Qual é a melhor idade para adestrar um filhote?

Photo credit: pkhamre / Foter / CC BY-SA
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Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Ao contrário do que se divulga, o filhote pode e deve ser treinado. Conheça as vantagens de adestrar o cão enquanto ainda é novinho

Ele absorve tudo
Esperar 6 meses para começar a ensinar um filhote equivale a negar educação para uma criança até ela se tornar adolescente. Com essa espera se perde o melhor e mais importante período do aprendizado. Apesar de os cães poderem aprender durante a vida toda, é nos primeiros meses de vida que o cérebro deles está mais preparado para se desenvolver e absorver informações.

O fato é que os cães estão sempre aprendendo conosco e com o ambiente, independentemente de termos ou não consciência disso. Por esse motivo, principalmente quando são filhotes, devemos prestar mais atenção no que estamos ensinando ou deixando de ensinar. Nada como uma boa educação na infância para serem evitados problemas na vida adulta. Não espere, portanto, o cão crescer para começar a lhe ensinar bom comportamento.

Mais guloso 
O filhote costuma ser mais guloso que o adulto, o que facilita o adestramento por reforço positivo, ou seja, associar a obediência com coisas boas. Podemos aproveitar a própria ração do filhote para recompensar os comportamentos desejados e a obediência a comandos.

Se o interesse pela ração for insuficiente, petiscos serão infalíveis. Mas tome cuidado para não dar petiscos em demasia e, com isso, desbalancear a ração.

Ter má coordenação motora ajuda
Por mais esquisito que possa parecer, a falta de coordenação motora do filhote facilita muito o aprendizado de comandos básicos, como o “senta” e o “deita”. O filhote tem muita dificuldade de “dar ré” olhando para cima.

Por isso, para ensinar o “senta”, deixamos que ele fique em pé e levantamos o petisco acima da cabeça dele, movimentando-o para trás. O cãozinho cai sentado e já pode ser recompensado. A falta de coordenação motora também ajuda a induzir o filhote a aprender o “deita”.

Nasce sabendo dar a pata
É facílimo ensinar o filhote a dar a pata, outro comando considerado básico. Ele já dá naturalmente a pata quando está querendo comer o petisco na nossa mão, mas não consegue. Esse é um comportamento instintivo, normalmente recompensado enquanto o cão mama. O leite sai com mais força das tetas da mãe quando são empurradas com a pata. É um desperdício perder a possibilidade de associar esse comportamento a um comando, recompensando-o!

Em geral, bastam alguns minutos para ensinar o comando a um filhote, enquanto que, com um cão adulto, esse mesmo ensinamento pode levar horas.

Liderança mais aceita
Embora o filhote possa ser mais ou menos dominante, raramente deixa de nos obedecer em troca de algum brinquedo ou comida. Muitos cães adultos recusam a recompensa para não demonstrar submissão ou para testar nossa liderança. Cães que aprendem cedo a obedecer e a respeitar limites dificilmente se tornam agressivos com seus donos quando contrariados, ao contrário de cães dominantes que não tiveram uma boa educação.

Durante a adolescência, os cães testam com mais freqüência e intensidade a nossa liderança. A melhor maneira de lidar com isso é mostrar firmeza nos limites impostos e recompensar a obediência a comandos, o que fica mais fácil quando se podem usar limites e comandos já ensinados na infância.

Agressividade não perigosa
O filhote já pode demonstrar agressividade ao se sentir contrariado ou quando quer defender a posse de algum objeto ou alimento (agressividade possessiva). Embora um filhote possa morder, raramente representa perigo real para o ser humano. Com isso, quem tem filhote sente menos medo de impor limites com firmeza do que quem tem exemplar adulto, obtendo melhores resultados na educação do cão.

É comum os filhotes testarem continuamente os limites, demonstrando agressividade. Mas também é preciso saber que quem não sabe lidar com essas situações corretamente pode incentivar e recompensar tais reações. Conforme o cão vai crescendo, suas ameaças vão ficando cada vez mais amedrontadoras e perigosas, diminuindo bastante a chance de os donos conseguirem controlá-las sem a supervisão de um profissional de comportamento canino.

Donos mais empolgados
Infelizmente, a empolgação e a dedicação dos donos em relação aos filhotes vão diminuindo com o tempo. Por isso, a criação de um bom vínculo entre as pessoas da casa e o filhote é a melhor maneira de garantir uma vida boa para ele depois de se tornar adulto.

O cão educado e que sabe obedecer a comandos participa mais intensamente da matilha humana dele e aprende a se comunicar melhor com as pessoas, o que o torna mais querido por todos.

Você deixa seu cão de castigo?

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Photo credit: derekGavey / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Ao educar um cão, existem muitas maneiras de estabelecer limites e de deixar claro quais comportamentos não são aceitáveis. Mas algumas punições, como trancá-lo sozinho, devem ser evitadas. A seguir justifico a minha posição e ofereço alternativas mais eficientes e seguras do ponto de vista psicológico.

Não associar isolamento com punição Cães são extremamente sociais. Por isso, não gostam de ficar sozinhos. Até aí, tudo bem. Se gostassem, deixá-los de castigo nem seria punição. O problema é que o cão associa ficar sozinho com bronca e toda vez que tiver que ficar sozinho, se sentirá ainda pior.

Sempre recomendo fazer o oposto: associar o fato de ficar sozinho com coisas boas. Dessa maneira, nossas ausências serão encaradas com mais tranqüilidade pelo cão e causarão menos sofrimento para ele, o que resultará em menores chances de ele desenvolver ansiedade de separação ou compulsões, como ficar lambendo a pata sem parar.

