Amizade sem mordidas – Parte 1

Photo credit: Mustafa Sayed / Foter / CC BY
Photo credit: Mustafa Sayed / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.  

O que fazer quando aquele cãozinho que parecia tão amigável mostra-se pronto a atacar? Acidentes com cachorros são um problema sério – no ano passado, foram registrados 400 mil casos de mordidas no Brasil -, mas muitos poderiam ser evitados se houvesse maior conscientização sobre o comportamento desses cidadãos de quatro patas. As situações que envolvem as mordidas são muitas, mas algumas medidas podem evitá-las.

Os cães geralmente mordem quando:
. sentem-se ameaçados ou estão com medo;
. estão protegendo seu território, comida, brinquedos ou filhotes;
. algo se move rápido (instinto predatório);
. estão irritados ou com dor;
. sua posição hierárquica está sendo ameaçada.

O local do corpo mais atingido pelas mordidas é o rosto (cerca de 70% dos casos). Além da pele da região ser mais frágil, é o local em que as cicatrizes mais incomodam. Portanto, a primeira dica é manter o rosto a uma distância segura de uma eventual mordida. Aquele abraço carinhoso, fuça a fuça, e beijos no “rosto” do cachorro devem ser evitados sempre que você não ti-ver certeza de que o cão é extremamente dócil. Toda vez em que você for re-tirar seu cão ran-zinza do sofá, procure proteger o rosto, virando-o ou mantendo-o distante do cão, pois grande parte das mordidas ocorre por conta de cães dominantes quando contrariados.

Fixar o olhar diretamente no olho do cão também pode causar acidentes. Para os cães, isso pode ser considerado uma situação de confronto. Até conhecer bem o animal, ou ter certeza sobre a docilidade dele, evite confrontá-lo. Além de não olhar diretamente para os olhos dele, não o acue em algum canto e também não se curve sobre ele. Ficar ligeiramente de lado é menos ameaçador para o cão do que se você ficar de frente para ele. Falar em tom neutro e evitar movimentos bruscos também são artifícios válidos.

Confiança

Como nós, humanos, os cães também muitas vezes exigem preliminares antes de se entregar totalmente ou de confiar em nossos gestos e movimentos. Esse “aquecimento” da relação faz o cão se sentir mais confiante e menos ameaçado.
Pergunte para o proprietário se o cão é manso, se você pode fazer carinho nele etc. Além de você mostrar educação, alguns cães, percebendo que seu proprietário não se assustou com a sua presença, ficam mais confiantes. Muitos animais reagem de acordo com a reação do proprietário – se ele agir de maneira natural e calma, passará mais confiança para o cão.

Deixe o dono do cão se aproximar de você. Caso você queira chegar perto do animal, faça-o sem movimentos bruscos. Deixe o cão cheirar você antes de começar a interação. Continue falando com o proprietário, como se não estivesse dando muita importância para o bichinho. Ofereça a mão para o cão cheirar, deixando o braço relaxado e o punho fechado, já que os cães podem morder os dedos.

Se você sentir que o cão está seguro e relaxado, escorregue a mesma mão que ele estiver cheirando para o peito do cachorro e comece a acariciá-lo. O peito e a parte debaixo do pescoço são áreas em que o cão se sente menos ameaçado do que quando lhe fazem carinho na cabeça ou na nuca. Caso o cão ainda esteja com medo, procure não olhar ou falar diretamente com ele.

Na maioria dos casos, nesse instante os cães já se mostram bastante receptivos, mas, se você ainda não estiver totalmente seguro, retire a mão vagarosamente. Muitas mordidas ocorrem quando a pessoa está retirando a mão, principalmente quando fazem um movimento brusco.

Algumas vezes, no entanto, o ataque é inevitável. No próximo mês, esta coluna trará dicas de como reagir para minimizar acidentes maiores nesses momentos.

Amizade sem mordidas – Parte 2

Photo credit: donnierayjones / Foter / CC BY
Photo credit: donnierayjones / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Só para lembrar: os cachorros geralmente mordem quando se sentem ameaçados ou quando estão com medo; estão protegendo seu território, comida, brinquedos ou filhotes; algo se move rápido e atiça seu instinto predatório; estão irritados ou com dor ou sua posição hierárquica está sendo ameaçada. Várias atitudes podem evitar o ataque, como fazer a aproximação aos poucos, ao lado do dono, e nunca aproximar o rosto logo no primeiro contato com o animal. Mas o que fazer, então, em situações em que o animal não parece disposto a desistir do ataque?

