Terapia para gatos com ferormônios

Photo credit: ansik / Foter / CC BY
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Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Esse novo tipo de terapia, surgido nos últimos anos, tem demonstrado bons resultados apesar de ser ainda pouco conhecido

Renomados comportamentalistas, como Daniel Mills, da Inglaterra, comprovaram cientificamente a eficiência dos ferormônios no tratamento de diversos distúrbios de comportamento, bem como na prevenção do estresse, por exemplo.

O que são?
Ferormônios são odores produzidos por animais, capazes de alterar o comportamento de outros animais à sua volta. Ao sentir medo, o animal pode exalar um odor que deixe o resto do grupo mais atento e estressado. Um ferormônio pode também sincronizar o cio de um grupo de fêmeas e facilitar, assim, aspectos reprodutivos.

Até nós, humanos, somos influenciados por ferormônios. Freqüentemente, mulheres que moram juntas captam o ferormônio uma das outras e menstruam na mesma data. Por funcionar de maneira parecida com um hormônio, mas atuar fora do corpo e em outros organismos, também é chamado de odor social ou de ectohormone (hormônio externo).

Ferormônios sintetizados
Foram identificados treze componentes químicos presentes em odores secretados por gatos, por meio de análises feitas por pesquisadores. Dois desses componentes já são sintetizados artificialmente. Funcionam como ferormônios e são utilizados em terapias. As fórmula comercial que contém o ferormônio F3 chama-se Feliway e a que contém o ferormônio F4 chama-se Felifriend.

Uso prático
Muitos estudos científicos foram feitos para entender melhor o efeito desses ferormônios sobre o gato. As pesquisas mostraram que eles podem ser utilizados para o controle de diversos problemas comportamentais, com a vantagem de não provocar os efeitos colaterais de alguns medicamentos. Podem, também, ser aproveitados em conjunto com terapias comportamentais e medicamentosas. Borrifa-se a substância no ambiente diariamente ou deixa-se que se espalhe por um difusor elétrico, comercializado costumeiramente junto com a substância.

Estresse
Reduzir o estresse parece ser o principal efeito desses ferormônios. Podem ser aproveitados, portanto, para combater diversos problemas de comportamento que resultam de estresse ou o causam.

Um experimento demonstrou que gatos hospitalizados postos em contato com ferormônio voltam a se alimentar normalmente em menos tempo do que os que não têm esse contato. Outro experimento mostra que gatos se adaptam mais rapidamente a locais em que o ferormônio foi borrifado.

Demarcação com urina
Diversos gatos, principalmente os machos não castrados, demarcam objetos da casa com urina. Isso resulta em enorme transtorno, seja pelo dano causado a objetos, seja pelo cheiro de urina que se espalha pela casa. Vários experimentos científicos conduzidos por especialistas concluíram que esses ferormônios reduzem as demarcações com urina em mais de 70% dos casos. Provavelmente porque o ferormônio alivia o estresse do gato e, conseqüentemente, reduz o comportamento agressivo dele ligado à proteção de território.

Móveis arranhados
Móvel borrifado com ferormônio é menos arranhado pelo gato. Mas será preciso borrifar diariamente as superfícies proibidas, até o gato aprender onde pode arranhar e onde não pode. Em outras palavras, o ferormônio facilita o condicionamento correto do animal, de modo que ele passe a arranhar somente locais desejados por nós, como arranhadores, e deixe de arranhar a mobília.

Visitas e desconhecidos
O medo de visitas e de pessoas estranhas pode ser também reduzido nos gatos com o uso de ferormônio. Aplica-se algumas horas antes de receber os amigos, para evitar que o gato fique estressado demais. Nesse caso, o F4 parece ser mais eficaz que o F3.

Brigas
A agressividade entre gatos que vivem juntos também pode diminuir com a ajuda de ferormônio. Mas nem sempre, pois torna alguns gatos ainda mais agressivos com os demais. Não se sabe direito por que isso ocorre, mas talvez esteja relacionado com o aumento da coragem ou, ainda, com o conflito entre informações visuais e olfativas. O gato percebe um cheiro amigável, mas enxerga um inimigo. Esse conflito poderia aumentar a ansiedade e a agressividade dele.

Cheiros e seu efeito sobre o comportamento dos gatos

Photo credit: Takashi(aes256) / Foter / CC BY-SA
Photo credit: Takashi(aes256) / Foter / CC BY-SA

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Pelo conhecimento do efeito que os cheiros têm os gatos, podemos deixar a vida deles mais interessante, corrigir e evitar problemas de comportamento e reduzir o estresse

Os gatos, mesmo os mais domesticados, continuam capazes de perceber cheiros que nem imaginamos e de reagir a eles. Graças a numerosos estudos e observações, temos, hoje, um pouco mais de noção sobre a importância e a influencia dos odores no mundo felino.

Para os gatos, os odores presentes no ambiente possuem uma enorme importância. Ser capaz de detectar um odor e reagir a ele, seja de maneira aprendida, seja instintivamente, pode garantir a sobrevivência, a alimentação e a reprodução.

Efeito do odor na caça
Embora o olfato não seja importante no momento do bote, costuma ser importantíssimo para o gato detectar a presença de um roedor escondido, por exemplo. Ao perceber o cheiro da presa, o felino pode ficar esperando por horas até que ela saia da toca e possa ser capturada. Gatos chegam a detectar por onde um rato andou dias depois do acontecimento.

Para a infelicidade do gato, os ratos também detectam facilmente o cheiro dele. Esse é um dos motivos que fazem os gatos procurar manter-se limpos. Ou até disfarçar seu cheiro, esfregando-se em algo fedido, como carniça. Quando um rato sente cheiro de gato, fica mais ansioso e procura evitar a área. O interessante é que esse medo do cheiro de gatos nos ratos é instintivo, ou seja, o rato, mesmo sem nunca ter encontrado um felino na vida, tem medo do cheiro de gato.