Castigo ou prêmio? Imagine a cena: o dono conversa animado com visitas e o cão late para conseguir atenção. Decidido a punir o cão, o dono se dirige até ele, agarra-o ou dá comandos, e o acompanha até o lugar do castigo. O centro das atenções, por alguns momentos, é o cão. O resultado é que, logo depois de fazer o que não deve, o cão se sente recompensado.

A punição que virá posteriormente será ineficaz, por mais desagradável que seja. Quando o cão consegue escapar antes de chegar ao castigo, às vezes até brincando de pega-pega, ganha ainda mais atenção e se sente mais recompensado pelo comportamento errado. Muitas vezes fica evidente o quanto o cão se diverte, adorando ver o dono tentar pegá-lo. Se fosse possível punir os cães num passe de mágica, sem precisar levá-los até o local do castigo, a punição seria muito mais eficaz. Mas, mesmo assim, persistiria a associação de bronca com o fato de ficar sozinho. É errando que se aprende Para educar o cão a conviver com humanos, nada melhor do que o contato prolongado entre ambos. A repetição das recompensas e repreensões, dependendo de o cão agir corretamente ou de maneira inadequada, torna claros os limites e diminui os comportamentos impróprios. Por causa da importância da repetição, é usada a técnica de induzir o cão a errar para poder repreendê-lo mais vezes. Por exemplo, ao treiná-lo a não atravessar a rua, tentamos estimulá-lo a ir para o outro lado jogando uma bolinha ou mostrando um gato.

As repreensões resultantes, nas mais diversas situações, ajudam o cão a entender exatamente o que não deve fazer e a saber se segurar. Se um cão pula e late para visitas, o melhor é repreendê-lo no momento exato do pulo e do latido. Cada vez que ele latir ou pular de novo, levará outra repreensão. Se não estiver surtindo efeito, corrigimos.

Com tudo isso, o comportamento errado vai ficando claro para o cão e sendo associado a coisas desagradáveis. Essas oportunidades de educar, importantes demais, são desperdiçadas quando o “aluno” é isolado em outro lugar.

Substitutos para o castigo Em vez de nos preocuparmos somente em punir os erros do cão, sempre enfatizo que devemos procurar ensinar os comportamentos adequados e recompensá-los. Por exemplo, se o cão pular para conseguir atenção, em vez de puni-lo o melhor é ensiná-lo a sentar para ganhar carinho. A punição, quando necessária e útil para dar ao cão uma vida mais gostosa e próxima das pessoas de que gosta, pode ser aplicada sem ser preciso deixar o animal sozinho e inseguro.

Antes de tudo, a repreensão deve ser instantânea. De preferência, no mesmo momento em que o comportamento errado acontece. Melhor ainda se for no início do comportamento, como quando o cão começa a abrir a boca para latir. Centésimos de segundo fazem toda a diferença! A repreensão mais indicada é aquela que causa susto ou desconforto ao cão, sem machucá-lo nem traumatizá-lo. Recomendo espirrar um jato de água no focinho dele, com spray, ou chacoalhar uma lata com moedas ou, ainda, se o cão não for muito medroso, estalar biribinhas.

O método de repreensão bem como a maneira correta de aplicá-lo são essenciais e a eficácia varia conforme o cão. Por isso, em caso de dúvida, é importante recorrer ao auxílio de um adestrador ou especialista em comportamento.

Ter um ou mais cachorros? Vantagens e desvantagens

Photo credit: Jelly Dude / Foter / CC BY
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Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Muitos proprietários de cães perguntam se devem ou não comprar um segundo cão. Mostramos os prós e os contras de cada alternativa

Amenizar a solidão
Como animais sociais que são, os cães não gostam de ficar sozinhos. Embora sintam a falta do dono, a companhia de outro cão ameniza bem a solidão. Mas, por outro lado, infelizmente, nem todo cão aprende a substituir a companhia de um ser humano pela de outro cão. Principalmente quando não foi sociabilizado adequadamente com outros cães.

A bagunça aumenta ou diminui?
A destrutividade canina tanto pode aumentar quanto diminuir com a vinda de um segundo cão. Se os dois brincarem juntos, o estrago que produzirão será menor do que se um deles for deixado sozinho. Mas, na maioria das vezes, um dos cães incentiva o outro a fazer coisas erradas!

Quando sozinho, em geral, o cão fica desmotivado e inativo. Pouco destrói, portanto. Nesse caso, se a presença de outro cão estimular o primeiro a agir durante a ausência das pessoas, a bagunça será maior do que quando o único cão era deixado sozinho. Mas é preciso lembrar que mais bagunça é também mais alegria e mais bem-estar para o cão.

Pode haver briga
É normal e aceitável que haja alguma agressividade entre os cães que vivem numa mesma casa. Mas, em certos casos, as brigas resultam em machucados sérios que podem, inclusive, levar à morte.

Quanto mais cães houver, maior a chance de sair uma briga séria. Ter só dois cães é muito mais seguro do que ter três, quatro, etc. Em grupos grandes, muitas vezes o cão que está perdendo a briga é atacado pelos demais e, nesse caso, a conseqüência costuma ser grave.

Para reduzir as chances de brigas sérias, é preciso ter um bom controle sobre os cães e fazer a escolha correta dos indivíduos que comporão o grupo. Muitas pessoas acham que filhotes da mesma ninhada não brigarão quando adultos, assim como mãe e filha, pai e filho, etc. Esse é um conceito errado.

O risco de um macho brigar com uma fêmea é menor do que o de dois exemplares de mesmo sexo brigarem, mas o casal deverá ser separado duas vezes por ano quando a fêmea entrar no cio, se o macho não for castrado e se não se quer reproduzi-los. A separação pode ser bastante inconveniente – o macho costuma ficar desesperado para chegar na fêmea.