Como muitas pessoas já devem ter percebido, alguns cães só atacam as visitas quando elas estão indo embora. Portanto, cuidado com os abraços de despedida, beijinhos e tchaus. Obviamente, a melhor solução nesses casos é pedir para o proprietário que prenda o animal ou avise-o de que você não faz a menor questão de se despedir… Caso o cão já tenha começado a latir e esteja ameaçando morder, finja que você mudou de idéia e vai ficar mais algum tempinho. Nesses casos, o melhor é prender o cão.

Mas, o que fazer quando o ataque parece inevitável? Em muitos casos, a única solução é rezar. Na maioria das vezes, no entanto, é possível tentar alguma coisa. Cães pequenos geralmente podem ficar entretidos por alguns segundos mordendo o sapato ou o tênis. Sem movimentos ameaçadores, proteja-se levantando o pé e impedindo-o de chegar perto de você. Muitos cães ficam mordendo a sola do sapato e o tênis até desistirem do ataque ou o proprietário conseguir evitá-lo. Não grite e nem dê bronca no cão. Cães maiores podem ser “distraídos” com bolsas ou jaquetas.

Um consolo para essa hora difícil: muitos cães cessam o ataque após uma ou mais mordidas, desde que a vítima não grite ou não esperneie. Caso você caia no chão, procure curvar-se formando uma bola com seu corpo e proteja o rosto e a nuca. Gritar e fazer movimentos bruscos costuma piorar a situação. Só saia correndo se você tiver certeza de que vai conseguir escapar.

É tudo instinto

Lembre-se que um cão, mesmo pequeno, é muito mais rápido do que uma pessoa. O simples fato de correr perto de um cão já pode despertar nele instintos agressivos ligados à caça e proteção. Sempre que possível, procure se afastar do cão ou do que ele estiver tentando proteger de maneira calma e o menos ameaçadora possível. Não vire as costas para o animal, muitos cães esperam exatamente esse momento para atacar.

Nunca devemos confrontar o cão para evitar um ataque. Confrontar é criar uma situação muito arriscada, pois existe sempre uma possibilidade do cão “pagar para ver”. Pessoas que conhecem bastante sobre comportamento animal têm maiores condições de prever se o cão vai desistir de um ataque quando ameaçado. Nesses casos, a pessoa pega um objeto qualquer (uma vassoura, um pedaço de pau ou uma pedra), olha no olho do cão e finge que vai atacar, chegando mesmo a correr atrás do cão. Esse procedimento é realmente muito arriscado e pode comprometer o comportamento do cachorro, pois ele passa a desconfiar ainda mais de determinadas atitudes. O mesmo cão que pode “afinar” em um território fora de sua propriedade, por exemplo, pode atacar ferozmente seu perseguidor assim que ele pisar em seu território.

Nenhuma dessas explicações podem ou devem ser utilizadas para justificar a ocorrência de um problema desse tipo ou tirar a culpa do proprietário do cão. O dono deve ser integralmente responsável pelo comportamento de seu animal e deve prevenir e evitar qualquer ataque. Muitos ataques acontecem pela negligência do proprietário, falta de socialização ou até mesmo por ausência de adestramento adequado.

Como os cachorros enxergam – Parte 1

Photo credit: EmmyMik / Foter / CC BY
Photo credit: EmmyMik / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

Diferentemente do que a maioria das pessoas pensam, os cães não enxergam com menos qualidade que os humanos. Quanto mais estudamos sobre a visão, mais descobrimos que é quase impossível determinar quem enxerga melhor, o homem ou o cão.

A dúvida mais comum quando se fala da visão é se o cão enxerga em colorido ou em preto e branco. A visão envolve muitos fatores além da capacidade de identificar cores, e muitas dessas capacidades são mais desenvolvidas nos cães do que nos homens. Portanto, em algumas potencialidades da visão, os cães ganham de nós e em outras eles perdem. Mas, afinal, eles enxergam colorido ou não? Sim, eles têm a capacidade de enxergar cores, mas não da mesma maneira que nós.

