Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.
Por que o gato brinca?
As brincadeiras do gato podem ter diversos motivos. Uma de suas utilidades é essencial: a simulação de caçadas. Trata-se de uma excelente maneira de o fato estar bem preparado para a captura de presas, atividade na qual o erro pode custar ficar sem uma refeição.
Desde filhote, o gato treina aproximações silenciosas e sorrateiras. Seus movimentos lentos, aprimorados para surpreender a presa, contribuem também para a tão admirada elegância felina. Entre os exercícios típicos, estão explorar o ambiente, agarrar bichinhos e observar atentamente suas reações, esconder-se atrás de objetos e tentar dar o bote no melhor momento.
Experiências como essas, praticadas continuamente, ajudam o gato a identificar as particularidades de cada tipo de presa e a se adaptar melhor às novas situações. Quando especializado em caçar lagartos, por exemplo, o gato desenvolve técnicas bem diferentes das que utiliza quando se dedica principalmente à captura de passarinhos.
Brincando, o filhotes adquire suficiente habilidade para ganhar independência do leite materno, alimento que em pouco tempo se torna indisponível. Depois disso, a prática continua e o comportamento vai sendo aperfeiçoado. Aumento assim o aproveitamento das oportunidades e fica cada vez mais difícil, para as presas, conseguir escapar do felino.
Por meio das brincadeiras, é feito também o aprendizado de técnicas para enfrentar situações de luta. Sem levar mordidas nem arranhões, sofrimentos inevitáveis nas brigas de verdade, o gato aprimora o ataque e a defesa, avalia a própria força e estima a capacidade dos possíveis adversários, obtendo mais condições de saber quando é melhor partir para a brida ou sair correndo.
As brincadeiras, ainda, estreitam laços afetivos com o grupo, se o gato convive com outros exemplares. Todo esse aprendizado desenvolve os comportamentos adaptativos, fundamentais por contribuírem para a sobrevivência e a reprodução da espécie.
Instinto e aprendizado
Será que os gatos têm noção da importância das brincadeiras para eles? Na verdade, em grande parte, eles são estimulados a praticá-las pela programação genética. Que modela o aprendizado recompensado com sensações de prazer casa movimento correto realizado. Quando o gato não consegue capturar a caça, apesar de perder uma oportunidade para sentir o prazer de ingerir alimento, sente o prazer de estar caçando. Graças a isso, fica menos frustrado com o insucesso e não pára de se exercitar. Assim, em pouco tempo, sua técnica evolui muito.
Efeitos da concentração
Enquanto caça, o gato se concentra totalmente na atividade. Grande parte do cérebro dele fica ocupada na percepção de cada movimento da presa, sem se deixar atrapalhar por estímulos como sons, plantas que se mexem ao vento, irrelevantes para ele naquele momento.
A concentração é tanta que, ao puxarmos um fiozinho, ficamos com a impressão de desaparecer para o gato, que resolve atacá-lo como se não tivéssemos relação alguma com o fio. Estudos mostram que, de tão concentrado que o gato fica enquanto caça, ensurdece momento antes de dar o bote. É diferente do que ocorre com cães. Eles costumam caçar em grupo, precisando estar atentos ao mesmo tempo à presa, que tentam cercar, e aos companheiros.
Relaxamento e teste de estresse
O fato de o gato estar ou não disposto a brincar serve para indicar como anda o estado emocional dele. Um possível sinal de estresse é ele deixar de brincar. Quando uma situação é interpretada pelo gato como ameaça à sua sobrevivência imediata, ele se concentra nela e deixa de brincar. Se essa recusa se prolongar, é preciso avaliar e tentar eliminar a causa – o estresse contínuo pode provocar mal físico e psicológico ao gato.
De outra parte, quando ele aceita brincar, pratica uma atividade que o ajuda a relaxar as tensões. Já que brincar é tão importante para o bem-estar do gato, no próximo artigo darei dicas de como brincar com ele e, também, de como testar suas habilidades na caça.