Até mesmo o rato branco de laboratório fica estressado quando se coloca em sua gaiola um pano que foi esfregado num gato. O fato de o cheiro de gato assustar a caça faz com que os gatos abominem ainda mais a invasão de seu território por outros gatos. Se outros gatos ficarem rondando o território, os ratos ficarão menos relaxados, mais cautelosos. Também foi demonstrado que os ratos param de cantar quando percebem cheiro de gato próximo às suas gaiolas (os ratos cantam para atrair fêmeas; só não os ouvimos porque a freqüência do canto é alta demais para os nossos ouvidos).

Detecção de fêmeas no cio
A gata no cio usa o cheiro para atrair machos da área. Ela urina mais vezes e em mais lugares. O macho que percebe fêmea no cio torna-se mais agressivo e agitado. É, na verdade, um preparo fisiológico para que ele tenha mais chances ao brigar com outros machos da redondeza, também interessados em acasalar com a fêmea no cio. Machos não castrados que vivem numa mesma casa podem começar a brigar ao detectar o cheiro de uma fêmea no cio, mesmo que ela esteja em outro prédio próximo ou em outro andar. Alguns machos também passam a demarcar a casa com urina, para infelicidade dos moradores.

Essa alteração comportamental não costuma ocorrer com machos castrados, mesmo se a castração ocorrer depois de adultos. Por isso, para evitar demarcações por urina ou até por fezes, recomenda-se castrar, principalmente os machos.

Proteção do território
Gatos são obsessivos por controlar seus territórios. Procuram conhecer todos os espaços e objetos. Só relaxam quando está tudo sob controle. Claro que alguns gatos relaxam antes que outros, mas, de maneira geral, não estão completamente à vontade até se acostumarem ao novo ambiente. Cheiros conhecidos os relaxam, enquanto que cheiros novos e diferentes deixam-nos excitados ou estressados.

Quando um gato percebe alguma coisa estranha ou diferente em seu território, procura observá-la e analisá-la. Ao cheirá-la, percebe se é algo realmente novo ou se já estava lá. Toma mais cuidado e analisa por mais tempo objetos com cheiros desconhecidos. Para não ter de checar o mesmo objeto por dias seguidos, até reconhecê-lo como parte do ambiente, pode demarcá-lo com seu cheiro, esfregando-se e urinando nele. Assim, no dia seguinte, quando for explorar o ambiente novamente, reconhecerá o cheiro e saberá que o objeto já foi analisado e que não é “perigoso”.

Isso explica por que alguns gatos fazem xixi em cima das compras que foram deixadas na sala ou sobre a mala de uma visita, em cima de tapetes ou mobílias novas. Nesses casos, a dica é esfregar a mão ou o corpo sobre o objeto novo, para deixá-lo com cheiro conhecido. Passar a mão no gato e em seguida no objeto novo ou fazer com que o gato se esfregue nele também são ótimas opções. Para estimular o gato a andar por cima do objeto, podem ser usadas brincadeiras, petiscos e até catnip (erva do gato).

Aventuras com os gatos

Photo credit: BAOCHUN.S / Foter / CC BY-SA
Photo credit: BAOCHUN.S / Foter / CC BY-SA

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Tenho verdadeira paixão por gatos. Acho que o meu interesse por diversas espécies de felinos me ajudou a conhecer mais profundamente o gato doméstico. Muitos dos seus comportamentos, bem como a verdadeira natureza felina, só são realmente compreendidos quando conhecemos e estudamos a estratégia de sobrevivência dos parentes selvagens. Neste artigo irei compartilhar algumas das minhas experiências com felinos.

Jaguatirica mansinha, só no filme Tainá II A jaguatirica Shiva ainda era filhote quando fez o papel de bichinho de estimação de uma indiazinha no filme Tainá II. Mas era extremamente agressiva e, de acordo com o roteiro, tinha que aparentar ser supermansa. Depois de algumas semanas de desespero total, pois não estavam conseguindo fazer nenhuma cena com ela, chamaram-me para amansá-la. Aceitei o trabalho e conseguimos fazer todas as cenas previstas no roteiro, mas Shiva continuou ranzinza e agressiva. Aprendi a identificar os estados de humor dela e, assim, eu conseguia avisar a indiazinha sobre quando podia passar a mão na jaguatirica e dar beijinhos, como fazê-lo e quando parar. Mas, se a indiazinha não interrompesse os carinhos no exato momento da minha recomendação, eu pulava como se fosse um goleiro defendendo o gol e tirava a jaguatirica de perto. A felina mastigava a minha mão e me arranhava inteiro. Uma vez ela resolveu levar para a casinha dela a minha mão e dormir com ela na boca, enquanto uma poça de sangue se formava logo embaixo. Eu não conseguia acreditar. Não sabia se chorava ou se dava risada. Apesar do mau humor de Shiva, procuramos tratá-la sempre com muito respeito. Afinal, esse é o nosso dever.