Se houver possibilidade de ocorrerem brigas, os proprietários não podem deixar brinquedos e ossos muito atraentes à disposição dos cães. A restrição dependerá de como é o convívio dos cães e de como eles expressam sua agressividade possessiva.

Ciúmes e competitividade
Quando se tem mais de um cão, ciúmes e competitividade são comuns, principalmente visando ganhar a atenção do dono. Para conseguir manter os cães sob controle é preciso demonstrar segurança e firmeza e ter liderança sobre eles.

Exemplares ciumentos podem se tornar agressivos quando disputam um objeto ou a atenção de alguém. A competitividade sem controle aumenta drasticamente os comportamentos indesejados, como pular nos donos e nas visitas, correr atrás do gato da casa, etc. Mas, por outro lado, a competitividade pode levar cães sem apetite a comer mais e cães medrosos a se tornarem mais corajosos.

Cão velhinho X novato
Muitas vezes um filhote faz o cão velhinho voltar a brincar, a comer com mais apetite e a disputar o carinho de seus donos. Mas é preciso ter cuidado para não deixar o mais velho de lado e para não permitir que o filhote o incomode demais. Devemos limitar o acesso do filhote aos locais preferidos pelo veterano, assim como repreender as brincadeiras indesejadas, para garantir sossego ao cão mais velho.

Educação do segundo cão
Sempre pergunto para as pessoas se é o primeiro ou o segundo cão que mais se parece com gente. A resposta costuma ser a mesma: o primeiro! Isso ocorre porque a nossa influência na educação e no comportamento do cão é muito maior quando não há outra referência canina. Se você estiver pensando em ter um segundo cão, prepare-se, portanto, para o novo cão ser mais parecido com cachorro e menos com gente. O primeiro cão costuma entender melhor o que nós falamos e fazemos, procura mais a atenção de pessoas do que de outros cães e costuma ser menos possessivo com seus brinquedos.

Conclusão

Sou a favor de se ter mais de um cão – com companhia a vida fica muito mais ativa e estimulante. Mas o proprietário precisa escolher adequadamente o outro cão e também ser ou se tornar um bom líder de matilha.

Como vivem os cachorros domésticos “selvagens”

Photo credit: Tambako the Jaguar / Foter / CC BY-ND
Photo credit: Tambako the Jaguar / Foter / CC BY-ND

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Depois de passar milhares de anos sendo selecionado pelo homem, como será que o cão doméstico se sai quando precisa sobreviver por conta própria?

Existem diversos grupos de cães vivendo com pouquíssimo ou nenhum contato com pessoas. Alguns desses grupos foram acompanhados por pesquisadores interessados em entender melhor as diferenças entre cães e lobos e em saber mais sobre o processo de domesticação.

Por que domésticos e “selvagens” Geneticamente idênticos aos cães com os quais estamos acostumados, os cães domésticos “selvagens” diferenciam-se por não terem tido contato com seres humanos durante o período de sociabilização. Não reconhecem, portanto, os seres humanos como parte do grupo. Se a sobrevivência desses cães persistir sem a interferência humana, com o tempo, provavelmente, as alterações genéticas os aproximarão dos Dingos, cães australianos selvagens, que são uma subespécie de cães.

Onde vivem Há comprovações ou relatos desses grupos de cães em todos os continentes. Algumas matilhas vivem totalmente afastadas de qualquer civilização. Outras vivem nos arredores de cidades ou vilas. E há também as que vivem dentro das cidades. Neste artigo focarei as matilhas mais “selvagens”. Ou seja, as que tiveram muito pouco ou nenhum contato com seres humanos.

Alimentação Como diversos animais selvagens, esses cães frequentam lixões e costumam revirar o lixo das pessoas quando não há ninguém por perto, geralmente à noite.

São vistos, ainda, caçando pequenos animais, principalmente roedores, como ratos, e pequenas aves, como galinhas, pombos e pardais.

Diferentemente dos lobos, raramente caçam ou matam animais de grande porte. Quando isso acontece, costumam se especializar em animais domésticos, como bovinos, ovinos e caprinos. Parecem não conseguir coordenar uma caçada da mesma maneira que os lobos. Por isso, provavelmente, dependem mais dos pequenos animais ou de animais maiores, mas menos aptos a se defender ou fugir.

Os Dingos demonstram uma capacidade bem mais elaborada para cercar e caçar marsupiais, como cangurus, do que os seus parentes mais domésticos. Essa diferença deve estar relacionada ao longo período em que os Dingos precisaram sobreviver sem a ajuda do homem, o que fez o comportamento deles, nesse aspecto, voltar a ser semelhante ao do ancestral de ambas as subespécies, o lobo.

Reprodução Numa matilha de lobos, só um casal tem permissão para se reproduzir. Já num grupo de cães domésticos “selvagens”, várias fêmeas se acasalam e ficam prenhes. O resultado desse comportamento é, freqüentemente, a produção de um número de filhotes maior do que o grupo é capaz de cuidar. Para piorar as chances de sobrevivência dos filhotes, os machos raramente ajudam as fêmeas a cuidar da prole e a protegê-la.

O cio das cadelas ocorre duas vezes por ano, enquanto o das lobas é apenas anual. Esse é mais um fator que dificulta o sucesso reprodutivo dos grupos de cães. As fêmeas precisam dividir a atenção entre os filhotes recém-nascidos e os que já têm 6 meses, além de terem menos tempo para se recuperar dos desgastes provenientes do parto. Nos países onde o frio é mais rigoroso, o cio adicional também prejudica a sobrevivência dos filhotes que nascem próximo ao inverno, pois precisam enfrentar, ainda pequenos, o frio (as ninhadas de lobo normalmente nascem na primavera, quase um ano antes do próximo inverno).

