolver aos gatos um pouco de liberdade, sem haver risco de serem atropelados, envenenados ou machucados por cães de vizinhos.

Nem todo gato curte
Exemplares mais tímidos e medrosos poderão nunca curtir um passeio, apavorados com o ambiente aberto e com o qual não têm ainda intimidade. É importante você conhecer bem o seu gato. Ao tentar passear com ele, fique atento. Observe se os sinais que ele dá são de bem-estar ou de estresse.

Passeio apreciado
Gatos são obcecados por controle do território. Só costumam relaxar depois de conhecer detalhadamente o ambiente onde estão. Gostam também de ter um lugar no qual confiam, para se esconderem caso apareça algo que, na concepção deles, seja muito perigoso. Por esses motivos, sugiro levar o gato sempre aos mesmos lugares. Deixe a caixinha de transporte por perto. Assim, ele poderá voltar ao “esconderijo” sempre que desejar.

Experiência com minhas gatas
Apesar de o passeio com gato ser bem limitado, é muito gratificante vê-lo explorando o ambiente e interagindo. Eu tinha duas Siamesas que adoravam passear em um praça. Sempre as levava para o mesmo canto, ajeitava a caixinha de transporte e as deixava à vontade, presas com guia. Elas subiam num arbusto, caçavam insetos e brincavam. Iam correndo para a caixa de transporte, como se fosse um treino para emergência! Quando passava um cão, a mais nova ficava mais acuada ou ia para a caixinha, enquanto a mais velha fazia questão de interagir com ele. Claro que eu só deixava esse contato acontecer quando tinha certeza que a aproximação era amistosa.

Pré-requisitos
Antes de levar o gato para passear, acostume-o a usar peitoral e guia dentro de casa ou num ambiente ao qual esteja acostumado. Procure deixá-lo com o peitoral enquanto come ou brinca. Aumente aos poucos o tempo de uso do acessório e procure manter o felino sempre sob supervisão, nessas ocasiões. Deixe o peitoral justo, de modo que o gato não consiga tirá-lo – uma escapada pode colocar em risco a vida dele. Peitorais com uma coleira em torno do pescoço aumentam muito a segurança.

O gato deverá também estar curtindo a caixinha de transporte, que será o porto seguro dele. Para estimulá-lo a entrar nela, coloque dentro petiscos gostosos. Deixe-a em lugares nos quais ele goste de ficar.

Primeiros passeios
Ao marinheiro de primeira viagem, sugiro levar o gato para um ambiente fechado e totalmente seguro. Por exemplo, ao apartamento de um amigo sem outros animais de estimação. Mesmo que seja possível deixar o gato sem peitoral e guia, não o faça. Aproveite essa segurança extra para verificar se está tudo em ordem. Leve sempre o gato na caixinha de transporte. Nela, ele se sentirá mais seguro e diminuirão as chances de escapar e machucar quem tentar contê-lo. Ponha a caixinha num canto e abra a portinha. Não force o gato a sair. Se desejar, estimule-o com um petisco, brinquedo ou fale carinhosamente com ele. E respeite-o se ele não quiser sair.

Novos lugares
Sempre que levar o gato a um novo ambiente, aja como se fosse o primeiro passeio. Enquanto ele preferir ficar dentro da caixinha, estará se acostumando com os cheiros, barulhos e a movimentação do lugar.

Avaliando estresse e prazer
Procure avaliar o comportamento do seu gato durante o passeio. Normalmente, quando ele estiver estressado não se interessará por alimento, água, carinho ou brincadeiras. Também evitará fazer as necessidades. Se ele estiver interessado em petiscos, brincando, gostando de receber carinho, etc., é quase uma garantia de não estar estressado – provavelmente o passeio está fazendo bem para ele. Já o oposto não é verdadeiro. Diante da variedade de estímulos oferecidos por um ambiente diferente, o gato pode preferir explorar as novidades a brincar, comer ou receber carinho. Na dúvida, consulte um especialista em comportamento anima para ajudar na avaliação.

Por que gato é assim?

Photo credit: MSVG / Foter / CC BY
Photo credit: MSVG / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Para entender diversos comportamentos do gato, devemos nos remeter a seus ancestrais selvagens ou semi-selvagens

O comportamento do gato de hoje resulta de milhares de anos de seleção natural e de algumas décadas de seleção artificial, conduzida pelo homem. Na prática, o ser humano mudou pouco a aparência do gato e amenizou nele alguns comportamentos dos parentes selvagens.

