Mitos e verdades sobre adestramento

Photo credit: Amy Loves Yah / Foter / CC BY
Photo credit: Amy Loves Yah / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

Mesmo sendo bem difundido e relativamente fácil de ser encontrado, o serviço de adestramento não é usufruído por boa parcela da população que poderia se beneficiar com ele. Há também pessoas que, sem ter ideia correta sobre a função desse treino, contratam um adestrador com expectativas irreais e ficam frustradas com o resultado. Procuro esclarecer aqui alguns conceitos bastante difundidos, para melhor entendimento deste importante assunto.

Mitos

“O cão só obedece ao adestrador”
Se fosse verdade que o cão só obedece a quem o treinou, como seria possível preparar cães guias de cego, já que os portadores de deficiência visual não têm como fazê-lo? É provável que o mito nasceu da frustração de donos cujos cães depois de adestrados apenas apresentam melhora de comportamento e obediência quando estão com o adestrador. Na verdade, essa diferença de atitudes acontece não exatamente por causa da pessoa do adestrador. Mas porque o cão, por ser inteligente, associa a validade de uma regra a um determinado contexto. Para ele agir do mesmo modo com seu dono e com o adestrador é preciso que ambos usem os comandos em contextos semelhantes. Sem o envolvimento com os métodos do adestrador, o dono do cão e seus familiares jamais obterão os mesmos resultados que o adestrador consegue.

“Não vou adestrá-lo pois não quero um robô!”
Essa frase superestima o poder do adestramento e subestima a inteligência canina. Engana-se quem acha que o cão aprende um determinado comando e passa a obedecê-lo como uma máquina. Ele nos obedece por estar interessado em alguma troca. Seja para ganhar algo que goste ou para evitar algo que não goste. Além da troca, existe a questão da hierarquia. Um cão dominante pode oferecer resistência e não obedecer a comandos de uma pessoa, mesmo que esteja interessado na troca, por se considerar em nível hierárquico superior ao dela.

“Cães só devem ser adestrados após os seis meses de idade”
Muitos acham que não podem adestrar o cão antes que ele atinja meio ano de vida. Esperam impacientemente que complete essa idade para procurarem um adestrador. Mas os cães aprendem o tempo todo, independentemente do que achamos. Por meio do adestramento ensinamos o que queremos e o que julgamos ser importante. Isso deve ser feito durante toda a vida do cão, com ou sem a supervisão de um profissional de adestramento.

“Meu cão é muito burro, não aprende nada!”
Cuidado com essa frase. Provavelmente ela diz mais a respeito da sua técnica de ensino do que sobre a inteligência do seu cão! Cães aprendem com bastante facilidade, mesmo os menos inteligentes. Executar comandos básicos é algo facílimo para eles. Portanto, se o seu cão não obedece, não deve ser por burrice. Questione a sua didática e o interesse que consegue despertar no seu aluno canino com o que você oferece a ele.

“Só cães de grande porte devem ser adestrados”
Cães de qualquer tamanho podem ser beneficiados pelo adestramento. Lembre-se: adestrar é educar. Cães pequenos também podem destruir objetos, atacar pessoas e não obedecer aos proprietários!

Verdades

“O cão só obedece por interesse”
É isso mesmo. E não deveríamos achar ruim o cão gostar de recompensas. Quem trabalha de graça? Mesmo quando não buscamos dinheiro, queremos nos sentir recompensados de alguma maneira. O mesmo princípio é válido com os cães. Para obtermos maior influência sobre o comportamento deles devemos sempre procurar identificar quais estão sendo as trocas, mesmo que elas não sejam óbvias.

“Até os cães mais velhos podem aprender”
Correto. Da mesma maneira que as pessoas mais idosas também aprendem. Alguns hábitos praticados durante toda a vida podem ser um pouco mais difíceis de modificar. Mas, na maioria das vezes, a capacidade do cão para se adaptar a novas regras é surpreendente. Não existe uma idade determinada para o cérebro bloquear novos aprendizados. Portanto, acredite no seu cão velhinho!

Depende… 

“Cães não gostam de ser adestrados”
Isso está muito relacionado com a técnica que o adestrador utiliza. Algumas são embasadas em recompensas e reforços positivos; outras, em punições e reforços negativos. Cães treinados com reforços positivos e recompensas gostam muito mais das aulas dos que os treinados com punições. Mas os cães ensinados com reforços negativos também podem gostar delas. Ter contato social, sair para passear, ser estimulado é tão importante para eles que os reforços negativos e as punições ficam em segundo plano.

Do lobo ao cachorro doméstico

Photo credit: Tambako the Jaguar / Foter / CC BY-ND
Photo credit: Tambako the Jaguar / Foter / CC BY-ND

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

Muitos comportamentos do cão são herdados. E só podem ser realmente compreendidos se levarmos em conta a história evolutiva da espécie. Alguns deles, como a gravidez psicológica, abordada nesta seção (edição 315), deixaram de fazer sentido no modo de vida atual. Outros adquiriram funções diferentes. Por exemplo, a capacidade de seguir um rastro para capturar uma presa é hoje aproveitada para busca e salvamento.