Tigres na Tailândia Enquanto estive na Tailândia, fui conhecer os bastidores de parques de conservação e zoológicos. Grande parte dos turistas volta para casa com a idéia de que filhotinhos de tigre são mansos. Para comprovar o que dizem, carregam uma foto deles mesmos dando mamadeira ao filhote. Pura ilusão. Os funcionários do parque sabem que o filhotinho só não representa perigo para o turista enquanto toma mamadeira. Começam a dá-la com o maior cuidado e antes de o filhote tomar tudo, o colocam rapidamente no colo do turista, batem as fotos e o retiram. A coisa é tensa, mas o turista nem percebe. Cheguei a ouvir comentários do tipo: “Pena que tem tanta gente para tirar foto, pois eu gostaria de continuar abraçando este bebezinho…”

Leões na África Tive a oportunidade de acompanhar uma pesquisa sobre alimentação dos leões na África do Sul por muitos dias e me deparei com algumas cenas interessantíssimas e chocantes. Num dos grupos de leões, houve uma mudança de líder e todos os filhotes do antigo líder foram mortos pelo novo. Foi uma cena horrível, pois algumas mães tentaram arduamente defender suas crias. A explicação é que o macho, ao fazer isso, em pouco tempo consegue deixar um grande número de descendentes. As fêmeas, quando ficam sem filhotes, entram logo no cio e cruzam com o novo líder, que será desta vez o pai dos novos filhotes produzidos!

Promiscuidade na Inglaterra Também acompanhei uma pesquisa científica na Inglaterra que testou a paternidade de diversos filhotes de gatos domésticos que viviam com seus proprietários. Para surpresa dos pesquisadores e, mais ainda, dos proprietários dos gatos, os filhotes geralmente não eram do gato macho que vivia na casa. Grande parte das fêmeas tinha se acasalado com um macho vindo de outra casa, na maioria das vezes sem que o proprietário da fêmea notasse. A explicação dos cientistas foi que as fêmeas, intuitivamente, procuravam aumentar a diversidade genética com machos de outro grupo, além de procurar machos mais ousados, com condições de invadir o território alheio.

Zoológico de Lisboa Ao visitar o Zôo de Lisboa, há uns 5 anos, notei que a maioria dos felinos apresentava comportamentos estereotipados ou compulsivos. Por falta de espaço e de atividades para desenvolver, os animais ficavam andando de um lado para outro, exatamente da mesma forma. Cheguei a gravar essas cenas por horas em fitas e fiquei impressionado ao assistir a elas: quando as adiantava, via os animais repetindo os comportamentos exatamente da mesma forma, inclusive as levantadas de perna e as sacudidas de cabeça. Uso essas imagens para demonstrar como é importante cuidarmos da qualidade dos recintos dos felinos, incluindo aí as nossas casas. Espero que os recintos do Zôo de Lisboa já tenham sido melhorados.

Pegar bolinha: o gato também aprende!

Photo credit: tinney / Foter / CC BY-SA
Photo credit: tinney / Foter / CC BY-SA

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

É quase impossível encontrar pessoas que já tenham ensinado truques a seus gatos. Embora esse tipo de treino demande um pouco mais de paciência e de tempo do que ensinar cães, o resultado é muito mais impressionante. Até truques simples deixam as visitas de boca aberta!

Quando um gato é ensinado com reforços positivos cria-se um maior entendimento entre ele e o proprietário. Não só porque o felino associa a pessoa com momentos agradáveis e estimulantes, mas também porque ao ensiná-lo prestamos mais atenção ao comportamento dele e, com isso, passamos a compreendê-lo melhor.

Buscar bolinha e entregá-la ao proprietário é uma brincadeira que entretém e exercita o gato. Quando se sabe ensinar, não é difícil obter êxito. É apenas necessário ter paciência.
Nunca force o gato a fazer algo contra a vontade. Isso não funciona e pode atrapalhar o convívio com ele. Gatos possuem ótima memória. Se você tiver de interromper o treino por dias, eles irão se lembrar perfeitamente do que já aprenderam. Já treinei gatos para comerciais que lembraram dos comandos depois de ficarem um ano sem tê-los recebido! Na média, em duas semanas um bom treinador adestra o bichano a buscar bolinha e a entregá-la, com meia hora de treino por dia. Acho que uma pessoa leiga, mas que leve jeito, consiga bom resultado em um mês. Não há necessidade de adestrar todos os dias e nem de estabelecer um tempo mínimo ou máximo para os treinos. Enquanto o gato estiver interessado ou se divertindo, o adestramento poderá continuar.

O primeiro ponto importante é que haja uma troca positiva para o gato sempre que ele fizer o que esperamos. Para motivá-lo, o que mais funciona é dar a ele um petisco que adore.
Quanto mais o gato demorar a saciar a gula, por mais tempo será possível treiná-lo. Por isso, o petisco deverá ser bem pequeno. Gatos com comida disponível o tempo todo costumam ser mais difíceis de treinar, pois passam a não dar valor ao alimento. Na natureza, os animais precisam caçar para comer. Por isso, alimentá-los durante brincadeiras ou dificultar um pouco o acesso à comida costuma aproximá-los mais do seu instinto. Não se sinta mal, portanto, ao restringir um pouco a alimentação.

O principal erro cometido por quem não sabe como ensinar o truque é querer recompensar o gato só se ele fizer o exercício completo, depois de buscar a bolinha e de entregá-la. A técnica correta é recompensar cada pequeno comportamento que contribui para o que queremos. Aumentar muito a dificuldade do treinamento frustra o proprietário e o gato. Avance, portanto, aos poucos. E incremente a dificuldade somente quando o gato entender exatamente o que se espera dele, na fase em que se encontra.

No início, devemos deixar o gato interessado na bolinha. Não só em brincar com ela, e sim realmente em capturá-la. Para isso, você pode usar uma bolinha de papel com um petisco bem gostoso dentro. Depois de arremessá-la, o gato a agarrará e, ao perceber que há um petisco dentro, o comerá. Se não perceber, podemos deixar o petisco mais óbvio no início, ou seja, não tão embrulhado no papel.

