Por Cassia Rabelo Cardoso dos Santos, adestradora e consultora comportamental da equipe Cão Cidadão.
O sucesso de uma convivência tranquila e equilibrada com um gato que será trazido para casa depende bastante de como será feita essa introdução. Isso porque os gatos são animais reservados, para os quais o controle do território importa bastante no seu bem-estar geral.
Dessa forma, é importante introduzi-lo adequadamente na casa nova, levando em conta todas as situações: se já há gatos ou cães no ambiente.
Apresentando o gato a um cão
A dica mais importante sobre a introdução de um gato em uma casa onde já resida um cão é tornar a experiência positiva para ambos. Um cão que nunca teve contato com felinos pode ter despertado seu instituto predatório ao se deparar com um bichano correndo a sua frente. E isso seria muito estressante para o gato!
Se for o caso de introduzir um cão em uma casa onde já tenha um gato, ou vice-versa, o ideal é fazer a aproximação de forma gradual, sem estresse excessivo para nenhum dos dois. É conveniente que o bichano seja mantido dentro de uma caixa de transporte (a qual já esteja acostumado), e o cão, contido na guia.
Utilizar petiscos que o cão e o gato gostem bastante vai ajudar nessa fase, para que sejam feitas associações positivas da presença do outro e, também, para que seja possível perceber se algum deles está ansioso demais – a falta de apetite pode indicar que o estímulo está muito alto e gerando desconforto, ou seja, a distância entre os dois deve ser aumentada.
A caixa de transporte só deve começar a ficar aberta quando ambos, cão e gato, demonstrarem já estarem habituados à presença do outro. Nessa fase, ainda é importante manter o cão na guia, para que seja mantida a segurança, ou seja, evitar perseguições ao gato. Ambos devem ser bastante recompensados quando estiverem calmos e demonstrando tranquilidade na presença do outro.
Esse treinamento pode demorar, ou não. Tudo depende das reações tanto do gato quanto do cão. O importante é sempre prezar pelo bem-estar de ambos e se certificar de que a situação não está estressante demais. Os dois só devem ser deixados livres para circular quando não houver sinais de estresse ou tentativas de ataques mútuos.
Trazendo um gato para uma casa que já tem gatos
Os gatos são capazes de uma ótima convivência com outros gatos, mas a introdução de um novo membro ao grupo pode ser estressante, caso os felinos se sintam desconfortáveis, podendo até ocorrer ataques.
Antes de apresentá-los, o ideal é deixar o novo gatinho em um cômodo da casa sem acesso aos demais, para que ele se habitue com os sons e objetos do novo ambiente. É importante disponibilizar água, comida e caixa de areia para todos.
Acostumar-se ao odor dos outros animais é um passo importante na habituação, já que os odores são muito importantes para eles. Assim, durante esse estágio, deve-se esfregar regularmente cada um dos gatos com uma flanela e deixar esses paninhos embaixo do pratinho de comida do outro gato, para que eles já associem o cheiro dos demais com algo prazeroso (a hora de comer). A utilização de feromônios sintetizados artificialmente pode ser muito eficaz no processo de habituação de um novo gato ao ambiente.
Quando perceber que o gato (ou gatos) que já morava na casa está apresentando seu comportamento normal e se mostrando curioso e confortável em relação aos sons do novo gato, é hora de aproximá-los. Antes disso, seria interessante trocá-los algumas vezes de cômodo: ainda sem se verem, deixar o gato mais antigo no quarto do novo habitante, para que ele explore todos os cheiros deixados, e fazer o mesmo com o novo gato, deixando-o livre para explorar os demais cômodos da casa.
A aproximação efetiva pode ser feita por uma fresta da porta ou mesmo através de um portão telado, para que eles se vejam, mas ainda sem conseguirem se tocar.
Outra opção é usar caixas de transporte, colocadas perto uma da outra, para que os gatos possam se ver. Deve-se sempre avaliar o nível de estresse e insegurança dos gatos: se constatado que o estímulo está alto demais e algum deles não está se sentindo confortável, deve-se recuar. Utilizar ração úmida para gatos é uma boa opção para uma associação positiva entre eles. Lembrando que, caso um dos gatos não aceite o petisco apetitoso, significa que ele não está ainda confortável com a situação.
Só se deve soltá-los no mesmo ambiente quando todas as etapas acima foram seguidas e tiver sido constatado que todos estão confortáveis. A utilização de coleiras peitorais, próprias para gatos (desde que já estejam habituados ao uso desse acessório), ajuda, e muito, no controle em caso de ataques.
Para que a convivência seja harmoniosa, é importante para os gatos que eles se sintam seguros e no controle das fontes de sobrevivência (caixas de areia, água e comida). Isso fará com que eles não tenham necessidade de manter o controle forçado sobre essas fontes, muitas vezes usando de agressividade.
Por isso, no que diz respeito às caixas de areia, o ideal é oferecer, no mínimo, uma caixa a mais do que o número de gatos da casa, e deixá-las à disposição em locais estratégicos e longe uma das outras, preferencialmente em lugares onde se perceba que cada um dos gatos prefere se aliviar. Além disso, vários potes de água fresca e/ou fontes de água, locais tranquilos para cada um se alimentar, prateleiras para que possam escalar e fugir, e esconderijos onde possam ficar quando assim desejarem.
Com todos esses cuidados, a tendência é que a introdução de um novo gatinho seja um sucesso, e animais e seres humanos possam viver em harmonia daí para frente!