Por Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.
Encontrar modos de detectar se o gato de estimação é criado em condições adequadas para seu bem-estar, com base em observações científicas, é um trabalho desenvolvido pela pesquisadora Irene Rochlitz, de Cambridge, na Inglaterra. Em breve ela publicará um artigo a respeito do assunto numa revista científica famosa.
Trabalhos como esses influenciam novas leis que determinam condições mínimas para ter animais de estimação. Na minha opinião, tais cuidados não devem ser avaliados como uma camisa-de-força, e sim como informações úteis para darmos vida mais digna aos animais que queremos ter a nosso lado.
Cada vez mais a sociedade, pressionada pela opinião pública e pelas associações de proteção aos animais, procura defender os direitos dos animais. Na maioria dos países, inclusive no Brasil, os maus- tratos constituem crime!
Alguns países se preocupam mais que outros com a proteção aos animais. Na Inglaterra, por exemplo, gatis, laboratórios e zoológicos precisam seguir à risca todos os cuidados impostos por lei e os estipulados por conselhos éticos e federações. Por isso, procuro estar sempre antenado com o que acontece por lá. Pode ser um possível norte para nós. É possível, ainda, aproveitarmos o que deu certo e rejeitarmos ou alterarmos o que não funcionou bem.
Maus-tratos
O que é considerado delito de maus- tratos? Espancar um animal e mantê-lo em local anti-higiênico são alguns dos crimes previstos em lei. À medida que o respeito pelos animais evolui, novas situações poderão ser consideradas como maus- tratos e incorporadas à legislação.
Cinco liberdades para o bem-estar
De maneira bem resumida, vou descrever os principais pontos considerados fundamentais para o bem-estar dos gatos, pela pesquisadora Irene Rochlitz. Ela utilizou a estrutura chamada “Cinco liberdades”, já adotada para animais de fazenda em países como Inglaterra, Canadá, Estados Unidos e Suécia. Essas liberdades são:
Liberdade 1: Estar livre de fome, de sede e de má nutrição;
Liberdade 2: Estar livre de desconforto;
Liberdade 3: Estar livre de machucados, de dor e de doença;
Liberdade 4: Estar livre para expressar comportamento normal da espécie;
Liberdade 5: Estar livre de medo e de estresse excessivo.
Pré-requisitos das liberdades
Estar livre de fome, de sede e de má nutrição:
É preciso oferecer ao gato, no mínimo, duas a três refeições por dia, balanceadas de acordo com a fase do desenvolvimento em que se encontra, em quantidade que não o deixe magro demais nem obeso. Se o gato não estiver obeso, não constitui maus-tratos manter comida permanentemente ao alcance dele. O acesso a água fresca e potável deve ser possível a qualquer momento.
Estar livre de desconforto:
Significa que o gato necessita de uma área adequada, com luminosidade apropriada (curiosidade: os gatos não enxergam no escuro total!), isenta de odores muito fortes, de temperaturas extremas e que permita abrigar-se do sol, do vento e da chuva. O nível de ruídos deve ser baixo. A área precisa ser mantida limpa.
Estar livre de machucados, de dor e de doença:
Os cuidados abrangem manter o gato sem parasitas internos e externos, com a vacinação em dia e, sempre que necessário, com acesso imediato a veterinário. É preciso, também, que o gato esteja identificado por meio de coleira ou microchip.
Estar livre para expressar o comportamento normal da espécie:
Brincar e se relacionar com outros gatos e humanos, além de caçar, são comportamentos cuja manifestação deve ser livre para o gato. A caça a presas reais tem causado polêmica. Os argumentos são que o animal caçado acaba não tendo seus direitos preservados e que a prática pode causar desequilíbrio ambiental, com impacto negativo para a ecologia. Pode-se substituir a caça por brinquedos e brincadeiras que a simulem.
Estar livre de medo e de estresse excessivo:
Não se deve submeter o gato a estímulos que possam provocar reações como pânico ou medo contínuo. A preocupação deve ser com relação à reação causada no gato e não com o estímulo em si. Por exemplo, a presença de visitas na casa pode ser agradável para um gato e ameaçadora para outro. Quem zela pela existência das cinco liberdades permite que o gato usufrua ótima qualidade de vida.