Com o tempo, o gato se interessará em ir atrás de qualquer bolinha de papel, para checar se há petiscos dentro. Quando isso acontecer, você poderá passar para a nova fase. Nela, o objetivo é mostrar ao gato que quando ele estiver com a bolinha de papel na boca pode ganhar de você uma guloseima melhor ainda, pois não precisa ser desembrulhada. Para tanto, é preciso agir rápido assim que o gato pegar a bolinha. Coloca-se praticamente o petisco na boca dele, para que o coma e solte a bolinha.

Nessa fase, a bolinha continua com a guloseima dentro, para o gato não perder o interesse por ela. Caso contrário, ele preferirá seguir você e ignorar o brinquedo. Mesmo assim, ao perceber que é muito mais fácil saborear o petisco que vem de você, ele poderá ignorar a bolinha. Se isso acontecer, não deixe que ele veja o petisco na sua mão e espere que se interesse novamente pela guloseima dentro da bolinha.

Somente quando o gato pegar a bolinha com a boca você revelará que tem um petisco e o dará. Depois de várias repetições, o gato perceberá que, para ganhar o petisco da sua mão, deve ficar com a bolinha na boca.

A fase final começa quando o gato passa a se aproximar de você depois de ter agarrado a bolinha. A partir daí, é só recompensá-lo toda vez que ele lhe trouxer a bolinha, que não precisará mais conter petisco. Boa sorte e bom divertimento para você e seu gato!

Curiosidades sobre os gatos

Photo credit: Tambako the Jaguar / Foter / CC BY-ND
Photo credit: Tambako the Jaguar / Foter / CC BY-ND

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Gato enxerga no escuro?
Gato não consegue ver no escuro total, ao contrário do que se pensa. Mas precisa de muito menos luz do que as pessoas para enxergar. No escuro total, além de contar com o olfato, a audição e o tato, tem a ajuda dos bigodes para não bater a cabeça nem ralar a ponta do nariz.

Como descer de árvores altas 
As garras do gato, em forma de gancho, funcionam bem para escalar troncos. Mas deixam de funcionar com o corpo na posição invertida, de descer. Ele não sabe que conseguiria ir para baixo se ficasse na posição de subir e fizesse ré. Quando o gato está em local muito alto e desconhece a técnica (o aprendizado ocorre por observação ou prática), pode entrar em pânico. Daí aquela cena, típica de filmes americanos, em que bombeiros aparecem e resgatam o felino. Para ensinar um gato a descer, podemos colocá-lo num tronco na posição de subir e estimulá-lo a fazer ré com um petisco na ponta de uma varinha.

Carinho ou demarcação?
Gato gosta de deixar seu cheiro em tudo. Quando se esfrega na gente, ele faz carinho e aproveita para deixar o cheiro dele. A parte que os gatos mais esfregam em nós e em outros gatos é a que fica um pouco abaixo das orelhas, onde a maioria deles tem menos pêlos. Como o cheiro vem da pele, essa área menos protegida é a que melhor transfere o odor.

Borrifos de urina
Em vez de levantar a perna como os cães machos, o gato fica de costas, levanta a cauda e borrifa a urina para trás. Esse comportamento (um dos que os donos mais odeiam) é típico de macho não castrado, mas as fêmeas e os machos castrados também podem adotá-lo.

Disfarce para a dor
É comum o gato não dar sinal quando sofre desconforto ou dor. Ou, então, ficar escondido até que o incômodo passe. Esses disfarces evitam mostrar fraqueza — os demais gatos poderiam se aproveitar da situação e expulsá-lo. Por ser instintivo, o comportamento ocorre mesmo quando não há gato por perto.

Ouvir ratos cantores
Para atrair uma parceira, o rato canta como passarinho, mas em ultra-som (freqüência captada por alguns animais, mas não por seres humanos). Capaz de direcionar as orelhas, o gato descobre em segundos de onde vem a cantoria.

Aprendiz privilegiado
A habilidade para aprender alguns comportamentos pela simples observação é mais acentuada e mais fácil de ser demonstrada no gato do que no cão. Apesar de mais independente que o cão, o gato é capaz de aprender a obedecer a comandos.

Autolimpante
A maioria dos gatos pode passar a vida inteira sem tomar banho e sem apresentar problemas por causa disso! Obsessivo com sua limpeza, o gato procura retirar do pêlo qualquer odor ou sujeira. A exceção fica por conta dos que têm pêlos muito longos. Esses costumam precisar de ajuda, inclusive com banhos e escovação. As pessoas têm o hábito de dar banho em gatos para deixá-los mais cheirosos, retirar pêlos “mortos”, tratá-los de doenças de pele ou, ainda, para controlar a alergia de alguém que convive com eles.

Lixa na língua
Quem já foi lambido por cão pode se assustar ao sentir a textura da língua do gato, áspera como lixa. Uma das funções dessa aspereza é facilitar a limpeza da pelagem e a remoção dos pêlos mais velhos e soltos.

Maníacos por caça
Gatos passam a vida caçando. Seja em caçadas verdadeiras, seja por meio de brincadeiras. Na maioria das vezes, adotam a técnica do golpe certeiro. Para isso, o gato se aproxima disfarçadamente da presa e espera o momento apropriado. Na caça ao rato, por exemplo, o bote é dado no instante em que a presa quase desaparece atrás de um objeto. Assim, quando ela perceber o que acontece, será tarde demais. Um fiozinho prestes a sumir do campo de visão simula o rabo de um rato. Instintivamente, mesmo que nunca tenha caçado um roedor, o gato pulará para agarrá-lo.

Vomitar bolas de pelo 
Ao se limpar ou ao lamber outro gato, o bichano ingere muitos pêlos e pode ter problemas. A prevenção e o tratamento incluem escovação, banhos e produtos especializados.