Raças
Podemos notar o trabalho de seleção do homem pela observação das numerosas raças de gatos existentes. Praticamente todas resultaram de seleção artificial, embora algumas tenham sido obtidas de forma não intencional, enquanto outras vieram do cruzamento de gatos mais domésticos com selvagens.
Apesar de haver bastante diferença entre algumas raças de gatos, o gato doméstico foi muito menos alterado pelo ser humano do que o cão, mantendo-se, de certa maneira, mais selvagem.

Selvagem x doméstico
Os gatos selvagens, de modo geral, são mais cautelosos (assustados), mais agressivos com outros gatos e pessoas, caçam mais e brincam menos do que seus parentes domésticos, mesmo quando criados em condições semelhantes.

Essas diferenças foram selecionadas por nós, tanto conscientemente quanto inconscientemente. Por exemplo, muitas pessoas que alimentam gatos em sítios e fazendas, sem querer privilegiam os exemplares mais corajosos, aqueles que chegam mais perto. Coragem essa que poderia resultar na morte do gato em uma situação mais selvagem.

À medida que o ser humano garante a sobrevivência dos gatos, qualquer que seja o comportamento deles, mais comportamentos “anormais” surgirão e poderão ser selecionados. Um gato que nasce sem instinto de caça morreria de fome na natureza. Mas, numa família, pode ser reproduzido exatamente por não atacar os passarinhos da casa.

Embora eu ainda não tenha visto gatos sem instinto de caça, alguns deles caçam muito pouco ou muito mal, mas sobrevivem numa boa, comendo ração fornecida por seus donos. Apesar de nem todo gato se comportar exatamente como seus parentes selvagens, muito do que os felinos domésticos fazem é, ainda, resultado dos milhares de anos de seleção natural.

Água corrente ou em grandes superfícies
Como os gatos são animais territoriais, se sempre eles tomarem água em um mesmo local, poderão se intoxicar facilmente caso a fonte esteja contaminada – intoxicações podem resultar de efeito cumulativo. Portanto, o comportamento de procurar beber água em locais diferentes e optar por água corrente foi selecionado nos gatos. Eles também gostam de beber água espalhada em grandes superfícies. Provavelmente, porque, com uma área maior de evaporação, fica mais fácil perceber pelo olfato qualquer contaminação.

Obsessão por limpeza
Para caçar, na maioria das vezes os gatos ficam imóveis em local estratégico e esperam o momento certo para surpreender a presa.

Um gato com pelos que caem e cheiram mal dificilmente não será percebido pelos ratos, e a área onde o felino está será evitada. Ratos têm medo instintivo de cheiro de gato – conseguir detectar um felino nas proximidades é vital para eles. Até ratos de laboratório ficam mais cautelosos quando se joga um pano com cheiro de gato na gaiola deles.

Esfregar-se em objetos fétidos
Parece contraditório um animal obcecado por limpeza se esfregar em carniça. Gatos se limpam para não serem percebidos por suas presas. Mas um cheiro muito mais forte pode disfarçar seu próprio cheiro, o que acaba também funcionado como estratégia.

Maior atividade noturna
Muitos gatos parecem realmente acordar durante a noite. Perambulam pela casa, brincam, miam, etc. Gatos que naturalmente ficam mais estimulados à noite têm maior chance de conseguir caçar ratos. É por isso também que os gatos possuem uma ótima visão noturna.

Esfregar-se em pessoas e coisas
Para aumentar a chance de sobreviver, é importante que o gato consiga reconhecer facilmente o que é perigoso e o que não é. Qualquer novidade em seu território precisa ser evitada ou investigada cuidadosamente. Ao investigar o objeto ou interagir com o animal ou pessoa, é vantajoso para o gato deixar sua assinatura, ou seja, seu cheiro, para facilitar o futuro reconhecimento.

Para o gato, os objetos e as pessoas que estão com o cheiro dele já foram verificadas e não oferecem tanto perigo. Infelizmente para os donos dele, muitas vezes o gato faz xixi nos objetos novos, em vez de se esfregar neles. Por isso, fique feliz quando o seu gato apenas se esfrega em você ou em seus objetos, em vez de fazer outra coisa!

