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Quanto vale o seu cheiro?

https://www.flickr.com/photos/_tar0_/7100809169/
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Por Laraue Motta, adestradora e integrante do Grupo de Estudos da Cão Cidadão.

Quem trabalha com cães percebe que a comunicação olfativa é muito importante na vida deles. Sabemos que eles podem captar muitas informações farejando, vemos a felicidade dos peludos quando exploram os lugares com o focinho e notamos como aquelas narinas realmente podem ser potentes.

Gregory Berns, neurocientista americano que treinou cães a permanecer imóveis, sem sedação, dentro de uma máquina de ressonância magnética, publicou outro estudo em que avaliou a resposta cerebral de 12 cachorros, também via ressonância magnética, diante de 5 odores distintos: (1) de um humano conhecido; (2) de um humano desconhecido; (3) de um cão conhecido; (4) de um cão desconhecido; e (5) o próprio odor de cada cão.

O que ele descobriu com isso?

Analisando a área iluminada no exame de ressonância dos animais, Berns concluiu que, diante do cheiro de um humano conhecido, o cérebro acionava a mesma área que é ativada quando o cão recebe um petisco. Isso mesmo!! Os cães tiveram uma “sensação” de recompensa quando sentiram o odor de uma pessoa querida.

É importante falarmos que os cientistas tiveram o cuidado de usar o odor de um humano conhecido, mas que não fosse o cheiro da pessoa que fazia o manejo diário do cão. Isso talvez indique que a pessoa que fornece comida e água ao cachorro todos os dias não necessariamente seja “o humano referência” da casa, mas não podemos afirmar isso de fato!

Como isso pode nos ajudar

Considerando o quanto um odor específico pode significar ao cão, podemos planejar treinos que valorizem mais o olfato dos nossos alunos. Por exemplo, é comum pedirmos ao tutor que, ao sair, deixe uma peça de roupa usada próximo a um cão que tem ansiedade de separação, mas não seria mais eficaz se todas as pessoas da casa deixassem um pouco do seu cheirinho espalhado pelo ambiente, para que o cão se sinta “recompensado” pelo odor de todos que conhece? Além disso, por que não tentar nos aproximar de um cão medroso com algum objeto que tenha o “odor recompensador” de um humano conhecido? Ou então, que tal pedirmos ao tutor que manipule os petiscos que vamos usar no treino para valorizarmos ainda mais aquela recompensa e fazermos com que o cão tenha associações positivas com a nossa presença?

Nesse sentido, sabemos que os odores de algumas partes do nosso corpo são bem mais intensos, então poderíamos também usar cheiros específicos, como o suor das mãos e dos pés, manipulando o petisco depois de uma corrida ou guardando a meia “cheia de chulé” para os treinos. Tudo em prol do adestramento! Podemos ainda ir mais fundo e nos arriscarmos a pedir para que o cliente use a caminha do cachorro como assento por uns dias, por exemplo. Assim, o tutor vai deixar na caminha odores bem pessoais e podemos alegar que, dessa forma, vai ser mais fácil “convencer” o cão a não frequentar tanto o sofá!

Com tudo isso, concluímos que…

Saber o real valor de um determinado odor para o cachorro pode nos ajudar com a evolução de um treino e aumentar a sensação de bem-estar de um aluno inseguro ou ansioso. Aliás, é nosso papel explicar aos tutores o quanto o olfato é importante para os cães e o quanto esse sentido influencia a vida dos peludos. Assim, os clientes poderão entender melhor alguns comportamentos que talvez os incomodem e que muitas vezes são interpretados como travessuras sem sentido.

Revisão por Juliana Sant’Ana, adestradora e membro do Grupo de Estudos Científicos da Cão Cidadão.

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