Vôo livre
Gatos se jogam ou caem de prédios com bastante freqüência, apesar de preparados para explorar alturas. Não é tentativa de suicídio. Eles querem conhecer outros ambientes. Queda acidental também ocorre, em geral a partir de parapeitos de janelas. Pode ser por um movimento em plena soneca, por um escorregão ou pela perda de equilíbrio ao pular sobre um objeto solto. O curioso é que a partir da altura do sexto andar, o risco de fraturas e de morte não aumenta. Muitos gatos já saíram ilesos de quedas altíssimas.

Os tipos de donos de gatos

Photo credit: hisashi_0822 / Foter / CC BY-SA
Photo credit: hisashi_0822 / Foter / CC BY-SA

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Dono de gato é diferente?
O que há em comum entre donos de gatos? O que faz uma pessoa apreciar gatos? Quem gosta de gatos é diferente de quem não gosta? Se sim, no quê? Perguntas como essas foram formuladas por pesquisadores de psicologia e zoologia num estudo científico publicado no livro “Man and cat, the benefits of cat ownership”, de Reinhold Bergler.

De 298 donos de gatos pesquisados com o auxilio de uma ferramenta estatística, 258 se encaixaram em um de seis diferentes perfis psicológicos. Se você tiver gato, portanto, sua chance de pertencer a um desses perfis é elevada. Conheça-os:

Amorosos boas-vidas – “easy going ones” (30%)
Esse tipo é formado, geralmente, por pessoas muito satisfeitas consigo mesmas, bem como com seu estado de saúde e com o ambiente no qual vivem. Para elas, brincar e se divertir é parte integrante da vida. Praticamente não sentem solidão. Vêem a si próprias como bastante emotivas e consideram seus gatos importantes para o bem-estar emocional delas. Convivem com eles de modo natural e tranqüilo e lhes dedicam bastante atenção e tempo. Comentam com a família e amigos o amor que sentem por seus gatos.

Para elas, ter gato em nada prejudica o modo de vida. Acreditam que os felinos fazem parte de suas vidas — não querem viver sem eles. Deixam clara a intenção de adquirir outro gato quando o atual morrer. Mostram preocupação com as conseqüências para o gato caso venham a mudar de casa ou a falecer.

Racionais (18%)
Vêem nos gatos principalmente os benefícios práticos, como caçar ratos. Essas pessoas prezam muito a mobilidade e a independência. Acreditam ser bastante comunicativas, relatam não ter sentimentos de solidão e não ser muito emotivas. Não são de brincar muito com os gatos nem de se derreter de amor por eles. Mencionam como possíveis desvantagens de ter gato os gastos que ele causa, os eventuais conflitos familiares ou com vizinhos decorrentes da presença dele, a destruição de objetos da casa e a possibilidade de transmissão de doença aos moradores. Mas demonstram haver um apego. Apesar de prezarem a mobilidade, não parecem se preocupar com as restrições que podem ser ocasionadas pela posse de um gato. Demonstram, também, preocupação com o que acontecerá ao felino deles caso venham a falecer.

Emocionais (13%)
A maior parte desse grupo é formada por mulheres que se consideram muito influenciadas por seus sentimentos. Elas querem estar com outras pessoas ou animais — não gostam de ficar sozinhas. Seu apego ao gato só perde para o do grupo “Otimistas”. Passam bastante tempo com seus gatos e compartilham com eles momentos de alegria e de tristeza. Demonstram preocupação apenas com a redução da mobilidade resultante da posse de gato e com a possibilidade de ele ficar sem lar quando falecerem. Temem, também, o sofrimento que a perda do gato poderá lhes causar.

Sem problemas (12%)
Este grupo muito raramente associa a posse de gatos a algum problema, seja social, psicológico ou de saúde. São pessoas que consideram fácil manter gatos e os relacionam com sentimentos de alegria e afeição. Fazem carinho neles e os abraçam, mas sem exagero. Não sentem necessidade de treiná-los nem tendem a humanizá-los (atribuir características humanas a eles). Apegadas ao gato, demonstram esse apego, que para elas é normal e óbvio.

Otimistas (9%)
Os gatos provocam nesse grupo emoções e sentimentos fortes. O apego a eles é intenso. Esses proprietários brincam com seus gatos, dão-lhes amor, falam com eles e com eles se distraem. Os gatos lhes proporcionam alegria de viver e um ambiente mais gostoso e calmo. Permitem ao gato acesso a todos os cômodos da casa. A restrição na mobilidade para viajar é a única desvantagem que vêem. Não expressam preocupação com o risco de transmissão de doença, nem com o destino do gato caso venham a adoecer ou a falecer.

Neutros (5%)

É o grupo que menos envolvimento afetivo desenvolve com os gatos. Constitui-se, na maior parte, de homens, principalmente pais de família que foram convencidos a ter gatos pela mulher ou pelo filho. Para essas pessoas, não é muito importante brincar nem ter distração no dia-a-dia. Não se julgam muito afetuosas e não conhecem o sentimento da solidão. Não acham que gato atrapalhe a vida delas. Comentam facilmente as desvantagens de ter um, sem ver muitas vantagens nisso. Dedicam pouquíssimo tempo ao gato e não pretendem adquirir outro exemplar quando o atual vier a morrer.

Síndrome das alturas

Photo credit: nanaow2006 / Foter / CC BY
Photo credit: nanaow2006 / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

As pessoas associam gatos com habilidade para lidar bem com altura. Poucas imaginam que seu próprio gato poderá um dia cair ou se jogar de um lugar alto demais, como do vigésimo andar. Por isso, não se preocupam em tomar precauções para protegê-lo. Mas, infelizmente, gatos caem de janelas de prédios altos com relativa freqüência. E muitos proprietários só ficam sabendo que o felino deles corria esse perigo depois de o perderem.