O comportamento reprodutivo dos Dingos é intermediário entre o dos lobos e o dos cães domésticos “selvagens”. O grupo ajuda nos cuidados com os filhotes, mas o casal dominante permite que outras fêmeas se reproduzam. É provável que o excesso de filhotes produzidos seja controlado pela prática de infanticídio: a fêmea dominante mata todos os filhotes das demais (comportamento observado freqüentemente em cativeiro).

Sobrevivência Estudos como esses deixam claro como os diversos comportamentos dos lobos são importantes para a sobrevivência deles. As alterações comportamentais que afastam os cães dos lobos criam situações que dificultam muito o sucesso reprodutivo e a própria sobrevivência.

O que determina a aparência dos lobos e como se comportam é a luta pela sobrevivência. O homem conseguiu transformar o lobo em cão, selecionando comportamentos e traços físicos. Mas isso só foi possível porque ele garantiu artificialmente a sobrevivência dos animais que domesticou. Podemos dizer que, hoje, o cão é uma espécie dependente do homem para sobreviver.

Como evitar que o cachorro mantenha o hábito de ingerir fezes

Photo credit: Martin Cathrae / Foter / CC BY-SA
Photo credit: Martin Cathrae / Foter / CC BY-SA

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Saiba que motivos levam os cães à coprofagia (ingestão de fezes), os problemas que esse hábito pode causar e como lidar com ele

Apesar de ser relativamente comum que os cães comam fezes, seus donos ficam horrorizados com isso, preocupados e com muito nojo! Mas, para o cão, as fezes podem ser saborosas ou divertidas, ajudar a descarregar ansiedade e servir para chamar atenção. Podem até funcionar como pretexto para o cão imitar os humanos, que recolhem os excrementos dele quando faz cocô.

Para lidar com tantas possibilidades, são necessárias estratégias distintas. De maneira geral, as dicas que daremos a seguir podem ser usadas tanto para evitar que o comportamento comece, quanto para controlá-lo.

Fezes apetitosas
Por mais incrível e nojento que possa parecer, é comum que os cães gostem do sabor de algumas fezes. Muitos deles adoram comer fezes de cavalo, de gato e até de gente, e eles são saudáveis! Esse comportamento pode ser justificado do ponto de vista nutricional. Quase sempre há, nas fezes, algum alimento não totalmente digerido.

Por um lado, os cães com problemas digestivos desenvolvem deficiências nutricionais, o que pode alterar o apetite deles e torná-los mais interessados em fezes. Por outro, cães que não digerem completamente o alimento defecam fezes com mais restos de gordura e de proteína, ou seja, que são mais apetitosas.

Quando o cão come fezes, o ideal é que ele passe por uma consulta veterinária para avaliação de eventual deficiência nutricional ou digestiva. Recomenda-se também que as fezes dele sejam analisadas com o objetivo de detectar se há restos de proteína e de gordura ou para verificar se há deficiência de determinadas enzimas.

É bom que a avaliação seja feita tanto com o cão “comedor de fezes” quanto com o cão que produziu as fezes que foram ingeridas, pois o problema pode estar num ou no outro.

Existem produtos, no mercado, para colocar na ração e deixar as fezes menos apetitosas. Alguns cães, porém, só param de comer as fezes enquanto esses produtos são adicionados. Quando o tratamento cessa, voltam ao hábito. Por isso, sempre recomendo seguir dicas comportamentais, como as dadas a seguir.

Por brincadeira
Alguns cães brincam com as próprias fezes e acabam comendo pedaços delas. Isso ocorre mais freqüentemente com filhotes, mas há adultos que continuam com o hábito por toda a vida. O comportamento também é mais comum em cães que ficam presos em locais pequenos e que dormem perto de onde fazem as necessidades.

A melhor maneira de evitar que o cão brinque com fezes é manter o ambiente limpo, livre de fezes e de urina. Procure também posicionar a caminha, o comedouro e a água do filhote no canto oposto ao do “banheirinho”.

Praticar brincadeiras e atividades físicas com o cão assim como deixar brinquedos ao alcance dele são iniciativas que ajudam a evitar a insistência em usar fezes para brincar.

Por ansiedade
Muitos cães só ingerem fezes quando estão ansiosos, geralmente por terem ficado sozinhos em casa ou por não estarem recebendo atenção de seus donos (ansiedade de separação). Nesses casos, a melhor maneira de lidar com o problema é aumentar a atividade física do cão e tratar a ansiedade. Um dos tratamentos é chegar em casa sem fazer festa nem dar bronca no cão. Costuma ser exatamente o oposto do que as pessoas fazem. Festejam o cão até perceber que ele comeu cocô. Aí passam a dar bronca. Agindo assim, só pioram o problema, pois, quanto mais eufórica e tensa for a chegada dos donos, mais o problema aumenta quando o cão é deixado sozinho.

Para chamar atenção ou por imitação
Muitos cães observam que o dono corre com grande interesse para recolher as fezes assim que são expelidas. Alguns deles tentam pegar as fezes antes que o dono consiga alcançá-las. O problema é que, em vez de jogá-las no lixo ou na privada, eles as engolem.

O truque para evitar essa competição é recolher as fezes calmamente, permitindo, inclusive, que o cão as cheire. Para conseguir isso, recomendo oferecer um petisco bem gostoso, assim que o cachorro terminar de evacuar. Ao mesmo tempo, joga-se um produto bem amargo e não tóxico em cima das fezes. Desse jeito, após ingerir o petisco, o cão poderá cheirar as fezes sem se sentir atraído por elas. E o recolhimento delas poderá ser feito com calma, sem que o cão veja isso como uma competição.