Ao contrário do que muita gente pensa, ainda não sabemos exatamente como ocorreu a domesticação do cão. Acreditava-se que teria sido há cerca de 15 mil anos. Descobertas arqueológicas referentes àquela época mostraram cães enterrados com seres humanos em posições que sugeriam afetividade entre eles. Estudos recentes de DNA mitocondrial (tipo de DNA que permite estimar separações entre grupos de animais) apontam para a separação entre o cão e o lobo há mais de 100 mil anos! Uma teoria lança a ideia de que o cão já havia se separado do lobo antes mesmo do contato com seres humanos. Com isso, o homem deixaria de estar na posição de “criador” do cão.

Está cada vez mais certo que o cão doméstico se originou do lobo cinzento (Canis lupus) ou de um ancestral comum muito próximo. Teorias antigas levantavam hipóteses de o cão ter sido originado a partir de coiotes, chacais ou outros lobos. Mas essas idéias foram abandonadas depois de analisado o DNA de cada espécie e de se ter constatado que o lobo cinzento e o cão possuem DNA quase idênticos.

Muitos estudos sobre diferenças e semelhanças entre lobo e cão procuram mostrar a influência humana na seleção das características comportamentais do cão atual. As semelhanças entre as duas espécies são muito grandes. Desde a comunicação corporal, feita com sinais de submissão e dominância, até o comportamento de ataque e a inteligência para resolver problemas complexos.

Outro fato interessante é que a seleção realizada pelo homem especializou os cães em diversas funções sem acrescentar comportamentos inexistentes nos lobos. Foram fixadas grandes diferenças de morfologia (de formas) e de comportamento, sempre por meio de trabalhos feitos com características e aptidões já presentes. Nas raças de guarda, por exemplo, ressaltaram–se o instinto guardião e a coragem do lobo. No comportamento de pastoreio do Border Collie, foi reforçado o instinto de cercar a presa antes de capturá-la, e assim por diante. O ser humano, portanto, apenas selecionou e reforçou, nos cães, características que já estavam presentes no lobo, sem ter criado comportamentos novos.

A habilidade de comunicação interespecífica, ou seja, entre o cão e o homem, ocorre nos cães em maior grau do que nos lobos. Faz bastante sentido imaginar que o ser humano, consciente ou inconscientemente, tenha selecionado características e aptidões que facilitaram a comunicação entre as duas espécies, durante o longo convívio entre ambas.

Experimentos recentes feitos com cães e lobos socializados demonstraram que os cães prestam mais atenção no rosto humano e têm mais facilidade do que o lobo para compreender gestos de apontar feitos por pessoas.

Outra diferença curiosa entre cães e lobos criados nas mesmas condições é que, ao contrário dos lobos, os cães podem preferir imitar alguns comportamentos humanos em vez dos da própria espécie, a partir de certa idade.

A capacidade de ser treinado e de se adaptar a diversas situações também diferencia as duas espécies. É muito mais difícil ensinar um lobo do que um cão a sentar, a deitar, etc. Tais capacidades podem estar relacionadas a uma característica do cérebro canino adulto: ele se mantém semelhante ao cérebro do filhote de lobo por toda a vida. “Cérebros novos” possuem uma plasticidade maior para lidar com ambientes diferentes e para aprender coisas novas.

As aptidões dos cães os tornam mais adaptados à vida com o ser humano. Da mesma forma, os lobos se saem melhor na vida selvagem, para enfrentar os problemas comuns ao habitat deles.

Lidando com a gravidez psicológica

Photo credit: jespahjoy / Foter / CC BY
Photo credit: jespahjoy / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

A gravidez psicológica, ou pdeudociese, ocorre em mais de 50% das cadelas não castradas. Além das mudanças comportamentais, ela causa alterações físicas, como o desenvolvimento das glândulas mamárias e a produção de leite, chegando a surpreender muitos proprietários. Como isso foi acontecer se a fêmea nem esteve com um macho?

Como surge?
Do ponto de vista fisiológico, a gravidez psicológica é um engano do organismo. É gerada por alterações hormonais, capazes por si só de influenciar o comportamento e o desenvolvimento de tecidos mamários. Portanto, para que a “gravidez” ocorra, não é preciso haver filhotes no útero.

A confusão parece acontecer quando diminui bruscamente o hormônio progesterona, presente durante o cio e por mais dois meses. Quando a cadela está para dar a luz, cai o nível de progesterona, o que estimula a produção do hormônio prolactina. A prolactina, por sua vez, age no tecido mamário, podendo ativar a produção de leite e também causar o comportamento maternal. É comum as cadelas desenvolverem gravidez psicológica após a castração, se realizada até três meses depois do início do cio. Com a retirada dos ovários, que produzem a progesterona, há a interrupção da produção desse hormônio e a liberação da prolactina pela hipófise, localizada no cérebro.

Por que é comum?
À primeira vista, fica difícil imaginar como a gravidez psicológica se tornou comum na espécie canina. Mas, se pensarmos numa alcateia (grupo de lobos), a coisa fica mais fácil. Nela, só os indivíduos dominantes costumam se reproduzir. E eles, tanto os machos como as fêmeas, são também os melhores e mais corajosos caçadores.

As lobas não dominantes que desenvolviam gravidez psicológica podiam cuidar, com perfeição, dos filhotes das fêmeas dominantes, já que apresentavam os comportamentos necessários para tal, e até amamentavam. Graças a essa ajuda, as fêmeas dominantes podiam caçar e conseguir alimento para o grupo. Com isso, as fêmeas que cuidavam dos filhotes se aproximavam afetivamente da líder e desenvolviam um bom relacionamento com a próxima geração. E ser influente numa alcateia é importante para a sobrevivência e para a escalada hierárquica.