“Epidemia” na primavera
Nos Estados Unidos, com a primavera vem um aumento significativo da quantidade de gatos que sofrem queda de edifícios. É quando muitos donos dão, involuntariamente, condições para que esses fatos aconteçam, ao abrirem suas janelas após um inverno rigoroso. Por isso, a American Society for the Prevention of Cruelty to Animals (ASPCA) costuma alertar proprietários de gatos de todo o país, no início da primavera, sobre esses acidentes, para evitar que as quedas se tornem “epidemia”.

Aterrissagem surpresa
Na maioria dos acidentes, os gatos não se jogam. Eles caem. Muitos deles têm o hábito de pular para chegar na sacada de uma janela e acabam escorregando na aterrissagem, por distração ou por haver algo diferente no local onde costumam se apoiar. Por exemplo: orvalho, um objeto novo no beiral ou ausência de um ponto de apoio presente até então, como um aparelho de ar-condicionado. Gatos com aptidões físicas restritas, como os mais idosos e os muito novos, correm muitos mais riscos.

Pior que pesadelo
Os gatos também têm, como nós, diversas fases de sono, inclusive a REM, quando sonham. Nesses momentos podem fazer movimentos inconscientes e cair se estiverem num beiral.

Tudo por uma caçada
Um inseto ou passarinho no lado de fora do apartamento podem atrair tanto a atenção do gato a ponto de ele tentar caçar e acabar caindo. Esse tipo de acidente é muitíssimo comum com filhotes que querem brincar com tudo e ainda não desenvolveram bem o equilíbrio.

Em busca de aventura
Alguns gatos podem pular de propósito da janela, querendo apenas dar uma voltinha, principalmente quando o apartamento não é muito alto. A chance de isso acontecer aumenta entre os machos não castrados, as fêmeas no cio e os gatos que viveram parte da vida soltos.

Equipado para quedas
Os gatos desenvolveram comportamentos específicos, fisiologia e anatomia próprias para enfrentar quedas grandes. Mas podem se machucar até mesmo num pulo ou numa queda de pouco mais de um metro. Principalmente quando são idosos ou obesos. É comum que os gatos mostrem receio de saltar alturas a partir de dois metros, mas podem optar por enfrentar alturas bem maiores se não encontrarem alternativa.

Quando em queda livre, por meio de uma rotação que se inicia pela cabeça, esses felinos conseguem ficar em décimos de segundo com as patas para baixo, a partir de qualquer posição. Além disso, suas patas funcionam como potentes amortecedores, com musculatura capaz de absorver o impacto do corpo até uma velocidade próxima a 90 km/ h. Essa velocidade é atingida por um gato ao cair do 6º andar de um prédio.

Pára-gatos
Um estudo publicado no Journal of the American Veterinary Medical Association, em 1987, examinou 132 casos de gatos que caíram de janelas (altura média equivalente a 5,5 andares) e constatou que 90% deles sobreviveram.

Quanto maior a altura das quedas, mais ferimentos e ossos quebrados os gatos apresentaram. Mas o incremento ocorreu até a altura equivalente a sete andares, quando os ferimentos, em vez de aumentar, começaram a diminuir! Ou seja, um gato que cai do 20º andar tem mais chances de sobreviver do que um gato que cai do 7º andar! Como isso é possível? Estudos mostraram que quando o gato cai do 6º andar, atinge a sua velocidade máxima de cerca de 90 km/h em queda livre pouco antes de tocar o solo. Depois que essa velocidade é atingida, a resistência do ar se torna tão grande que impede maior aceleração. Portanto, o impacto de cair do 6º andar ou de cima das nuvens é o mesmo, em se tratando de um gato.

O motivo que leva o gato a se machucar menos quando cai de mais alto é bastante discutido. A teoria mais aceita é que o sistema de amortecimento funciona melhor após alguns ajustes que são feitos durante a queda. Com mais tempo para se organizar, o gato consegue tornar mais eficiente o uso de seu corpo e obter um melhor efeito de amortecimento.

Descobertas que ajudam a cuidar bem do seu gato

Photo credit: Jamie In Bytown / Foter / CC BY
Photo credit: Jamie In Bytown / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

O conceito atual de bem-estar dos animais está concretamente relacionado à saúde física e mental deles. E, de maneira mais subjetiva, à sua alegria de viver. Busca-se, ainda, viabilizar a expressão do comportamento natural da espécie.

Centros de pesquisa procuram descobrir as variáveis importantes para o bem-estar dos gatos. Por serem constatações científicas, normalmente se baseiam em mensurações concretas. Abaixo descrevo algumas conclusões de tais estudos, reunidas e discutidas pela pesquisadora Irene Rochlitz, de Cambridge, na Inglaterra, e que serão publicadas em breve numa revista científica famosa.

Tamanho do espaço disponível
Por não poder explorar novas aéreas, o gato mantido dentro de casa deixa de praticar um comportamento natural da espécie, que é percorrer até mais de dois quilômetros numa noite. Um estudo com gatos castrados concluiu que as fêmeas se adaptam melhor a pequenos espaços do que os machos. Mesmo castrados, eles precisam de um território maior que o delas. O estudo concluiu também que o gato, em ambiente interno, deve ter pelo menos dois cômodos à disposição. E que, a partir de um mínimo de área, a qualidade do espaço importa mais do que o ambiente em si.

É ideal que o gato possa explorar o ambiente vertical. Esconderijos (como armários) e locais elevados que aumentam a área de visão (como prateleiras e mesas), influenciam o bem-estar felino e, mesmo que não sejam usados freqüentemente, conferem segurança por proporcionar refúgio em situações adversas.