Entender como um cão enxerga, além de ser uma curiosidade intelectual, ajuda a compreender melhor o mundo e a natureza de seu animal de estimação. Treinadores também se beneficiam de tais informações, pois podem aperfeiçoar suas técnicas, especialmente para cães que desenvolvem atividades orientadas visualmente, como é o caso de obediência a distância, guiar cegos, trabalhar com a polícia, etc. Neste mês, apresentaremos três tópicos sobre a visão. Na coluna do mês que vem, você aprenderá mais sobre campo de visão, sensibilidade e definição visual.

As cores
Que cor de bolinha escolher para brincar com seu cão? Se você for brincar sobre um gramado, seu cão localizará mais facilmente uma bolinha azul do que uma bolinha vermelha, já que ele não consegue diferenciar vermelho do verde, a cor do gramado. Para os cães, as cores verde, amarelo, laranja e vermelho não têm diferença nenhuma. Para um cão, o sinaleiro (farol ou semáforo) não muda de cor, pois ele enxerga da mesma maneira o verde, o amarelo e o vermelho. Para que ele notasse a diferença de cores do farol, duas delas deveriam ser alteradas para violeta e azul, já que o cão consegue diferenciar as cores violeta, azul e verde.

Os cientistas acreditam que o cão enxerga a cor amarela quando olha para as cores vermelho, verde e amarela, e seria exatamente por isso que ele não conseguiria diferenciá-la. Meio complicado, né? A conclusão é que os cães enxergam cores, mas menos cores do que nós. Já a capacidade de diferenciar tons de cinza é tão desenvolvida nos cães, que é impossível testar esse talento utilizando somente nossos sentidos, já que não saberíamos se os cães estariam diferenciando corretamente as diversas tonalidades.

A luz
Vamos imaginar a seguinte situação hipotética: um ladrão entra em sua casa e seu cachorro está prestes a atacar o invasor. Se você apagar as luzes da casa, seu cão terá mais ou menos chance de sair vitorioso da briga? Partindo do princípio que a luta, tanto na defesa quanto no ataque, necessita principalmente da visão, podemos responder a essa pergunta se soubermos quem será mais prejudicado pela baixa iluminação. O cão, originalmente, era um predador com hábitos principalmente noturnos e por isso possui um sistema visual muito mais adaptado para enxergar no escuro do que o homem. Portanto, em nossa situação hipotética, o cão seria beneficiado com o apagar das luzes.

O movimento
Talvez você já tenha tentado mostrar ao seu cão um gato a distância e ele só percebeu o gato assim que esse começou a se movimentar. Predadores como o cão estão sempre à procura de presas, e por isso é muito vantajoso que objetos e animais em movimento se sobressaiam do resto da paisagem. Essa sensibilidade a objetos em movimento é um dos aspectos mais desenvolvidos na visão canina. Uma pessoa que só seria capaz de ser vista pelo cão a 500 metros de distância pode ser vista a 800 metros se estiver em movimento. Se você estiver com seu cão em um ambiente aberto e ele tiver dificuldades em encontrá-lo, procure se movimentar, pois isso facilitará bastante a sua localização pelo animal. Uma outra utilização prática dessa habilidade é a utilização de sinais que envolvem movimento para comandar um cão a distância. Esse é um dos motivos pelos quais a maioria dos sinais para comandar um cão envolvem movimento da mão ou do braço.

Como os cachorros enxergam – Parte 2

Photo credit: BusyBee-cr / Foter / CC BY
Photo credit: BusyBee-cr / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Estas características descritas abaixo mostram como você e seu cão enxergam o mundo de outro jeito. As diferenças não acontecem somente no campo das percepções, como a visão, audição, olfato etc., mas também ocorrem com as motivações e necessidades. Por isso procure realmente entender que nem sempre o que é melhor para o ser humano será melhor para seu companheiro canino.