O que fazer?
Quando ocorre a gravidez psicológica, há quem deseje interrompê-la para a cadela voltar logo ao normal. Medicamentos que inibem a prolactina fazem cessar rapidamente a produção do leite e o comportamento maternal.

Sem medicação, a gravidez psicológica costuma terminar em duas semanas. Alguns proprietários preferem aproveitar essa fase para admirar o comportamento materno das suas cadelas. Apreciam vê-las adotar e proteger os filhotes imaginários, na forma de bichos de pelúcia, de bolinhas e até de controle remoto de TV! Uma das atitudes destinadas à proteção dos filhotes é cavar – serve para lhes preparar uma toca.

Devemos retirar os filhotes imaginários?
Algumas pessoas, para impedir que a cadela adote objetos, têm atitudes como tirá-la do cantinho que escolheu e esconder seus brinquedos. Tais procedimentos podem aumentar a ansiedade da cadela e estimular comportamentos compulsivos. Deixá-la a vontade é a maneira mais respeitosa de lidar com a situação.

Evitar agressividade
A cadela pode ficar com ciúme dos filhotes imaginários e se tornar agressiva para protegê-los. Mostre que você não irá roubá-los. Para isso, ao se aproximar dela, ofereça um petisco ou brinquedo. A maioria das fêmeas deseja a aproximação de alguém que, além de não ser ameaça, traga coisas gostosa.

Complicações com as mamas
O aumento das mamas é normal durantes a gravidez psicológica e o leite produzido acaba sendo reabsorvido pelo corpo da fêmea. Mas às vezes ocorre a mastife – inflamação nas glândulas mamárias. Por isso, se surgirem caroços, dores ou pele avermelhada, não deixe de consultar um médico-veterinário. A produção de leite pode aumentar ou durar mais tempo se as mamas forem estimuladas. É melhor, portanto, evitar manuseá-las. E se a cadela praticar auto-sucção das mamas, pode ser recomendado impedi-la com um colar elisabetano (posto em volta do pescoço torna impossível o contato da boca com o próprio corpo).

Cuidados que seu cachorro merece na velhice

Photo credit: jumpinjimmyjava / Foter / CC BY
Photo credit: jumpinjimmyjava / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

Cão também envelhece
Cães, como nós, envelhecem. E estão sujeitos a doenças, dores e alterações comportamentais. Dar atenção às mudanças da idade permite suprir novas necessidades e, com isso, proporcionar a eles melhores condições de vida.

Semelhanças com os humanos
O processo de envelhecimento canino é bastante semelhante ao nosso. Vários inconvenientes e doenças são iguais. Os cães também podem sofrer de artrite, mal de Alzheimer e depressão. Problemas como esses e outros, decorrentes da idade, são diagnosticáveis desde o início pela observação das mudanças comportamentais e pela realização de checapes veterinários.

Envelhecimento conforme o porte
Cães pequenos envelhecem mais lentamente e vivem mais do que os grandes. Um Poodle pequeno, por exemplo, pode viver 18 anos. Já um Dogue Alemão vive apenas 9 anos, em média.

Alterações no metabolismo
Com o envelhecimento, normalmente, o organismo produz menos calor e gasta menos energia. O cão fica propenso a sentir mais frio e a engordar com mais facilidade, mesmo que continue comendo sempre a mesma quantidade de ração. Por sentir frio, passa mais tempo encolhido e treme freqüentemente.

Oferecer uma casinha protegida do vento, com o fundo coberto por material isolante impermeável, contribui para o bem-estar do cão idoso. Roupas também podem ajudar. É mais importante proteger os cães do frio quando estão inativos ou dormindo – raramente eles sentem frio durante a prática de atividades. Para controlar a tendência de engordar. Procure diminuir um pouco a quantidade de alimento oferecido ou substitua-o por ração diet.

Dores nas articulações
O desgaste e a inflamação das articulações também são comuns nos cães idosos. Na maioria dos cães, existe tratamento para amenizar o desconforto e estimular o crescimento da cartilagem desgastada. Animais com esses problemas preferem não andar muito porque as caminhadas lhes causam dor. Outro sintoma comum é a dificuldade que o cão tem para se levantar após fazer atividade física. De certa maneira, não praticar exercícios pesados ajuda a evitar que o problema piore. Mas alguns cães ficam tão excitados com bolinhas e outros estímulos que podem não respeitar as limitações corporais. É preciso conter a excitação evitando corridas e saltos, para o cão não se machucar facilmente. Fique atento se ele tiver tomado analgésico. Ao sentir-se aliviado da dor, poderá exagerar nos exercícios e piorar a situação.

Oferecer uma cama macia colabora para diminuir a pressão sobre as articulações, que é uma causa das dores provocadas por má circulação. Nesse caso, colocar um colchão na casinha do cão é uma boa alternativa. Para evitar as dores articulares, que se manifestam mais quando o cão se levanta, a tendência é ele passar mais tempo parado. Se antes do problema o cão se levantava e ia para outro lugar quando molestado por crianças, por exemplo, poderá passar a rosnar para afastar quem o incomoda. Por isso, convém oferecer aos cães que se encontram nessa situação locais resguardados de perturbações.