Gatos e crianças

Photo credit: mamaloco / Foter / CC BY-ND
Photo credit: mamaloco / Foter / CC BY-ND

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

O gato está cercado de mitos, de adoração e de ódio. Poucos animais provocam reações tão fortes e marcantes nos humanos quanto ele. Infelizmente, esses mitos acabam muitas vezes por prejudicar o animal. Procuro desmistificar aqui alguns relacionados com crianças e dou dicas para um bom convívio entre elas e o gato

Há diversos mitos e informações erradas disseminadas na população com relação a crianças e gatos. Isso acontece em diferentes partes do planeta, inclusive onde a população de gatos supera a de cães, como é o caso dos Estados Unidos e da Inglaterra.

Mito: engravidou? Livre-se do gato
É comum que futuras mães em início de gravidez sejam orientadas pelo médico a afastar-se de seus gatos. É claro que muitas delas acabam abandonando os felinos com medo de sofrer aborto. Mas até que ponto a informação que lhes é passada está correta? Pesquisei bastante, conversei com estudiosos e especialistas sobre os riscos de o gato provocar aborto. Confirmei que, realmente, vários médicos pedem que as grávidas se livrem de seus gatos sob alegação de que eles podem transmitir doenças, inclusive toxoplasmose, que é abortiva. Imagino que o mito sobre gatos causarem aborto tenha surgido daí. Mas um gato só pode contaminar a gestante se estiver contaminado. E, para ela abortar, é preciso que pegue a doença. Não irei entrar em detalhes sobre as possibilidades de isso acontecer, mesmo porque essa não é a minha especialidade. Mas informe-se melhor sobre o assunto antes de pensar em se livrar do gato.

O fato provável é que o gato de casa não esteja contaminado com toxoplasmose. Isso é constatável por meio de teste. Feita a constatação, há diversas maneiras de evitar que ele pegue a doença. Mesmo se o gato tiver toxoplasmose, existem cuidados para evitar que transmita o mal. Muitos médicos bem conceituados e informados, em vez de recomendar à gestante que se livre do gato, a orientam a tomar alguns cuidados e, dependendo do caso, a fazer alguns testes. Os pesquisadores dizem também que as principais vias de transmissão da toxoplasmose são a carne crua, a terra e os alimentos mal lavados e não os gatos.

Mito: gato sufoca o bebê por ciúmes
Um mito bastante conhecido na Inglaterra e nos Estados Unidos, listado em alguns sites americanos e ingleses que abordam mitos, diz que os gatos se aproximam dos bebês e chupam o ar do pulmão deles pela boca. Acredita-se que a origem dessa crença venha do fato de alguns gatos, ao sentirem o cheiro de leite na boca do neném, irem lá investigar. Embora não seja aconselhável que gatos lambam o rosto do neném, não há o menor sentido nesse mito. Gatos nunca chupam o ar do pulmão de alguém!

Mito: gato não gosta de criança e a ataca
Gatos podem adorar crianças e há maneiras de estimular isso. Mas mesmo que um gato não goste de criança, seja por ciúmes, seja por medo, não irá até o berço dela na calada da noite para atacá-la! Acidentes geralmente acontecem quando o gato é agarrado à força ou quando a criança não o deixa em paz. Na tentativa de se livrar, ele acaba arranhando. São situações que tendem a acontecer depois de o bebê ter começado a engatinhar e a procurar interação com o gato.

De qualquer maneira, toda interação do gato com criança muito nova deve ser supervisionada, para evitar acidente. Procure também proporcionar diversas possibilidades de escape para o gato obter sossego sempre que desejar.

Ensine a criança a chamar o gato em vez de ir atrás dele. É uma atitude que, por respeitar a natureza desse animal, evita que ele tenha medo de ser agarrado à força e o estimula a gostar cada vez mais da criança. Permita que ela dê pedacinhos de petisco para motivar o gato a vir quando chamado e para ele ter mais um motivo para gostar dela.

Chegada do bebê
Alguns gatos sofrem com mudanças drásticas de rotina, de espaço e com a invasão de território por desconhecidos. Isso tudo pode acontecer quando uma família recebe um bebê em casa. Para evitar estressar demais o felino, procure fazer mudanças aos poucos, de modo que ele vá se adaptando e perceba que não há problemas ou perigo. Se pretende proibir o gato de entrar no quarto do bebê, comece a acostumá-lo a isso semanas antes da chegada do novo membro da família.

Interações positivas
O gato que recebe carinho, atenção e petisco, quando o bebê está por perto, passa a adorar essa proximidade. São agrados que podem ser feitos por qualquer pessoa que esteja próxima aos dois.