A televisão
Você sabia que a imagem que observamos assistindo à televisão é composta de diversos “slides” parados que, por trocarem muito rápido, nos dão a impressão de continuidade e de movimento? Essa é mais uma das características da visão, chamada de “fusão de luz piscando”. A tecnologia da televisão aproveita essa característica da visão humana e troca 30 vezes de quadros por segundo, tornando incapaz para qualquer ser humano de observar os quadros ou “slides” separadamente. A visão do cão tem a capacidade de processar de 20 a 30 quadros a mais que o ser humano. Portanto, o cão assiste à televisão como se estivesse vendo “slides” estáticos sendo trocados rapidamente. A televisão, para conseguir “enganar” os sentidos do cão, teria que aumentar a velocidade de troca dos quadros.

Campo de visão
O campo de visão é a área que pode ser vista quando fixamos o olhar em um ponto. Para entender melhor, olhe para frente e fixe seu olhar em um objeto, abra bem os braços e vagarosamente traga-os para frente até que você consiga perceber visualmente suas mãos. Quando isso acontece, significa que suas mãos entraram no seu campo de visão. Nosso campo de visão é cerca de 180 graus, o que não nos permite enxergar para trás quando estamos olhando para frente. Isso, por incrível que possa parecer, os cães conseguem! O campo visual de um cão, na média, é de 250 graus.

Definição visual
A definição visual é a capacidade de perceber detalhes. Uma pessoa que tenha astigmatismo, miopia ou hipermetropia possui uma definição visual menor que uma pessoa com visão perfeita. A definição visual dos cães é inferior à do ser humano, mas funciona muito bem em condições de pouca iluminação. Isso significa, por exemplo, que visualmente o ser humano é capaz de reconhecer um rosto a uma distância maior do que o cão, mas em um ambiente com pouca iluminação, a definição visual do ser humano diminui muito, enquanto a do cão, não. Um objeto que uma pessoa consiga reconhecer a uma distância de 25 metros só seria reconhecido pelo cão a 7 metros.

E os cães que não enxergam bem pra cachorro? Poderiam usar óculos? Os cães também podem ter miopia, hipermetropia e astigmatismo. Quando você se deparar com um cachorrão franzindo a cara para você, imagine que é um míope e só está tentando te enxergar melhor! (brincadeira, tome cuidado!). Um estudo científico feito em uma clínica veterinária constatou que 53% dos pastores alemães e 64% dos rottweilers tinham miopia. Quem acha que óculos para cachorro é uma idéia absurda precisa saber que já estão sendo utilizadas lentes intra-oculares projetadas especialmente para os cães. Um dos usos dessas lentes é a maximização da recuperação da visão após a remoção de cataratas.

Herança dos lobos

Photo credit: Tambako the Jaguar / Foter / CC BY-ND
Photo credit: Tambako the Jaguar / Foter / CC BY-ND

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. Colaborou Daniela Ramos.

O que faz de certas raças, como rottweiler, dobermann, pastor alemão e mastim, entre outros, verdadeiros vigilantes natos? Diversas especulações têm sido feitas a respeito do temperamento naturalmente agressivo de certos cachorros. É fato que cães exibem comportamentos agressivos diante de dor, medo ou frustração, numa interação competitiva e, principalmente, na tentativa de defender seu território ou uma posição hierárquica ameaçada. Fatores como idade, sexo, ambiente e até alguns hormônios exercem influência.

Quando são treinados para isso e, principalmente, quando a herança genética ajuda, o desempenho deles é ainda mais eficiente, e tais cães tornam-se agressores em potencial. Entretanto, o que faz de certos animais grandes guardiões de sua casa, sua família e seu dono é o fato de apresentarem uma natureza protetora. Ou seja, eles defendem a casa e a família mesmo sem terem sido treinados para tal.

Para tentarmos entender a origem dessa agressividade territorial e protetora tão evidente em alguns cães é preciso rememorar as origens de algumas raças caninas e, principalmente, investigar e compreender melhor como se dá esse comportamento entre os lobos, já que esses são os ancestrais caninos. Os lobos se organizam em alcateias e, normalmente, o lobo que poderíamos chamar de “líder” é responsável pela segurança, guarda e proteção de todo o grupo, além da vigilância do território. Na tentativa de manter o grupo unido, ele exibe comportamentos desafiadores aos intrusos, o que causa ainda mais admiração por parte do outros membros da alcateia. Assim, essa habilidade presente nos cães domésticos pode ter sido herdada de seus ancestrais.