Mudanças nos sentidos
Visão, olfato e audição também podem ficar prejudicados com a idade. É comum o atropelamento de cães mais velhos, por não perceberem a aproximação do carro.
O cão de guarda idoso pode levar mais tempo para reconhecer pessoas amigas, inclusive os proprietários. Por isso, ajude-o a identificar você. Ao entrar na área onde ele fica, fale com ele e evite estar trajado de modo muito diferente do usual, como com chapéu e sobretudo se não for esse o seu costume.

Envelhecimento cerebral
O cérebro também sofre alterações com a idade e passa a ser cada vez menos flexível a novas rotinas e aprendizados. Mudar de casa, de ambiente ou de proprietário pode deixar o cão ansioso ou desorientado. Mesmo estando num lugar que conheça bem, o cão está sujeito a desorientar e a cair de uma sacada ou na piscina, por exemplo.

São males típicos do envelhecimento os distúrbios de caráter depressivo, compulsivo, bipolar (quando ocorre alternância entre depressão e mania), e o mal de Alzheimer, entre outros. Alguns sintomas decorrentes de tais males são o choro contínuo sem razão, distúrbios de sono, comportamentos repetitivos sem função alguma, como ficar lambendo a pata e ficar tentando por horas passar por espaços menores que o corpo. Para a maioria desses distúrbios, existem tratamentos feitos com remédios homeopáticos, alopáticos e fitoterápicos (de plantas). É interessante notar que a maioria dos remédios utilizados são os mesmos adotados para pessoas. Advertência: não dê medicamento sem aval do seu veterinário.

Verdades sobre o treinamento para a guarda

Photo credit: orangeacid / Foter / CC BY
Photo credit: orangeacid / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

O desejo do proprietário
Quase todo mundo quer um cão que seja ao mesmo tempo de companhia – dócil e carinhoso com os familiares, amigos e convidados – e protetor; sempre pronto para reprimir agressivamente os ladrões. Melhor ainda se ele atacar sob comando.

O treino de defesa
Na busca por esse companheiro guardião, há quem treine o cão de casa para o ataque (ou defesa, como é mais conhecido esse adestramento hoje). O trabalho consiste em ensinar o cão a reagir agressivamente ao receber determinados comandos do proprietário ou quando houver uma pessoa se comportando de modo suspeito. Nas aulas, geralmente, o ladrão ou agressor é simulado por uma pessoa contratada, o “cobaia”. O treino consiste na reação agressiva do cão; ele precisa perseguir o alvo até abocanhá-lo e só soltá-lo quando receber ordem do proprietário.

O que ocorre com o cão treinado
Por melhores que sejam o cão, o proprietário e o treinador; quando se trata se comportamento e de aprendizado não há como esperar que funcionem como relógio suíço. O cão treinado para atacar pode confundir uma criança, brincando de esconde-esconde em um parque, com um “cobaia”, e atacá-la. Ou partir para o ataque por interpretar erroneamente um movimento ou uma palavra. Há a possibilidade, ainda, de não ser obedecido o comando de soltura. Tais acidentes não são apenas hipóteses. São comuns com cães treinados para defesa!
Treinar um cão para atacar não deve ser comparado à programação de uma função no computador, daquelas que geram sempre a mesma resposta quando ativadas. Condicionamentos precisam ser mantidos, revisados e corrigidos. E o controle deve ser maior ainda quando se lida com comportamentos perigosos.

Recomendações inadequadas de treino para ataque
Há quem receite o treinamento de ataque para corrigir o cão medroso. A alegação é que ele irá se tornar mais confiante e, com o tempo, mais corajoso. É verdade que com o treino muitos cães medrosos passam a atacar. Mas isso não quer dizer que deixam de ser medrosos. A maioria deles aprende a atacar por medo, e isso cria uma situação especialmente perigosa e de difícil controle. Existe também o mito de que, para obter controle total sobre um cão, é necessário ensiná-lo a atacar e a interromper o ataque sob comando. Acreditando nisso, alguns adestradores podem estimular o cliente a treinar o cão para o ataque mesmo quando o objetivo é apenas o melhor controle.

Cães costumam atacar mesmo sem treino
Muitos cães defendem o proprietário e a propriedade naturalmente, sem terem sido treinados. Nesses casos, é importante conseguir controlar e inibir a agressividade do animal para evitar acidentes. Esse controle é obtido por meio da repreensão do cão quando ele se mostrar agressivo diante de uma situação, a qual pode ser armada especialmente para isso.

Pense com cuidado antes de estimular a agressividade
O cão pode ser excelente defensor da propriedade e da nossa vida. Mas também pode machucar seriamente uma criança ou uma pessoa inocente e até matá-la. Por isso, pense com cautela ou discuta com um especialista em comportamento antes de estimular o seu cão a ser agressivo com seres humanos.

Para quem não desistiu da idéia de ter um cão treinado para ataque
É possível treinar um cão para latir e acuar um invasor sem mordê-lo. Esse condicionamento também tende a estimular a agressividade do cão, mas não é tão perigoso quanto o treino que permite ao cão morder pessoas.