Como aproximar gatos que brigam

Photo credit: Paul Anglada / Foter / CC BY-NC-SA
Photo credit: Paul Anglada / Foter / CC BY-NC-SA

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Princípio da amizade
A lógica do comportamento dos gatos é simples: para serem amigos, um precisa proporcionar vantagens ao outro. Essas vantagens podem ser em forma de lambidas, de alimentos, de carinhos, de aconchego para dormir e até de brincadeiras. Mas há um problema: o gato vê instintivamente seus similares como possíveis fontes de disputas nas áreas de alimentação, sexo e território. Por esse motivo, quem quer aproximar dois gatos precisa ter o objetivo de transformar um possível “competidor” em um “amigo”.

Princípio da tolerância
É bastante comum os gatos simplesmente se tolerarem, sem nunca ficarem “amigos”. Para isso acontecer, basta que um não dê sustos no outro, nem o deixe temeroso de ser expulso facilmente do território. Nesse tipo de relacionamento acontecem pequenos desentendimentos, como quando um chega muito perto do outro e recebe algumas patadas, mas sem perseguições constantes, daquelas que levam um felino a se esconder do outro por grande parte do tempo.

Técnicas de aproximação
Há dicas específicas para reaproximar gatos que tiveram de ser separados, seja por uma briga séria ou apenas por desentendimento.

Durante o trabalho de aproximação, é preciso fazer o gato agressor perceber que não tem poder para afastar o “rival” de seu território e o outro gato compreender que não precisa fugir para não ser atacado. A melhor maneira de fazer isso e de não prejudicar o sucesso da aproximação, evitando sustos e outras sensações desagradáveis, é colocar o gato mais medroso numa caixa de transporte ou numa gaiola à qual esteja acostumado. Com esse cuidado, protegemos o felino menos agressivo e menos corajoso de ser assustado ou afastado por possíveis ataques do outro gato. Impedimos, também, que o gato atacado fuja, o que seria visto como uma “recompensa” pelo agressor e motivaria repetições futuras do gesto.

É preciso também fazer o gato agressor perceber que não deve chegar muito perto da caixa de transporte ou da gaiola. Se ele se aproximar demais ou mostrar clara intenção de atacar, será punido com um spray de água ou de ar comprimido direcionado ao seu focinho (costumo utilizar bombinha de CO2, de encher pneu de bicicleta).

Proporcionar bons momentos aos gatos quando estão próximos é fundamental para que os associem à proximidade entre eles. Alimentá-los nessas ocasiões é uma ótima estratégia. Mas é comum que em situações de estresse os gatos percam um pouco de apetite. Por isso, convém que, ao servi-los, estejam sem comer há algumas horas. Ou, então, podem-se dar petiscos que considerem maravilhosos e que não rejeitem por falta de apetite. Caso aceitem comer, deverão receber também carinho e brinquedos.

Duração e freqüência do exercício
As tentativas de aproximação poderão ser feitas diversas vezes por dia ou apenas algumas vezes por semana, dependendo do tempo disponível. O importante é que toda vez que os gatos se encontrem recebam coisas gostosas e sejam totalmente impedidos de brigar ou de um afugentar o outro. É preciso, ainda, manter-se atento para não estressá-los demais. Assim, em pouco tempo, as aproximações poderão se tornar um evento agradável para eles e deixá-los à espera do próximo encontro.

Finalmente soltos juntos
Só devemos deixar dois gatos soltos juntos quando tivermos segurança de que não brigarão. Isso acontecerá quando conseguirmos que eles se alimentem um perto do outro, sem demonstrar estresse ou agressividade, estando um do lado de dentro da caixa de transporte ou gaiola e o outro, do lado de fora. Ao soltá-los, fique preparado para inibir prontamente qualquer confronto provocado pelo “agressor”. Só deixe os dois sozinhos depois de terem permanecido soltos juntos, várias vezes, sem brigas nem agressões.

Modere suas expectativas
O procedimento de aproximação gradativa é o mais seguro e eficiente que conheço, mas pode levar meses para chegar ao fim, dependendo dos gatos envolvidos. Em alguns casos, o equilíbrio das relações precisará de uma contínua influência humana para a hostilidade não voltar com o tempo. E se a aproximação não evoluir, criam-se dois ou mais grupos de gatos que se tolerem naturalmente ou que sejam amigos.