Objetos à disposição
Alguns objetos fundamentais devem estar sempre presentes, como brinquedos e arranhadores. Esses últimos permitem que o gato “afie” as unhas e que deixe seu cheiro e marca no ambiente. Um estudo constatou que os locais da casa preferidos pelos gatos para o arranhador são a entrada dos ambientes e a área perto de onde descansam. Brinquedos não precisam parecer naturais nem ser coloridos — às vezes, uma bolinha de papel faz mais sucesso do que um objeto caro.

Área de alimentação e de defecação
Muitos sabem que o gato prefere não fazer as necessidades próximo de onde come. Foi descoberto também que ele gosta mais de tomar água longe da comida! É um detalhe importante, pois se o gato ingerir menos água do que o adequado, poderá ter problemas físicos ao longo da vida. Há ainda gatos que só parecem beber a quantidade ideal se a água for corrente e se estiver distante da comida. Já existem “fontes” para gatos, mas não se sabia da sua importância para a saúde do bichano.

Há gatos que monopolizam uma área. Poucas pessoas percebem quando esses exemplares, deitados na frente da porta, intimidam a passagem de outros. Portanto, onde houver mais de um gato, convém criar mais áreas de defecação, alimentação e repouso.

Contato social
Alguns gatos podem ficar seriamente doentes se mantidos isolados. O cérebro é “moldado” para um determinado tipo de vida pelo período de sociabilização. O gato sociabilizado com seres humanos pode sofrer na ausência deles, enquanto que o não socializado pode se estressar sempre que um humano estiver em “seu” território. De maneira geral, a presença humana é bem menos importante para gatos que vivem na presença de outros — a carência afetiva parece ser suprida pelas demais companhias felinas.

Estudo feito com dezenas de gatos castrados constatou que grande parte deles prefere ficar fora do campo visual de outro gato. Ou, pelo menos, manter um a três metros de distância. Sempre que possível, essas possibilidades devem ser proporcionadas pelo ambiente.

Estímulos sensoriais
O bem-estar físico e psicológico também se relaciona com a quantidade de informação que o cérebro deve processar. Muita ou pouca informação pode gerar problemas psicológicos e físicos! Por isso, ao levarmos um gato para outra casa, devemos antes confiná-lo em um quarto até se acostumar, para evitar estímulos demais. Só depois o liberamos para o restante da casa. O ideal é conhecer bem a sensibilidade do seu gato e oferecer estímulos na medida certa. Quanto melhor socializado ele for, mais estímulos poderá tolerar.

Algumas maneiras de tornar o ambiente estimulante são: deixar um roedor passear por lá quando não houver risco para ele deixar seu cheiro; dar acesso às janelas; trazer brinquedos e objetos novos periodicamente e receber visitas. Existe a possibilidade de saber se o ambiente está de acordo com as necessidades do gato pela mensuração na saliva, nas fezes e no sangue dele do hormônio do estresse, cortisol.

Ideias modernas sobre como dar bem-estar aos gatos

Photo credit: JerryLai0208 / Foter / CC BY-SA
Photo credit: JerryLai0208 / Foter / CC BY-SA

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Encontrar modos de detectar se o gato de estimação é criado em condições adequadas para seu bem-estar, com base em observações científicas, é um trabalho desenvolvido pela pesquisadora Irene Rochlitz, de Cambridge, na Inglaterra. Em breve ela publicará um artigo a respeito do assunto numa revista científica famosa.

Trabalhos como esses influenciam novas leis que determinam condições mínimas para ter animais de estimação. Na minha opinião, tais cuidados não devem ser avaliados como uma camisa-de-força, e sim como informações úteis para darmos vida mais digna aos animais que queremos ter a nosso lado.

Cada vez mais a sociedade, pressionada pela opinião pública e pelas associações de proteção aos animais, procura defender os direitos dos animais. Na maioria dos países, inclusive no Brasil, os maus- tratos constituem crime!

Alguns países se preocupam mais que outros com a proteção aos animais. Na Inglaterra, por exemplo, gatis, laboratórios e zoológicos precisam seguir à risca todos os cuidados impostos por lei e os estipulados por conselhos éticos e federações. Por isso, procuro estar sempre antenado com o que acontece por lá. Pode ser um possível norte para nós. É possível, ainda, aproveitarmos o que deu certo e rejeitarmos ou alterarmos o que não funcionou bem.

Maus-tratos
O que é considerado delito de maus- tratos? Espancar um animal e mantê-lo em local anti-higiênico são alguns dos crimes previstos em lei. À medida que o respeito pelos animais evolui, novas situações poderão ser consideradas como maus- tratos e incorporadas à legislação.

Cinco liberdades para o bem-estar
De maneira bem resumida, vou descrever os principais pontos considerados fundamentais para o bem-estar dos gatos, pela pesquisadora Irene Rochlitz. Ela utilizou a estrutura chamada “Cinco liberdades”, já adotada para animais de fazenda em países como Inglaterra, Canadá, Estados Unidos e Suécia. Essas liberdades são:

Liberdade 1: Estar livre de fome, de sede e de má nutrição;
Liberdade 2: Estar livre de desconforto;
Liberdade 3: Estar livre de machucados, de dor e de doença;
Liberdade 4: Estar livre para expressar comportamento normal da espécie;
Liberdade 5: Estar livre de medo e de estresse excessivo.

Pré-requisitos das liberdades

Estar livre de fome, de sede e de má nutrição:
É preciso oferecer ao gato, no mínimo, duas a três refeições por dia, balanceadas de acordo com a fase do desenvolvimento em que se encontra, em quantidade que não o deixe magro demais nem obeso. Se o gato não estiver obeso, não constitui maus-tratos manter comida permanentemente ao alcance dele. O acesso a água fresca e potável deve ser possível a qualquer momento.