Por receber petiscos como recompensa, o cão passará a fazer as necessidades mais vezes na frente do dono. Ótimo para poder recompensá-lo novamente e jogar o produto amargo em cima das fezes!

Como apresentar o mundo para o filhote

Photo credit: /kallu / Foter / CC BY-SA
Photo credit: /kallu / Foter / CC BY-SA

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento.

Pessoas
Faz parte da socialização proporcionar momentos agradáveis ao filhote, na presença de dezenas de pessoas diferentes. Os cães dividem as pessoas em diferentes tipos, com grande facilidade. Enquanto com algumas eles podem ser confiáveis e dóceis, com outras se tornam agressivos e medrosos. Para evitar isso, devemos apresentá-los a pessoas de todos os tipos.

É preciso fazer a sociabilização de modo que abranja o máximo de etnias (principalmente pessoas brancas e negras), idades (bebê, crianças, adultos, idosos), sexos (homem e mulher), comportamentos (pessoas que falam alto, que se movimentam de maneira não usual, etc.) e presença ou ausência de cabelo e barba.

Mesmo quando há criança em casa, o filhote precisa conhecer outras crianças, para se acostumar com a diversidade.

Não existe uma quantidade exata de pessoas que convém apresentar ao cão até os 3 meses de idade, mas diversos especialistas têm recomendado cerca de 100 pessoas. Algumas delas o cão deve conhecer um pouco mais profundamente, interagindo por meio de brincadeiras e agrados. Uma boa maneira de fazer o filhote gostar de conhecer novas pessoas e, ao mesmo tempo, criar uma pequena interação com elas é pedir aos “estranhos” que dêem um petisco para ele.

Tome muito cuidado com reações que podem assustar o filhote. Principalmente por parte de pessoas estranhas ao cão. Se elas causarem situações assustadoras, podem fazer o filhote generalizar a experiência negativa e passar a ter medo de pessoas desconhecidas ou com alguma característica da pessoa que o assustou. Quanto mais sensível for o cão, mais cuidado devemos ter. Para alguns filhotes, uma aproximação brusca já é assustadora demais.

Animais
No caso de contato com outros animais, é importante manter o controle até que a situação se torne segura para o filhote e para o outro bicho, que pode ser, inclusive, um outro filhote.

Alguns filhotes se assustam demais quando um cão vem rapidamente na direção deles, mesmo que a intenção seja de brincar. A melhor maneira de evitar isso é controlar o outro cão, principalmente se for agitado ou grande, até que o filhote se aproxime dele e o investigue e, assim, perca o medo. Somente deixe os dois interagirem livremente quando perceber que nenhum deles poderá tomar um grande susto ou se sentir extremamente incomodado pela presença do outro.

Às vezes é o filhote que se aproxima rapidamente de outro animal e o assusta ou provoca uma reação agressiva. Se, ao correr na direção de um papagaio, por exemplo, o filhote o fizer sair voando, poderá tanto se assustar quanto se sentir estimulado a caçá-lo. Se a corrida for em direção a um gato, para piorar, o filhote pode levar uma patada o ficar assustado e até machucado.

Portanto, para que a sociabilização comece da maneira adequada, devemos deixar claro para o filhote que, ao se aproximar de outros animais, o faça de maneira calma e gradativa, sem assustá-los. O filhote também precisa aprender que não pode tentar caçar o outro bicho. Caso tente, deve ser imediatamente reprimido. Para obter controle mais fácil do filhote, nesses momentos ele deverá estar de coleira e na guia. Assim, se ele começar a ir rapidamente na direção do outro bicho, você poderá travar a guia e repreendê-lo.

Objetos
Os filhotes devem ser encorajados a brincar, comer e receber carinho ao lado de objetos novos e diferentes. Sempre que possível, devemos ir aproximando o filhote do objeto e não o contrário. Assim evita-se levar o objeto rapidamente demais na direção do filhote, o que poderia traumatizá-lo.

Objetos em movimento também podem ser assustadores para o filhote. Acostume-o, portanto, a carros, motos, caminhões, carrinhos de bebê, bengala, vassoura, etc. Comece com o filhote a uma distância em que se sinta completamente seguro. Brinque com ele, alimente-o e faça carinho, aproximando-o aos poucos do objeto, que deverá estar em movimento. Somente diminua a distância ao perceber que o filhote se sente completamente tranqüilo. Não o force a se aproximar demais do objeto em movimento, para ele não começar a perder a confiança em você.

Cachorro mais feliz com enriquecimento ambiental e comportamental

Photo credit: sendaiblog / Foter / CC BY
Photo credit: sendaiblog / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Conheça várias dicas de estímulos e atividades que evitam tédio no cão e suas conseqüências, como compulsão (lamber a pata até feri-la, por exemplo), ansiedade de separação e destrutividade

Objetivo: manter o cão ocupado
Mente vazia, oficina do diabo, diz o provérbio… Você já pensou que o seu cão, enquanto faz coisas saudáveis e corretas, não incomoda pessoas nem destrói a casa ou se automutila? Ocupá-lo é também muito mais saudável do que simplesmente impedi-lo de fazer o que ele quer.

Como entreter
Todo mundo sabe entreter o cão levando-o para passear, brincando de cabo-de-guerra com ele ou atirando bolinha. Mas poucos sabem como entretê-lo enquanto conversam com alguém, vêem televisão ou dão atenção a uma visita.

A dica é preparar diversão para esses momentos. Vale tudo que entretenha o cão e que nos deixe livres para fazer o que quisermos. Existem algumas técnicas que utilizo para proporcionar esse tipo de entretenimento.