Linguagem dos gatos

Photo credit: austinpaulwhite / Foter / CC BY
Photo credit: austinpaulwhite / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Os gatos têm uma linguagem própria, com propósitos que vão desde atrair parceiros sexuais até afugentar outros gatos. Entendê-la é importante para uma melhor compreensão do comportamento felino. Grande parte desses sinais fica no ambiente. São cheiros e arranhaduras que outros gatos podem “ler” sem ter que encontrar o gato que os deixou. Alguns autores comparam esses sinais com bilhetes que pessoas trocam entre si, sem precisar se encontrar.

Linguagem aprendida

Os gatos aprendem a se comunicar com seus donos e demais animais da casa. Podem desenvolver sinais e comportamentos para mostrar o que desejam. É o caso do gato que mia e corre para perto do armário onde estão os petiscos ou que rodeia o prato de ração quando quer comer. Esse tipo de comunicação é aprendido e se desenvolve muito mais quando existe grande interação com as pessoas da casa, principalmente se forem bastante atentas ao gato.

Linguagem “instintiva”

Diversos comportamentos comunicativos não são aprendidos. Independem de qualquer condicionamento ou da observação de outros gatos. Mas nem todos são exibidos desde filhote. Alguns só surgem depois de determinada idade. Outros, na falta de estímulo, podem nunca se manifestar.

No caso da linguagem “instintiva”, é possível criar uma espécie de dicionário para entender o que o gato diz, ao contrário do que acontece com a linguagem aprendida, que pode se desenvolver de modo diferente em cada gato. Possivelmente, só quem convive com o felino saberá exatamente o que ele quer comunicar.

Dicionário felino

À medida que os estudos de etologia felina se aprofundam, mais comportamentos comunicativos são decifrados e adicionados ao “dicionário felino”. Descrevo alguns:

Mordida – Gatos podem morder para demonstrar afeto, agredir ou brincar. A mordida de afeto costuma ser a mais delicada. Ocorre enquanto o gato recebe carinho ou sente prazer com a companhia humana ou felina. Já a mordida por brincadeira é um treino para briga ou caça, mas sua intensidade sinaliza que a intenção não é machucar. A força dessa mordida muitas vezes precisa ser controlada, já que alguns gatos acabam por morder forte demais outros gatos ou humanos.

Comunicação vocal – Os gatos emitem dezenas de sons com diferentes significados. Existem os de “agradecimento”, de chamado, de frustração, de ansiedade, de aviso para não se aproximar, etc. Com esses sons, uma gata pode avisar seus filhotes para se esconderem ou se aproximarem dela, evitando assim ataques de outros animais. Os sons também podem indicar prazer, como acontece quando o gato ronrona ao mamar ou ao receber carinho. Dependendo da vocalização, o gato consegue evitar que outros gatos ou animais se aproximem demais, como ocorre no caso do “rosnado”.

Comunicação postural – Pelas variações de postura, podemos interpretar as emoções e intenções do gato. Esfregar a cabeça em outro gato ou pessoa demonstra afeto, além de ser uma demarcação com cheiros específicos presentes na cabeça do felino. Quando ele se arrepia, parece maior do que realmente é, comportamento adotado para se defender de um cão, por exemplo. Abaixar a cabeça e ficar com as patas traseiras bem apoiadas, prontas para saltar, pode sinalizar o início de uma brincadeira, já que essa posição antecede um bote. Durante uma briga ou uma brincadeira agressiva, é comum o gato dobrar as orelhas, rente à cabeça. Isso impede que sejam machucadas pelo adversário ou presa.

Comunicação por demarcação – O gato tem glândulas nas regiões da boca, das orelhas e do ânus que produzem odores específicos. Com o uso desses cheiros, ele consegue deixar sua “assinatura” nas pessoas, animais e objetos. Os odores têm a capacidade de mudar o estado psicológico de outros gatos. Tanto que alguns desses odores são produzidos e comercializados com o intuito de acalmar gatos estressados e evitar que eles demarquem móveis e outros objetos com urina. Nessa demarcação, a urina é espirrada para trás, normalmente em superfícies verticais. Os machos não castrados são os que mais demarcam o ambiente dessa maneira, mas as fêmeas também o fazem. Existe também a demarcação com fezes. Alguns gatos deixam as fezes descobertas em pontos estratégicos. Avisam, assim, a “concorrência” de que estão na área e que a região deve ser evitada.

Gatos também podem deixar demarcações visuais. Por meio de arranhaduras, demarcam objetos e, ao mesmo tempo, removem de suas garras pedaços soltos de unha e praticam uma espécie de alongamento.

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