Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.
Dar banho, cortar unhas, escovar pelos ou dentes, limpar ouvidos e olhos são alguns entre tantos procedimentos que efetuamos rotineiramente com o gato. Mas nem todas essas rotinas agradam o nosso felino. Algumas delas são capazes, inclusive, e gerar traumas e de modificar permanentemente seu comportamento.
Do ponto de vista psicológico, todo cuidado no manejo do gato é pouco. Se ele for medroso ou arredio, qualquer procedimento que o imobilize poderá causar estresse e desconforto, prejudicando seu bem-estar e colaborando para fazê-lo se sentir inseguro em relação aos humanos. Atividades de rotina podem se tornar traumáticas se causarem sofrimento, como acontece quando, por falta de atenção, a unha é cortada demais.
Apresentamos aqui algumas dicas que, incorporadas ao dia-a-dia, ajudam a reduzir o estresse do gato durante o manejo.
Escapar das mãos, nunca!
Manter o gato imóvel é uma necessidade comum à maioria dos procedimentos. Mas a tarefa não é fácil. O felino pode escapar das nossas mãos por motivos como se sentir apertado demais, ficar inquieto com a demora do procedimento ou, simplesmente, porque não o estamos segurando direito. Se não tivermos o controle absoluto sobre os movimentos dele enquanto o temos nas mãos, ele poderá nos machucar e ficar estressado em tentativas de fuga. Além disso, basta o gato sentir que controla parcialmente a situação para tentar se defender e reagir cada vez mais, até escapar.
Depois de ter obtido sucesso numa tentativa (ou de achar que teve sucesso), mesmo que consigamos segurá-lo logo em seguida, sentirá recompensado e poderá tentar fugir sistematicamente. Por tudo isso, devemos segurar muito bem o gato e só soltá-lo quando estiver sem espernear, submisso ao nosso controle.
O modo correto de segurar o gato é não deixar inteiramente livre nenhuma perna nem a cabeça, para não serem usadas em tentativas de defesa ou de escape. Quanto mais firme o segurarmos, melhor, desde que ele se sinta o mais confortável possível e não seja apertado demais.
Aja com naturalidade enquanto estiver com o gato nas mãos e peça às pessoas que se aproximam que também ajam desse modo. Quando o fato vê alguém assustado, pode sentir insegurança e fazer esforço adicional para escapar. Quanto mais assustado e nervoso ele estiver, mais propenso ficará a sentir dores e a desenvolver traumas durante os procedimentos.
Procedimentos agradáveis
Se cada vez que o gato for seguro com firmeza acontecer algo desagradável, ele tenderá a correlacionar os fatos e a criar dificuldades sempre que for preciso segurá-lo daquele jeito. Relacionar cada etapa dos procedimentos a um acontecimento positivo facilita obter a cooperação do gato. Por exemplo: quando o segurar com firmeza, lhe dê um petisco. Faça um carinho ao colocar o remédio de ouvido perto dele. Quando ligar o secador, brinque com o gato. E assim por diante. Isso ajudará a mantê-lo calmo por mais tempo durante os próximos procedimentos.
Procure falar sempre de maneira calma e carinhosa com o gato enquanto o manipula. Se ele for daqueles que aceitam petiscos nessas ocasiões, ofereça-os. Principalmente nos momentos mais críticos, como no instante em que é cortada a unha.
Um modo de avaliar o estresse do gato é observar o apetite dele. Normalmente, se ele estiver muito assustado, recusa qualquer alimento, por mais gostoso que seja.
Sem demoras
Se possível, divida em etapas os procedimentos demorados, para permitir que o gato relaxe nos intervalos. Sessões para corte de unhas, escovação dos pelos ou dentes não precisam ser interruptas. Fazer intervalos consome mais tempo do tratador, mas o manejo se torna muito mais tranqüilo para o gato.
Acostumar desde filhote
É sempre mais fácil habituar o gato filhote a ser manuseado do que o adulto. O procedimento pode ser realizado com freqüência maior do que a necessária para acostumá-lo bem. Mas mesmo que o gato tenha sido habituado a determinado procedimento, poderá passar a recusá-lo se numa das execuções ficar assustado ou traumatizado.
Uso de produtos veterinários
Devemos sempre levar em consideração o sofrimento psicológico e os possíveis traumas que alguns procedimentos podem causar. Às vezes, é preferível anestesiar ou sedar o gato antes de submetê-lo a algo muito estressante. Nesse caso, peça orientação ao veterinário sobre o medicamento e a dose a serem utilizados.