Resumo
– O treinamento de defesa nunca é completamente seguro – precisa ser mantido, revisado e corrigido.
– O cão treinado pode errar na identificação da presa e se confundir com o comando dado pelo proprietário.
– Não é recomendado treinar para defesa um cão medroso.
– É um mito acreditar que alguém só terá controle sobre a agressividade do cão se o treinar para o ataque.
– A agressividade pode surgir mesmo sem treino. Controlá-la é importante para evitar acidentes.
– Cães podem machucar inocentes e até matá-los. Pense nisso antes de estimular a agressividade do seu cão.
– Treinar o cão a acuar um invasor sem mordê-lo é um procedimento menos perigoso.

Como lidar com o cachorro hiperativo

Photo credit: anneh632 / Foter / CC BY-SA
Photo credit: anneh632 / Foter / CC BY-SA

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

Cães hiperativos. Quem tem sabe o trabalho que um cão hiperativo pode dar. Alguns cães se comportam de maneira agitada grande parte do tempo, dificultando bastante o convívio normal ou desejado para um animal de companhia.

Como identificar um cão hiperativo?
Cada cão possui um determinado nível de atividade que pode variar bastante de raça para raça e de indivíduo para indivíduo. Não existe uma linha divisória clara entre cães normais e cães hiperativos, portanto alguns cães podem ser considerados normais por alguns especialistas e hiperativos por outros.

Os cães claramente hiperativos exibem continuamente um comportamento acelerado, tornando o convívio um tanto quanto difícil. Muitas vezes os proprietários se sentem sufocados pelo fato de o animal não parar quieto ou não parar de querer chamar a atenção buscando objetos, destruindo móveis, choramingando e latindo. Infelizmente tais cães costumam acabar trancados dentro de um canil ou separados fisicamente do convívio familiar, solução um tanto quanto cruel.

A hiperatividade pode começar cedo?
Um cão já pode demonstrar hiperatividade nos primeiros meses de vida. Sem querer, muitas pessoas acabam escolhendo o filhote hiperativo, pois é esse que geralmente vai correndo e fazendo festa para cada visita que aparece. Muitas pessoas dizem que elas é que foram escolhidas pelo filhote, geralmente se referindo a esse comportamento – “Ele me escolheu! Veio correndo na minha direção e não parou de me lamber e nem de abanar o rabo!!”

Esperanças frustradas
É comum que proprietários de um cão hiperativo acreditem que ele seja agitado por ser ainda jovem e que vai se acalmar, mas com o tempo percebem que continua do mesmo jeito apesar de já ter se tornado adulto.

Principalmente no caso de cães machos, existe um mito de que o cão precisa cruzar para se acalmar. Tal informação não procede, e isso é confirmado por pesquisas científicas. Portanto não perca tempo procurando um parceiro sexual para seu animal com essa finalidade.

Seleção genética
Muitas raças que existem hoje foram selecionadas para o trabalho. Cães sempre dispostos a executar atividade física, incansáveis e hiperativos, eram, freqüentemente, selecionados. Isso resultou em cães ótimos para o trabalho, mas ativos demais para a função exclusiva de companhia.

Alergia alimentar
Alguns cães podem ter um excesso energético devido a alergias alimentares. O diagnóstico é feito através de alterações alimentares utilizando dietas hipoalergênicas, comerciais ou caseiras, por cerca de dois meses.

Distúrbio de Déficit de Atenção e Hiperatividade
Cães com distúrbio de déficit de atenção e hiperatividade costumam ter dificuldade de se concentrar apenas em um estímulo, dando a impressão de estar prestando atenção em tudo ao mesmo tempo. De maneira semelhante ao que ocorre com crianças com o mesmo diagnóstico, o tratamento pode ser feito com anfetaminas, que, nesses casos, em vez de aumentar a atividade, como seria o esperado em um indivíduo que não sofra desse mal, tende a reduzi-la a níveis normais.

Outras causas
O hipertiroidismo e o aumento dos níveis de estrógeno também podem ser as causas de hiperatividade. Exames de sangue podem ser úteis para o diagnóstico do problema.

O que faze?r
Evite escolher o filhote mais agitado da ninhada, pois o filhote pode já estar demonstrando um comportamento hiperativo. Além de observar os filhotes, experimente fazer um carinho relaxante (massagear calmamente o animal enquanto fala com ele) e observar seu comportamento. Alguns poderão relaxar e curtir o carinho, enquanto que outros podem ficar cada vez mais excitados. Os que ficarem mais agitados têm uma maior chance de ser hiperativos.

Controle é essencial
Cães bastante ativos precisam ser muito bem educados, já que podem, em pouco tempo, destruir objetos da casa, incomodar as visitas, etc. Se o cão não o respeitar, procure auxílio de um adestrador.

Bastante atividade física
Cães com pouca atividade física podem demonstrar agitação e inquietação, por isso procure levar seu cão para fazer exercícios através de caminhadas e brincadeiras.

Permita comportamentos que dão vazão à ansiedade dele
Alguns cães aprendem a controlar a ansiedade por meio de alguns comportamentos, como o de mastigar algum objeto enquanto recebem carinho. Esses animais, assim que avistam alguém, procuram imediatamente um brinquedo para ficar mordendo. Essa pode ser uma solução saudável encontrada por eles mesmos para uma ansiedade excessiva.

Lidando com o estresse do cachorro

Photo credit: sabianmaggy / Foter / CC BY
Photo credit: sabianmaggy / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

Não é só o ser humano que pode ficar estressado e se prejudicar com isso. Os cães também se estressam. Muitas vezes, acontecimentos na casa ou na vida do cão, aos quais as pessoas não costumam dar importância, podem ser considerados por ele como ameaças ou desafios e afetá-lo gravemente.