Busca por alimento
Esconda petiscos e estimule o cão a procurá-los. Com o tempo, ele passará a vasculhar cada pedacinho da casa, com a esperança de encontrar algo apetitoso. No início, procure facilitar a localização. Depois, pouco a pouco, torne a busca mais difícil. Crie novos esconderijos e dificulte o acesso cada vez mais. Para não estimular o cão a ir aonde você não deseja, evite colocar os petiscos nesses lugares.

Garrafa pet
Esse é um dos meus instrumentos preferidos, mas pode tornar-se um pouco barulhento, dependendo da estratégia utilizada pelo cão. O procedimento consiste em fazer uns furos laterais numa garrafa pet vazia. Deseja-se que, ao ser utilizada pelo cão, caiam alguns pedaços de petisco ou grânulos de ração previamente colocados. Essa é uma ótima maneira de dar ração em vez de simplesmente servi-la no pratinho de comida. No início, faça buracos maiores na garrafa, já que muitos cães podem desistir nessa fase. Aos poucos, dificulte e exija cada vez mais. Assim poderá proporcionar entretenimento por horas, até o cão conseguir tirar o último pedacinho de alimento de dentro da garrafa.

Roer e destruir
Ossos e brinquedos mastigáveis também são ótimas opções. Muitos cães gostam do desafio de destruir coisas, como arrancar pedaços de um bichinho de pelúcia, desde os olhos e o nariz até a espuma de dentro, despedaçar uma bola ou arrancar nacos de um osso de couro.

Conheço vários cães que adoram tirar o rótulo e a tampinha de garrafas pet! Muitos também apreciam destruir coco verde – a bagunça que fica com os fiapos restantes é fácil de limpar e o seu cão merece um bom passatempo!

Outra dica é embrulhar petiscos em pedaços de cartolina ou de papel e deixar o próprio cão rasgar a embalagem.

Embora destruição seja uma ótima terapia para o cão, preste atenção. Se ele for do tipo que engole tudo, só lhe dê objetos cujos pedaços sejam digeríveis e que não possam machucá-lo ou causar obstrução gástrica.

Criações do próprio cão
É impressionante como os cães criam as próprias atividades. Infelizmente, muitas vezes não estimulamos essas iniciativas ou até mesmo as reprimimos. É comum o cão ansioso descobrir que ter uma bolinha na boca para ficar mastigando o ajuda muito nos momentos de maior ansiedade. Um exemplo é o do cão que, quando percebe que terá interação com o dono, corre e agarra uma bolinha. Para ele, é importante ter sempre uma bolinha à disposição e, no entanto, muitas vezes o dono se livra da bolinha porque se tornou vício. O contato com esse objeto permite ao cão extravasar a ansiedade e conseguir não morder a mão do dono nem destruir algum objeto da casa.

Mais uma atividade de diversos cães é correr de um lado para outro quando estão muito ansiosos, incluindo, às vezes, dar voltas em torno da mesa de jantar. Em vez de reprimir o cão por fazer bagunça, deve-se procurar ajustar a casa para essa atividade. Por exemplo, fixar os tapetes no chão e tirar objetos que possam ser derrubados durante o percurso. Essa é também uma maneira de respeitar o cão. Afinal, ele talvez preferisse, se pudesse, pular em você ou rasgar sua roupa.

Oito dicas para o cachorro parar de cavar o jardim

Photo credit: blumenbiene / Foter / CC BY
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Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Muitas vezes, uma dica basta para resolver o problema das escavações caninas. Mas, para saber qual é essa dica, é preciso saber antes o que leva o cão a cavoucar.

1. Crie cantinhos excepcionais
Por instinto, o cão dá uma cavadinha onde irá se deitar – costuma fazer isso até em sofás e pisos frios! Normalmente, após a cavadinha, dá umas rodadas e se deita. Muitos cães gostam de deitar-se em lugares frescos do jardim ou que permitam acompanhar o movimento da casa ou da rua. O problema é que, muitas vezes, há um canteiro de flores ou grama justamente nesses lugares. O truque é preparar cantinhos perfeitos para o cão, levando em consideração o que ele mais deseja. Às vezes, até sugiro uma pequena reforma paisagística.

2. Gaste o excesso de energia
Quanto mais energia o cão tiver, maiores as chances de ele cavar grandes buracos. Uma maneira de controlar o excesso de energia é levá-lo para passear diariamente e/ou exercitá-lo bastante, com brincadeiras.

3. Combata o tédio
Cães também ficam entediados! Gostam de passear, caçar, brincar, etc., e não de ficar isolados em um quintal. Crie atividades para tornar a vida do seu cão mais interessante. Nem que seja escondendo petiscos no jardim para ele encontrar. Ler artigos sobre enriquecimento ambiental e comportamental ajuda a ter idéias para entreter o cão.

4. Evite que enterre objetos
Enterrar ossos naturais e alimentos para consumir mais tarde também faz parte do instinto canino. Muitos cães enterram apenas alguns tipos de objetos. Se o seu fizer isso, não deixe de lhe dar os objetos daquele tipo. Mas, em vez de entregá-los, mantenha-os amarrados numa corda. Assim, ele não poderá levá-los para enterrar. Um jeito de evitar que o cão se enrosque na corda é pendurar o objeto de modo a não encostar no chão. Esse método é útil também para combater a possessividade canina por determinados objetos.

5. Prepare um cantinho para grávidas
Cadelas prestes a parir ou com gravidez psicológica procuram cavar um ninho para os filhotes. Nesses casos, devemos preparar cantinhos perfeitos para elas. E, quando a gravidez for psicológica, pode-se, ainda, tratar a fêmea com inibidores de hormônio (consulte seu veterinário).

