Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.
Só para lembrar: os cachorros geralmente mordem quando se sentem ameaçados ou quando estão com medo; estão protegendo seu território, comida, brinquedos ou filhotes; algo se move rápido e atiça seu instinto predatório; estão irritados ou com dor ou sua posição hierárquica está sendo ameaçada. Várias atitudes podem evitar o ataque, como fazer a aproximação aos poucos, ao lado do dono, e nunca aproximar o rosto logo no primeiro contato com o animal. Mas o que fazer, então, em situações em que o animal não parece disposto a desistir do ataque?
Como muitas pessoas já devem ter percebido, alguns cães só atacam as visitas quando elas estão indo embora. Portanto, cuidado com os abraços de despedida, beijinhos e tchaus. Obviamente, a melhor solução nesses casos é pedir para o proprietário que prenda o animal ou avise-o de que você não faz a menor questão de se despedir… Caso o cão já tenha começado a latir e esteja ameaçando morder, finja que você mudou de idéia e vai ficar mais algum tempinho. Nesses casos, o melhor é prender o cão.
Mas, o que fazer quando o ataque parece inevitável? Em muitos casos, a única solução é rezar. Na maioria das vezes, no entanto, é possível tentar alguma coisa. Cães pequenos geralmente podem ficar entretidos por alguns segundos mordendo o sapato ou o tênis. Sem movimentos ameaçadores, proteja-se levantando o pé e impedindo-o de chegar perto de você. Muitos cães ficam mordendo a sola do sapato e o tênis até desistirem do ataque ou o proprietário conseguir evitá-lo. Não grite e nem dê bronca no cão. Cães maiores podem ser “distraídos” com bolsas ou jaquetas.
Um consolo para essa hora difícil: muitos cães cessam o ataque após uma ou mais mordidas, desde que a vítima não grite ou não esperneie. Caso você caia no chão, procure curvar-se formando uma bola com seu corpo e proteja o rosto e a nuca. Gritar e fazer movimentos bruscos costuma piorar a situação. Só saia correndo se você tiver certeza de que vai conseguir escapar.
É tudo instinto
Lembre-se que um cão, mesmo pequeno, é muito mais rápido do que uma pessoa. O simples fato de correr perto de um cão já pode despertar nele instintos agressivos ligados à caça e proteção. Sempre que possível, procure se afastar do cão ou do que ele estiver tentando proteger de maneira calma e o menos ameaçadora possível. Não vire as costas para o animal, muitos cães esperam exatamente esse momento para atacar.
Nunca devemos confrontar o cão para evitar um ataque. Confrontar é criar uma situação muito arriscada, pois existe sempre uma possibilidade do cão “pagar para ver”. Pessoas que conhecem bastante sobre comportamento animal têm maiores condições de prever se o cão vai desistir de um ataque quando ameaçado. Nesses casos, a pessoa pega um objeto qualquer (uma vassoura, um pedaço de pau ou uma pedra), olha no olho do cão e finge que vai atacar, chegando mesmo a correr atrás do cão. Esse procedimento é realmente muito arriscado e pode comprometer o comportamento do cachorro, pois ele passa a desconfiar ainda mais de determinadas atitudes. O mesmo cão que pode “afinar” em um território fora de sua propriedade, por exemplo, pode atacar ferozmente seu perseguidor assim que ele pisar em seu território.
Nenhuma dessas explicações podem ou devem ser utilizadas para justificar a ocorrência de um problema desse tipo ou tirar a culpa do proprietário do cão. O dono deve ser integralmente responsável pelo comportamento de seu animal e deve prevenir e evitar qualquer ataque. Muitos ataques acontecem pela negligência do proprietário, falta de socialização ou até mesmo por ausência de adestramento adequado.