E por que algumas raças são mais agressivas que outras? Embora não possamos generalizar, a maior aptidão de certas raças para a vigilância territorial e proteção teve origem nos antepassados. O rottweiler, por exemplo, foi inicialmente usado como boiadeiro de rebanhos, puxador de carroça e, principalmente, como guarda do Império Romano. Já os tataravôs do fila brasileiro caçavam escravos fugidos. Os antepassados do pit bull tiveram grande participação na luta contra touros em espetáculos semelhantes às touradas. Mais tarde, o palco foi substituído pela arena das rinhas de cães. Assim, o temperamento de cada raça foi sendo selecionado através de diversas gerações, aumentando ou diminuindo determinadas habilidades e potenciais agressores.

Felizmente, essa predisposição genética pode ser, até certo ponto, moldada por treinamento e pelo proprietário. Não se iluda que qualquer cão pode se tornar manso e 100% confiável simplesmente porque você irá dar muito carinho e contratar um bom adestrador. Se você já tem um micro poodle que ataca toda a família e ninguém tem coragem de tirá-lo do sofá, pense duas vezes antes de comprar um filhotinho de rottweiler. Os melhores cães de guarda costumam ser os mais dominantes e os mais destemidos. Portanto, o controle muitas vezes é dificílimo para donos não muito rigorosos e firmes.

Comunicação de intenções pelo cachorro: a perspectiva dos donos

Photo credit: Tambako the Jaguar / Foter / CC BY-ND
Photo credit: Tambako the Jaguar / Foter / CC BY-ND

Por Claudia de Brito Faturí, Alexandre Pongrácz Rossi, César Ades e Daniela Ramos

Com o intuito de saber quais são os sinais através dos quais cães comunicam o que vão fazer aos seus donos, analisamos episódios comunicativos relatados por proprietários de cães. A pesquisa foi realizada com 1134 donos de cães, contatados através de um site e através do qual foram obtidas respostas a um questionário. Pedia-se aos sujeitos que fizessem relatos de episódios, com seu próprio animal, em que fosse clara a comunicação de algo pelo cão ao seu dono.

O presente trabalho tem a ver com uma parte desta pesquisa relativa a 501 episódios em que o cão teria comunicado uma intenção (avisando ou disfarçando algo que iria fazer). A análise do conteúdo destes episódios indicou que se centram em torno das motivações básicas de cães domésticos e de casos em que o animal disfarça algo errado que já fez ou irá fazer; e desvendou, em cada caso uma série de sinais a que os donos atribuem valor de previsão ou comunicação. Os mais freqüentes destes sinais foram: defecar e urinar (anda em círculo, cheira o local), comer (distrai o dono, distrai o outro cão), pegar algo (olha fixo, olha alternado), atacar (rosna, late), chamar atenção do dono (late, olha para o dono), entrar em casa (entra devagar, olha para o dono), sair de casa (pula/arranha a porta, olha para o dono), disfarçar quando vai fazer algo errado (sai devagar, olha para o dono), disfarçar quando fez algo errado (esconde-se, baixa a cabeça).

Os resultados indicam que a interação entre o dono e o cão se baseia na leitura, pelo dono, de sinais preditivos do comportamento do cão que muitas vezes são interpretados como decorrendo de uma intenção do cão comunicar-se com o seu dono ou de disfarçar sua própria intenção. No caso de fazer algo errado, há uma analogia marcante com os relatos anedóticos de enganação em primatas. Estes sinais parecem ser o produto de uma construção que decorre da interação entre o dono e o seu cão. Existem elementos em comum, existe um dicionário geral, mas também incluem elementos que só poderiam ter sido adquiridos de forma particular. É possível que deste conhecimento preditivo do dono se originem práticas que reforcem no cão certos comportamento comunicativos.