6. Torne desagradável desenterrar
Se o cão cava lugares específicos, antes de tapar os buracos encha-os com os próprios cocôs dele. É praticamente certo que isso o fará desistir de cavar aquele local. Com o tempo, você irá minando todos os lugares mais cavados. Essa é a minha dica preferida!

7. Reestruture seu jardim
Procure adaptar o estilo do seu jardim à presença canina. Às vezes, algumas pequenas alterações podem evitar muita dor de cabeça e proporcionar menos estresse no convívio. Pedras nos lugares em que o cão cava, assim como cercas e telas, podem, muitas vezes, ser a melhor solução. Um dos meus clientes resolveu o problema com telas postas no solo dos canteiros que o cachorro cavava. Nessa alternativa, caso se queira ocultar a tela, basta jogar um pouco de terra por cima. Ou esperar que as plantas cresçam. Há, porém, o inconveniente de ser preciso retirar a tela ou cortá-la, para plantar nova muda. Em alguns casos, sugiro construir uma caixa de areia no jardim para o cão poder se divertir, cavando. Afinal, cavar é um comportamento normal e saudável.

8. Só dê bronca durante a ação errada
Nem pense em dar bronca no cão se não for no exato momento do comportamento inadequado. Está mais que comprovado: bronca fora do momento exato, além de não funcionar, pode deixar o cão confuso, o que aumenta as chances de surgirem problemas de comportamento. A melhor ocasião para repreender o cão é quando ele começa a cavar um lugar proibido. Nesse momento, procure fazê-lo sentir desconforto. Jogue um pouco de água nele ou faça um ruído que o assuste, por exemplo. Mas só faça isso se ele não for medroso nem inseguro. Algumas pessoas conversam com o cão quando ele erra. Tentam explicar que agiu incorretamente. Não faça isso. O cão pode gostar dessa atenção e começar a cavar na expectativa de receber mais!

Um tapinha não dói?

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Photo credit: dolapo / Foter / CC BY-SA

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Nunca devemos bater no cão? Nem se ele fizer algo muito grave, como atacar os próprios donos? E se dermos só um tapinha de leve, apenas para indicar que não gostamos do que fez? Bater no cão não é uma maneira de educá-lo? Ou de nada adianta bater?

A minha resposta continua a ser a mesma de 10 anos atrás: nunca devemos bater no cão para educá-lo. Neste artigo procuro justificar e explicar a minha posição, sem preconceitos nem radicalismo. Gostaria de deixar explicito que a minha posição não é compartilhada por todos os especialistas em comportamento, já que o tema é bastante polêmico no nosso meio.

Cuidado com preconceito e radicalismo
É comum que gente bem-intencionada acabe por prejudicar a vida de seus animais por acreditar em conceitos radicais e sem flexibilidade. Conheço diversas pessoas que morrem de pena de punir seus cães por mau comportamento. Por isso, seus animais tornam-se mal-educados e acabam tendo de ficar trancados em canis ou do lado de fora de casa, longe de onde mais gostariam de estar: junto do seu grupo! Portanto, não sou contra a punição (atenção: punir não é sinônimo de bater), principalmente quando ela contribui para melhorar o bem-estar e a relação entre as pessoas e o cão da casa.

Punição psicológica tudo bem?
Outra idéia radical é acreditar que é errado punir fisicamente, mas tudo bem se a punição for psicológica. Por exemplo, quando o bicho faz algo errado, em vez de bater nele, ignorá-lo ou mostrar desdém por horas ou dias! Para o cão que depende da aceitação do grupo para sentir-se bem, a atitude poderia ser considerada até cruel. Portanto, não bater no cão não significa necessariamente fazer a coisa certa. Se ele pudesse escolher, acredito que preferiria um tapinha a ser ignorado por longo período!

Mas por que não bater?
Se bater fosse a melhor ou a única maneira de estabelecer limites e educar o cão, eu seria a favor. Educação é essencial para garantir o bem-estar e o bom convívio. Mas há diversas técnicas para punir um cão, mais vantajosas que um tapa, por exemplo. Podemos, ainda, na maioria das vezes recompensar os comportamentos corretos em vez de punir os errados, motivando o cão a acertar e, de quebra, exercitando nossa capacidade de perceber e recompensar as coisas certas, em lugar de focar sempre no que está errado.

Punição ideal
É a punição que faz o cão evitar determinado comportamento ao associá-lo com algo desagradável. Acredito também que a punição deva ser segura, no sentido de não haver possibilidade de machucar o animal nem a pessoa. Deve ser também clara, no intuito de educar, de inibir um comportamento, e não de vingar-se nem de extravasar raiva.

Bater não é seguro para o cão
É relativamente fácil machucar um cão quando se bate nele. Raramente conseguimos controlar nossos movimentos com precisão tal que provoquem apenas desconforto. Imagine uma pessoa dando uma joelhada no tórax do cão para ele parar de pular em cima dela (técnica descrita por diversos livros de comportamento!). Dependendo da velocidade com a qual o cão veio para cima de você, a força do seu joelho no tórax dele pode se multiplicar e até provocar uma fratura de costela! Tapas no focinho também podem machucar, se forem fortes demais ou em região mais sensível. Muita gente bate mais forte quando está com raiva, o que aumenta ainda mais a possibilidade de exageros.