Ficar sozinho é um desses casos, já que a espécie é social e precisa estar em companhia para se proteger e caçar. O estresse pode vir também de fatos como estar na presença de visitas, tomar banho, ser vestido com uma roupinha, ouvir barulhos, ainda que comuns para nós, ou estar diante de uma situação nova, como a chegada de um bebê humano.

Quando o estresse é prejudicial
Passar por momentos de estresse é normal. Se não houver exagero, o estresse até ajuda a preparar o organismo para lidar com situações perigosas ou aversivas. Nesses casos, a energia consumida supera a armazenada.

O coração fica acelerado, a freqüência respiratória aumenta, as pupilas dilatam e há a liberação de hormônios, como adrenalina e cortisol, na corrente sanguínea, promovendo alterações fisiológicas e comportamentais.
Nenhum organismo está preparado para viver em permanente estado de estresse.

Se isso acontecer, a tendência é o cão apresentar sintomas como parar de se alimentar, não querer brincar, ter comportamentos repetitivos, como lamber a pata até feri-la, e comportamentos compulsivos, como correr atrás da cauda e latir sem parar.

O teste do petiscos
Por meio de mudanças nas atitudes do cão, é possível detectar o que o deixa estressado. Assim, pode-se evitar que ele sofra desnecessariamente. É possível averiguar se o cão está com estresse em determinado momento oferecendo um petisco e observando como reage. Por exemplo, se ele estiver tomando banho e aceitar a guloseima é porque não está estressado. Se a recusar, é provável que esteja estressado.

Pode-se também medir a velocidade de recuperação do cão às situações estressantes. Basta ver quando ele começa a aceitar comida de novo ou a brincar, sinal que o estresse foi superado. Alguns cães demoram para se recuperar, outros se recuperam quase instantaneamente.

Exame de sangue
Em casos mais complicados, a presença de estresse pode ser verificada por meio de um exame que mede o grau de cortisol no sangue, o hormônio do estresse. Quanto maior a sua concentração, mais estressado o cão está.

Tratamentos
Por meio de terapia comportamental, o cão pode aprender a tolerar com naturalidade situações muito estressantes para ele, como ficar em casa sozinho, ouvir barulhos de fogos, ir passear no parque com outras pessoas e animais, etc. Cães mais sensíveis devem ter um tratamento mais cuidadoso do que os mais corajosos, diante das mesmas situações.

Há ocasiões em que o tratamento comportamental pode ser complementado por um tratamento medicamentoso, com ansiolíticos ou antidepressivos. Ao se tratar a ansiedade e o medo do cão, problemas de alergia também diminuem, mostrando que estavam correlacionados com o estado emotivo.

Resumo
. Cães também podem ficar estressados em situações comuns ou do cotidiano.
. O estresse, quando sob controle, ajuda o organismo a lidar com situações aversivas.
. Os principais sintomas do estresse são: taquicardia, respiração ofegante, dilatação das pupilas, aumento de determinados hormônios (adrenalina e cortisol) na corrente sanguínea.
. O estresse crônico pode debilitar o organismo e facilitar a manifestação de alergias e doenças.
. Existem drogas psicoativas que podem ajudar no controle do estresse.
. Dessensibilização, como terapia comportamental, pode ser útil para evitar o estresse.

Como convencer o cachorro a devolver a bola que você arremessou

Photo credit: blumenbiene / Foter / CC BY
Photo credit: blumenbiene / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Você joga uma bolinha, o cão a pega e traz, mas se recusa a soltá-la? Alexandre Rossi ensina como conseguir a devolução e, finalmente, curtir a brincadeira por completo!

Quem nunca jogou uma bolinha para o cão trazer de volta? Essa talvez seja a mais famosa brincadeira dos donos com seus cães. Mas ver a bola devolvida para que possa ser jogada de novo é uma cena mais imaginária que real. O comum é o cão abocanhar a bola, se aproximar do dono e não soltá-la. Ou soltá-la e agarrá-la antes que o dono a consiga recuperá-la.

Diante desse quadro, o dono muitas vezes adota a estratégia de agir disfarçadamente. Finge desinteresse e, de repente, faz a tentativa de pegar a bola. Em vão. Centésimos de segundo antes, o cão escapa com ela na boca, dá um olé, e o dono fica com cara de bobo.

Quando finalmente a bola é alcançada, o cão não a solta de jeito nenhum e o dono desiste de brincar. Por que isso ocorre? Será que os cães não conseguem entender a lógica da brincadeira?

O problema
Jogar bolinha é uma prática pela qual buscamos uma interação agradável com o cão. Por isso, para nós pode ser decepcionante vê-lo apoderar-se da bola, não entregá-la e, ainda por cima, cada vez que tentamos tirá-la dele, ter de fazer “cabo de guerra”.
Disputar a bola em vez de soltá-la é uma predisposição canina herdada. É assim que o ancestral lobo age para repartir a caça em diversos pedaços. E tem mais. Desfilar com um objeto desejado por outro membro do grupo é uma demonstração de poder. Por isso, continuar com a bola enquanto o dono se desdobra para resgatá-la é motivo de enorme prazer para o cão.