Estar livre de desconforto:
Significa que o gato necessita de uma área adequada, com luminosidade apropriada (curiosidade: os gatos não enxergam no escuro total!), isenta de odores muito fortes, de temperaturas extremas e que permita abrigar-se do sol, do vento e da chuva. O nível de ruídos deve ser baixo. A área precisa ser mantida limpa.

Estar livre de machucados, de dor e de doença:
Os cuidados abrangem manter o gato sem parasitas internos e externos, com a vacinação em dia e, sempre que necessário, com acesso imediato a veterinário. É preciso, também, que o gato esteja identificado por meio de coleira ou microchip.

Estar livre para expressar o comportamento normal da espécie:
Brincar e se relacionar com outros gatos e humanos, além de caçar, são comportamentos cuja manifestação deve ser livre para o gato. A caça a presas reais tem causado polêmica. Os argumentos são que o animal caçado acaba não tendo seus direitos preservados e que a prática pode causar desequilíbrio ambiental, com impacto negativo para a ecologia. Pode-se substituir a caça por brinquedos e brincadeiras que a simulem.

Estar livre de medo e de estresse excessivo:
Não se deve submeter o gato a estímulos que possam provocar reações como pânico ou medo contínuo. A preocupação deve ser com relação à reação causada no gato e não com o estímulo em si. Por exemplo, a presença de visitas na casa pode ser agradável para um gato e ameaçadora para outro. Quem zela pela existência das cinco liberdades permite que o gato usufrua ótima qualidade de vida.

Vida sexual dos gatos

Photo credit: andrewXu / Foter / CC BY-SA
Photo credit: andrewXu / Foter / CC BY-SA

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Reprodução e prazer
A gata só aceita copular quando está em condições de se reproduzir. Não quer dizer que ela não tenha prazer com isso, como muita gente costuma pensar. Mas, por influencias hormonais, só tem vontade de cruzar e de sentir prazer com a cópula nos períodos em que se encontra “fértil”. Já o macho está disposto a cruzar o tempo todo e o desejo dele aumenta diante das fêmeas no cio.

Cio fisicamente discreto
Os gatos tornam-se aptos a se reproduzir em torno do quinto e do nono mês de vida. É quando ocorre o primeiro cio da fêmea. Nas gatas, as alterações físicas são menos evidentes do que nas cadelas. A vulva não fica inchada e nem há sangramento. Mas normalmente surgem alguns comportamentos atípicos ou intensificados, como a gata se esfregar em pessoas, em outros gatos ou em objetos; miar freqüentemente; ficar ansiosa e agitada; parar de comer; querer sair e arrebitar o traseiro quando acariciada. Ela pode também montar em gatos ou gatas e até estimular fêmeas a montá-la.

Na presença desses comportamentos, muitos proprietários acreditam que a gata está com problema e chegam a levá-la ao veterinário. Outras fêmeas alteram tão pouco o comportamento durante o cio que os proprietários só se dão conta do que aconteceu quando elas já estão prenhes!

Monta sem sexo
A monta, ou seja, o ato de um gato subir em cima do outro como se estivesse pronto para cruzar, deixa muitas pessoas embaraçadas, principalmente quando ocorre entre duas fêmeas ou dois machos. Gatos montam uns nos outros também para brincar e, em alguns casos, para subjugar o competidor, como o cão dominante faz com o submisso.

Ovulação sem desperdício
A ovulação só ocorre quando a gata acasala. Dessa maneira não há “desperdício” de óvulos. Estudos mostram que, sem penetração, a gata não ovula, nem mesmo quando um macho monta nela. O óvulo liberado tem, portanto, destino certo — ser fecundado por espermatozóide já presente no sistema reprodutivo da gata.

Sexo “selvagem”
O ato sexual dos gatos costuma assustar ou surpreender algumas pessoas e proprietários, já que acontece com uma certa agressividade. O macho morde a “nuca” da fêmea e posiciona-se em cima dela. A penetração e a ejaculação ocorrem rapidamente, em apenas alguns segundos. Assim que o gato retira o pênis, a fêmea dá um miado forte e o ataca! Após algum tempo, ela pode se oferecer novamente ao mesmo macho. E, em um período de 24 horas, copular várias vezes.

Variações na libido
Há grandes variações em relação à libido dos gatos machos, tanto entre raças como entre indivíduos. O gato com baixa libido pode não se interessar por fêmea no cio ou desistir rapidamente diante de qualquer resistência dela. Às vezes, um gato “submisso” não demonstra interesse pela fêmea até a retirada do gato mais “dominante”.

Curiosamente, a erva chamada cat nip pode estimular sexualmente os gatos. Recentemente, ao treinarmos alguns deles para um comercial, lançamos mão do uso de tal erva e tivemos que parar temporariamente o treino, pois quase todos os gatos começaram a cruzar, mesmo estando no estúdio!

Escolha de parceiros
Em ambiente natural, a fêmea pode escolher o macho com quem quer acasalar. Uma das técnicas utilizadas por ela é simplesmente esperar um pouco e deixar o gato mais forte espantar ou inibir os outros. Dessa forma, a gata procria com o macho poderoso, capaz de dominar um grande território.

Um experimento científico conduzido na Inglaterra demonstrou, por meio de testes de DNA, que raramente as fêmeas domésticas com filhotes haviam cruzado com o gato da casa quando tinham acesso a outro pretendente. E, na maioria dos casos, os proprietários nem sequer imaginavam que os filhotes não eram do gato macho deles!

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