Transição entre sinais eliciados e sinais espontâneos

Photo credit: Y0$HlMl / Foter / CC BY
Photo credit: Y0$HlMl / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Proprietários de cães acreditam que seus animais são capazes de se comunicar com pessoas (Ades, Rossi & Pinseta, 2000). Sabe-se, contudo, pouco a respeito de como cães usam sinais comunicativos para influenciar o comportamento de seres humanos. Inspirando-nos na descrição de Clark (1978) a respeito de como crianças pequenas adquirem vocabulário passando pela transição entre a comunicação não-intencional para sinais intencionalmente comunicativos, pensamos num procedimento em que uma ação desempenhada pelo ser humano seria associada a um comando executado pelo cão. A hipótese era que no decorrer do treino, o cão passaria a executar o mesmo comando antecipadamente, de forma espontânea, desencadeando a ação do experimentador, criando-se assim um canal de comunicação com o ser humano.

Uma cadela sem raça definida, Sofia, foi nosso sujeito experimental. As ações e comandos consistam de rotinas com papéis claramente definidos para o cão e o experimentador: “pedir para sair”, “ter acesso à casinha” e “jogar a bola”. O papel do experimentador consistia em pedir um dos comandos respectivos a cada rotina (“dar a pata”; “tocar num guizo” e “rodar”) e, em troca da sua execução, atender a necessidade do sujeito, que podia ter sido percebida ou induzida. As rotinas foram filmadas diariamente e 126 episódios foram transcritos temporalmente. Analisou-se o número de antecipações do sujeito experimental ao papel do experimentador. Observou-se um aumento das antecipações do sujeito de forma gradual ao longo das semanas, atingindo 100% em todas as rotinas estudadas. A totalidade das antecipações foram atingidas em 4 semanas para “pedir para sair”, 3 semanas para “ter acesso a casinha” e 6 semanas para “jogar a bola”.

Esses sinais aprendidos pelo cão começaram a ser utilizados espontaneamente em contextos adequados, mesmo fora das rotinas. A antecipação apresentada pelo cão demonstra uma capacidade de utilizar comportamentos arbitrários aprendidos para comunicar desejos e vontades a seres humanos de forma análoga ao que ocorre com crianças e primatas. Esse conhecimento poderá ser utilizado para criar sistemas de sinais comunicativos que permitam uma comunicação mais clara e precisa entre cães e seres humanos, além de podermos substituir comportamentos comunicativos indesejáveis como arranhar a porta ou latir demasiadamente quando deseja algo.

Reconhecimento de expressões faciais caninas versus humanas

Photo credit: LeahLikesLemon / Foter / CC BY
Photo credit: LeahLikesLemon / Foter / CC BY

Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal. 

Acidentes por mordidas de cães são um problema sério e comum, sendo as crianças o principal alvo desses acidentes. Diversos são os motivos que tornam as crianças mais susceptíveis aos ataques de cães como agitação, produção de sons de alta freqüência, o tamanho e o próprio fato de olharem fixamente para a face do cão, atitude que pode desencadear agressividade por medo ou por dominância. O presente estudo teve por objetivo constatar a reação de crianças diante de fotos de cães com expressão de agressividade e passividade e comparar com a reação diante de fotos humanas. Buscou-se abordar susceptibilidade de crianças aos ataques caninos segundo a sua capacidade de reconhecimento de expressões faciais. Estudos sugerem que o reconhecimento de expressões faciais já ocorre em bebês recém-nascidos.

Além disso, expressões faciais exibidas pelos pais e indicativas de prazer, desprazer, perigo e outras emoções podem ser úteis para o aprendizado sobre o meio em que a criança vive. Entretanto, ainda que as crianças na faixa de 1 a 3 anos de idade demonstrem algum entendimento de expressões faciais ele ainda é bastante rudimentar. A observação foi realizada com 10 crianças entre 2 e 3 anos de idade. O aparato experimental consistia de 2 placas (92cm x 42cm) com um orifício no centro e uma câmera filmadora. Em uma das placas havia duas figuras de uma mesma pessoa, sendo uma exibindo expressão neutra e a outra sorrindo. Na outra havia duas figuras de um mesmo cachorro, sendo uma exibindo expressão neutra e outra com os dentes aparentes (expressão de raiva). As placas foram apresentadas para cada criança por um período de 10 segundos e foi registrado, em fita de vídeo, a direção de seus olhares.