A solução
É perfeitamente possível convencer o cão a devolver a bola. Para tanto, aja de acordo com o ponto de vista dele. Arremesse a bolinha “com gosto”, em velocidade, mas de maneira que o cão consiga persegui-la e capturá-la. Observe se ele gosta mais de bolas rasteiras ou de pular e capturar a “presa” no ar, e passe a arremessar do jeito que ele prefere.

Quando o cão estiver com a bola na boca, chame-o pelo nome para vir até você. Se ele não vier, emudeça e ignore-o. Se vier, festeje-o e não demonstre muito interesse pela bola. Repita a técnica de festejar o cão sempre que ele trouxer a bola atendendo a um chamado seu.

A etapa seguinte é pegar o cão de surpresa e tentar recuperar a bola antes de haver qualquer disputa. Para tanto, depois de ele chegar com a bola e de ter sido festejado, pare com a festa e ignore-o. De repente, quando ele menos esperar, com um movimento rápido puxe a bolinha da boca dele. Se o cão a soltar, pegue-a e dê parabéns, fazendo muita festa. Se não a soltar, e você concluir que não será possível obter sucesso com esse método, tente uma nova estratégia: vencer o cão pela gula.

O truque
Obter a cooperação do cão fica mais fácil com a ajuda de petisco. Mostre a guloseima quando ele estiver voltando com a bolinha. Ele abrirá a boca e você fará a troca do petisco pela bola. Encare a recompensa como um preço pago para conseguir que o cão brinque do jeito que você gosta!

Se, por ver a guloseima na sua mão, o cão deixar de buscar a bolinha, esconda-a no bolso. Nesse caso, só a tire de lá quando ele voltar trazendo a bola. Em pouco tempo, o cão aprenderá que, ao soltá-la, pode ganhar recompensa. E, mesmo vendo o petisco antes de a bola ser arremessada, passará a buscá-la e a trazê-la.

Resumo
. A maioria dos cães não devolve prontamente a bolinha que foi buscar.
. Evite correr atrás do cão quando ele estiver com a bolinha na boca, para não reforçar o comportamento.
. Não tente arrancar a bolinha da boca do cão, pois ele vai gostar muito mais de brincar de cabo-de-guerra do que de devolvê-la.
. Recompense o cão com petiscos por ter devolvido a bolinha para você.
. Assim que o cão voltar e quando soltar a bolinha, elogie-o bastante.

Seleção genética e propagação de problemas físicos

Photo credit: angela n. / Foter / CC BY
Photo credit: angela n. / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Nenhuma espécie animal tem tantas formas, tamanhos e comportamentos como os cães. Seus portes variam desde os minúsculos Chihuahua, Pinscher, Poodle Toy e Yorkshire até os enormes Dogue Alemão, São Bernardo e Terra Nova. O temperamento pode ir do muito dócil ao bastante agressivo. Uns adoram nadar, outros preferem não se molhar. E assim por diante.

Tanta diferença resulta em grande parte dos acasalamentos selecionados – aqueles feitos a partir de critérios humanos, bem diferentes dos que acontecem na Natureza. Por esse motivo, a seleção usada para fazê-los é considerada artificial.

Seleção natural x artificial
Na natureza, comente os mais aptos se reproduzem e se multiplicam, sobrepujando, assim, os indivíduos que nascem com problemas. Por esse motivo, a maioria dos animais selvagens são bastante saudáveis fisicamente e psicologicamente. Já na seleção artificial, o critério é acasalar cães a partir de suas características morfológicas (das formas físicas), fisiológicas (das funções orgânicas) e/ou psíquicas (da atividade mental, inclusive das aptidões para aprender comportamentos e tarefas). É o que aconteceu, por exemplo, na formação das raças pequenas. A preferência foi por acasalar os cães de menor porte, independentemente da capacidade para sobreviver por conta própria, em ambiente competitivo.

Existem raças caninas criadas em laboratório?
Por causa da variedade de formas físicas e de comportamentos, houve o boato da existência de raças caninas criadas em laboratório. Nenhum cão conhecido foi desenvolvido em tubo de ensaio. Mas não é impossível que, com o avanço da engenharia genética, isso venha a ocorrer.

Formas físicas diferentes e sofrimento animal
Ao tomar para si a seleção de cruzamentos, o ser humano se torna responsável pelo vem-estar dos animais da sua criação. No anseio de produzir cães diferentes, foram desenvolvidas características extremadas, que chegam a atrapalhar os cães. Buldogues têm focinho tão achatado que ficam com a função respiratória comprometida. Shar Peis, com tanta pele “sobrando”, desenvolvem micoses e infecções nas dobras. Basset Hounds podem tropeçar em suas próprias orelhas. Com coluna alongada, os Teckels freqüentemente desenvolvem males ósseos. A hiperatividade do Border Collie o deixa compulsivo demais, entre outros exemplos.

Seleção artificial e doenças herdadas
Juntamente com os genes das características visíveis, são repassados genes “invisíveis” – aqueles que, apesar de presentes, não se manifestaram no indivíduo, mas que, provavelmente, afetarão descendentes. Alguns acarretam propensão para males como displasia coxofemoral, surdez, miopia, diversas doenças de pele e problemas psicológicos.