Não é seguro para as pessoas
Algumas punições podem deixar o cão mais perigoso. Bater costuma ser uma delas. Diversos cães reagem agressivamente ao perceber que alguém irá atacá-los com o corpo ou com um objeto. Principalmente se antes disso a pessoa ameaçou ou olhou fixamente nos olhos, atitudes típicas de quem está revoltado ou nervoso. Ao apanhar, nem sempre o cão reage agressivamente se a agressão veio de um superior hierárquico. Mas pode atacar mais facilmente outra pessoa que o ameace, como uma mulher ou criança. Ou seja, bater num cão pode torná-lo mais perigoso até para outras pessoas. Cães que passam a temer movimentos bruscos podem atacar uma criança que esteja indo abraçá-los, por exemplo.

Que fazer, então?
A conclusão é que devemos aprender a educar. Fazer, às vezes, algo de que o cachorro não gosta para inibir alguns comportamentos ou estabelecer limites. Mas não devemos correr o risco de machucá-lo nem de nos machucar. Por isso, recomendo que as punições causem apenas susto (desconforto psicológico) ou desconforto físico no animal, sempre na intensidade adequada. No próximo artigo, darei diversas dicas de como conseguir educar o cão sem nunca mais ter de bater nele.

Como o cachorro enxerga?

Photo credit: Dave McLear / Foter / CC BY
Photo credit: Dave McLear / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

Cães vêem o mundo de maneira bem diferente da nossa. De certo modo, é como se eles estivessem vivendo em um mundo paralelo. Assim como percebem coisas que não temos capacidade de notar, nós notamos coisas que eles não podem perceber

Quando se fala de visão canina, logo vem a pergunta: a espécie enxerga em cores ou em preto e branco? Esse assunto será abordado a seguir, mas trata-se apenas de uma das características da visão. Dizer que sabemos como o cão enxerga não se reduz a conhecer essa resposta!

Afinal, enxerga colorido?
Sim, mas por muito tempo até mesmo os cientistas acreditavam que não. Hoje se sabe que os cães enxergam em cores, mas não distinguem todas as cores que os humanos vêem.

A principal diferença é que os cães não conseguem distinguir o verde do vermelho. Para nós e para outros animais, como pássaros e macacos, que comemos frutas, a diferença entre essas cores é gritante porque é muito vantajoso diferenciar rapidamente as frutas vermelhas das folhagens verdes, por exemplo.

Uma distinção que os cães conseguem fazer bem é entre o azul e o verde. Bolinhas de cor azul são mais fáceis de o cão buscar em gramados do que as vermelhas, que se destacam menos, e por isso podem ser usadas para estimular o olfato.

Faça o teste: segure o cão sobre um gramado bem verde e jogue uma bolinha azul e uma vermelha. Solte-o somente quando as bolinhas estiverem a pelo menos uns 10 metros de distância. Provavelmente, o cão optará por seguir a bola azul, muito mais visível para ele.

Visão noturna
É verdade que os cães enxergam no escuro? Depende. Na escuridão total, não. Mas os cães enxergam muito melhor do que nós no escuro, apesar de não conseguirem distinguir bem as cores. Pode-se dizer, portanto, que no escuro os cães enxergam em preto e branco.

A visão noturna é importantíssima para os animais que caçam no escuro, por dependerem basicamente da luz da lua e das estrelas. É o caso das matilhas selvagens e das alcatéias, cujos uivos, usados também para reunir o grupo para caçar, podem ser mais ouvidos à noite, especialmente nas noites claras.

Faça o teste: com uma câmera de vídeo que filma no escuro (infravermelho) observe como o seu cão se locomove num quarto totalmente escuro. Coloque uma caixa ou cadeira fora de lugar e observe se ele desvia antes ou depois de tocá-la com a cabeça ou bigode. Depois, estimule o cão a andar – jogue uma bolinha que ele adore ou chame-o na sua direção – e aumente a luminosidade aos poucos (use luzes com intensidade ajustável ou permita que a luz da rua entre).

Haverá um momento em que, apesar de você ainda não enxergar os objetos, o cão já desviará deles com facilidade. Isso mostra que ele enxerga com muito menos luz do que nós.

Vê de costas?
Graças a uma amplitude de visão bem maior que a nossa, os cães enxergam o que está atrás deles. Como têm olhos mais laterais que os nossos, conseguem ver uma área maior, tanto para localizar presas como eventuais predadores. A maior amplitude visual varia, já que a posição dos olhos muda conforme a raça. Pastores Alemães, por exemplo, têm amplitude visual muito superior à dos Pugs.

Faça o teste: olhe para a frente e traga suas mãos com as palmas abertas a partir de trás da cabeça até enxergá-las. Você só as verá quando estiverem um pouco à frente das orelhas. Isso mostra que a amplitude visual humana é de aproximadamente 180 graus. Experimente fazer isso com o seu cão. Aproveite quando ele estiver olhando fixamente para um local.

Mova um objeto de trás para a frente até que ele o perceba e vire a cabeça, querendo-o. Repare como o objeto é percebido, mesmo estando ainda atrás do cão. Fique atento: como o olfato e a audição dos cães são fantásticos, tente evitar que o objeto seja percebido pelo cheiro ou pelo barulho.

Detecção de movimento
Os cães conseguem detectar muito mais facilmente algo em movimento do que parado, qualidade útil nas perseguições durante a caça. É como se o objeto em deslocamento saltasse de um fundo parado.

Faça o teste: amarre numa cordinha um objeto que o cão adore. Prenda o cão num ponto fixo e distraia-o. Coloque o objeto a uma distância tal que fique difícil de ele ver facilmente. Solte o cão e, quando ele estiver “perdido”, procurando o objeto, puxe a cordinha para o objeto se mover. Observe como é localizado facilmente quando entra em movimento. Só não dá para sugerir uma distância padrão, porque o alcance da visão dos cães varia bastante e muitos deles são míopes.

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