Os resultados mostram quem não houve preferência em relação às fotos humanas. Já para as fotos de cachorro, houve uma clara preferência pela foto onde os dentes estavam expostos. Tal fato pode ser comparado à preferência por sorrisos em experimentos com faces humanas, além de consistir um fator de risco para acidentes entre cães e crianças. Isto fortalece a hipótese de que crianças desta faixa etária poderiam confundir a sinalização de ataque expressa pelos animais, com o sorriso humano, levando a uma aproximação da criança ao animal, ao invés de evitação.

Compulsão em gatos

Photo credit: Josh Antonio / Foter / CC BY
Photo credit: Josh Antonio / Foter / CC BY

Por Malu Araújo, adestradora da Cão Cidadão.

Classificamos como compulsão, comportamentos repetitivos, que não possuem motivo aparente ou objetivo. Se lamber muito, miar em excesso, arrancar pelos, andar em círculos e comer tecidos podem ser alguns exemplos de comportamentos compulsivos. Se lamber, miar, entre outras ações são comportamentos normais dos gatos, porém, o que chamamos de compulsão é o excesso.

A compulsão pode aparecer por diversos motivos: uma reforma barulhenta e fluxo de pessoas no ambiente, aos quais o gato não está acostumado; pela presença de outro animal; por situações que acontecem e que deixam o gato muito ansioso ou estressado. Existe também o fator genético e, nesse caso, o ideal é não permitir que um gato compulsivo se reproduza, pois a chance dos filhotes apresentarem os mesmos comportamentos é alta.

A sociabilização do gato é a melhor forma de evitar que comportamentos compulsivos apareçam. Apresentá-lo para pessoas, sons, cheiros, e sempre de uma forma agradável, associando essas situações a um petisco ou um carinho, pode fazer com ele se habitue às possíveis mudanças que ocorrerão durante a vida. Tratar é mais complicado do que prevenir, portanto, faça uma sociabilização com seu bichano.

Parar ou interromper uma compulsão nem sempre é o melhor a se fazer, pois pode fazer com que o gato deixe de apresentar determinado comportamento e parta para outro, que pode ser pior. A interrupção da compulsão só deve ser feita se o que o animal faz for muito perigoso para ele – se está causando algum tipo de machucado ou no caso de ele estar comendo algum objeto, por exemplo.
Conversar sobre o que está acontecendo com o veterinário é sempre válido. Em alguns casos, é necessária a introdução de medicamentos e feromônio.

Evite expor o gato a situações de estresse. Se ele tem medo de pessoas e você vai oferecer um jantar, deixe um cômodo da casa para ele e não permita que as pessoas entrem lá sem motivo. Você adotou um novo amigo, então, conte com a ajuda de um profissional de comportamento para auxiliar na interação entre eles.

Ofereça também alternativas para o gato gastar energia. Brinquedos interativos e jogos são um excelente estímulo mental e uma forma de atividade para ele. Brincadeiras em que ele possa “caçar” a comida são ótimas.

Proporcionar uma rotina previsível para o gato influenciará na mudança comportamental dele.

Fonte: PetShop Magazine.

Preparando o gato para uma mudança

Photo credit: Douglas J O'Brien / Foter / CC BY-SA
Photo credit: Douglas J O’Brien / Foter / CC BY-SA

Por Katia de Martino, adestradora da equipe Cão Cidadão.

Você e sua família vão se mudar para uma casa nova e, claro, o gatinho vai junto. Como proceder para que o animal fique o menos estressado possível com a mudança?

Mesmo com todas as precauções, é natural que seu felino se sinta desconfortável no início. Porém, com alguns cuidados simples, é possível diminuir o estresse até que ele esteja à vontade no novo ambiente.

Gatos gostam de lugares altos e com pouco movimento. Caso ele prefira ficar dentro de algum armário, deixe-o. Entenda que lá é o local que ele escolheu e que, aos poucos, principalmente durante à noite, ele conseguirá explorar o território.

Coloque a caminha e brinquedos bem perto do local que ele tiver escolhido. Apenas quando você sentir que ele está mais adaptado, coloque os objetos no lugar definitivo.

Florais e feromônios sintéticos, vendidos em pet shop, também podem auxiliar no processo de adaptação. Tenha paciência e lembre-se de que é preciso tempo para que seu amigo esteja completamente à vontade em seu novo lar.

Fonte: Pet Center Marginal.