Cães hiperativos, medrosos e compulsivos
A seleção de comportamentos visando a aptidão para determinadas tarefas que alguns cães já nasçam com predisposição para ser guardada, outros para pastorear ou caçar, etc. O problema é que a maioria dessas raças é usada, hoje em dia, para companhia. Assim, um cão com muita energia, necessária para longas jornadas de trabalho nos campos, ficará hiperativo e compulsivo se levar vida sedentária, e estará sujeito a problemas de comportamento.

Pensar no bem-estar
Precisamos evitar a seleção proposital de características que prejudiquem os cães. Devemos, por exemplo, preferir a seleção de Buldogues que não tenham focinho tão achatado ou que não desenvolvam problemas respiratórios. Convém optar por Shar Peis não tão enrugados ou que sejam mais resistentes a problemas de pele. É recomendável preferir os Border Collies menos compulsivos e menos hiperativos.

Também não devemos reproduzir cães com problemas psicológicos ou que partem genes de doenças, mesmo que sejam campeões de beleza.

Como ensinar seu cachorro a expressar desejos

Photo credit: Canfield3 / Foter / CC BY-ND
Photo credit: Canfield3 / Foter / CC BY-ND

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

Há milhares de anos, homem e cão vivem uma relação estreita. Os cães mais eficientes nas atividades em parceria, como caça, companhia e guarda, eram os que se comunicavam melhor e foram os selecionados para procriar. Isso pode ter aumentado a inteligência da espécie e desenvolvido a sua comunicação com os seres humanos.

Como o cão se comunica com o homem
São muitas as possibilidades de os cães se comunicarem com os humanos. Desde por sinais típicos da espécie, como latir, chorar, rosnar, mostrar os dentes e abanar a cauda, até por sinais aprendidos durante a relação com o proprietário. É o que podemos notar no seguinte depoimento, dado por um dono cão: “Se ele quiser ossinhos que ficam num armário da cozinha e eu estiver na sala, me cutuca com a pata e tenta me levar para a cozinha. Quando chego lá, ele bate com a pata no armário para deixar claro o que quer. Quando mostro que entendi, fica todo feliz e, em geral, senta para esperar que eu dê o que pediu”.

Para entender melhor como acontece a comunicação entre cão e pessoas da casa, colhemos mais de quatro mil relatos relacionados ao assunto. Embora possam não exprimir exatamente a realidade, mostram pontos importantes sobre o comportamento canino e sobre como o ser humano o interpreta.

Como evolui a comunicação
A maioria dos proprietários acaba criando sem querer, um sistema de sinais que permite ao cão expressar desejos e pedir objetos e atividades. Mas como isso ocorre? Quando um proprietário vê o cão lambendo as últimas gotas de água do bebedouro, coloca mais água no pote. Com o tempo, o cachorro percebe que pode pedir água simplesmente lambendo o porte. Não é difícil imaginar que, por meio do mesmo processo, o cão aprenda a pedir comida, brinquedo, etc.

Dicas para ensinar o cão a pedir o que deseja
Ao compreender o processo que permite ao cão se comunicar, podemos criar situações propícias para que a comunicação se desenvolva. Primeiro, procure evitar que os sinais produzidos pelo cão sejam muito parecidos, dificultando a interpretação. Para saber se ele sta com sede ou fome ao encostar o focinho no pote vazio, use potes diferentes para dar água e comida. Pelo mesmo motivo, deixe a guia para passear em local diferente do dos biscoitos, já que o cão se aproximará da guia para pedir passeio e dos petiscos quando estiver interessado neles.

Crie situações em que o cão possa “pedir” o que deseja. Por exemplo, coloque menos comida no prato dele. E quando ele estiver lambendo os farelinhos das sobras, ponha mais. Aos poucos, o cão lamberá o prato para fazer um pedido. Outro treino é perguntar ao cão que chega perto da guia se quer passear e, em seguida, levá-lo para dar uma volta. Assim, ele perceberá que pode influenciar com atitudes o comportamento do dono

Cuidado para não ser totalmente manipulado pelo cão
Ensinar um cão a se comunicar não significa se tornar escravo dele. Ou seja, não é porque o cão pediu determinada coisa que você precisa servi-lo. Com o tempo, ele percebe o que pode pedir e quando. Minha cadela Sofia, por exemplo, sabe que existe chance de sairmos para passear quando estou me vestindo.

Sempre que começo a me calçar, Sofia corre para o painel eletrônico e aperta um dos oito compartimentos do painel (veja foto), aquele que corresponde a “PASSEAR” (nesse momento, uma gravação diz a palavra “Passear”). Mas na maioria das vezes eu não posso levá-lo comigo e tenho de dizer “Passear, não!”. Há ocasiões em que ela insiste, mas em geral desiste e vai deitar-se no sofá predileto.

A comunicação mais eficiente com nosso animal é muito gostosa. Por isso, recomendo a todos os proprietários de cães que ponham em prática um programa nesse sentido.

Resumo

– O cão tem predisposição genética para se comunicar com o ser humano.
– Você pode criar sinais para permitir ao seu cão que peça objetos e atividades a você.
– Durante o treino, quando o cão se aproximar do prato de comida, coloque mais alguns grãos de ração. Quando ele lamber as últimas gotas de água do pote, ponha mais água. Quando ele manifestar interesse em pegar a coleira, leve-o para passear.
– Se você não quiser fazer a atividade relacionada ao sinal produzido pelo cão, diga simplesmente “não”.

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