Muitas pessoas ignoram a importância de uma boa apresentação de um cão a outro, especialmente quando um filhotinho chega numa casa onde já reside outro peludo. Se o primeiro contato de ambos gerar reações agressivas ou mesmo uma briga e investida do mais velho (o que representa perigo para o filhote), a relação entre os cães pode ser comprometida ao longo de suas vidas, gerando até situações de perigo constante.
A primeira dica para uma aproximação adequada é providenciar para que o primeiro contato se dê em um local neutro. Pode ser na rua, em um parque ou praça, de preferência sem muito barulho ao redor. Lembrando que o filhote em fase de vacinação não deve ter acesso ao chão, mas pode estar no colo de um dos membros da família, enquanto outra pessoa caminha com o mais velho na guia, fazendo um passeio divertido e estimulante!
Depois que todos entrarem juntos em casa, a aproximação deve ocorrer aos poucos, iniciando-se com uma boa distância entre os cães. Importante lembrar que um cão mais velho pode não tolerar as brincadeiras efusivas de um filhote, especialmente dentro do seu ambiente. Por isso, é muito importante controlar o filhote, não permitindo que ele chegue abruptamente perto do mais velho, nem que pule e morda o novo amigo.
É preciso estar bem atento às reações dos peludos, especialmente o mais velho. Sinais como encarar o outro fixamente, pelos do pescoço eriçados, cauda ereta e imóvel podem significar desconforto, e a distância entre eles deve ser aumentada.
Deve-se, por outro lado, valorizar os comportamentos desejados e esperados para essa situação: se o cão, mesmo já tendo visto o outro, se mantiver em uma posição relaxada, ele deve ser elogiado e bastante recompensado, de preferência com algo que ele aprecie muito!
O objetivo é que a aproximação ocorra aos poucos, sempre observando as reações de ambos os cães, que devem ser tranquilas e despreocupadas para que se saiba em que ponto avançar. Isso pode levar alguns minutos ou até dias, e é muito importante ter paciência e manter a supervisão: isso garantirá anos de tranquilidade aos peludos e, possivelmente, até uma verdadeira amizade!
Mesmo com uma aproximação cuidadosa, o cão mais velho pode dar sinais de que a presença do filhote está sendo desagradável. Isso é relativamente comum e pode levar algum tempo para que ele se acostume ao novo membro da família. O que o mais velho pode estar sentindo? Possivelmente, pode estar inseguro e até estressado pela mudança na rotina, em razão da chegada do filhote. Podem ocorrer, inclusive, comportamentos parecidos com ciúmes, especialmente quando o filhote estiver por perto.
Nesse sentido, é importante dar muita atenção ao cão mais velho quando o filhote está presente no mesmo ambiente. Assim, ele associará a presença do pequeno a algo importante a ele: atenção do tutor. Infelizmente, muitas pessoas costumam brigar com o mais velho, não entendendo o motivo dele ainda não querer “fazer amizade com um filhote tão lindo”. Mas essa é uma interpretação humana, não aplicável ao início de relacionamento entre dois cães.
No início, o cão mais antigo da casa pode dar sinais de que não gosta do filhote, evitando-o a todo momento, escondendo-se em locais inacessíveis ao pequeno. Mas essa situação tende a mudar, especialmente se forem feitas associações positivas entre os dois sempre que estiverem juntos, por meio de brincadeiras, recompensas e atenção.
De qualquer forma, é importante observar se os comportamentos habituais do cão mais velho mudaram muito e estão perdurando, como, por exemplo, perder o apetite, não brincar mais, estar sempre escondido. Ele pode estar estressado a ponto de não valorizar mais atividades que antes faziam parte de sua rotina e pode até desenvolver problemas de saúde. Nesse caso, os treinos de associações positivas devem ser intensificados e as interações devem ser sempre controladas, especialmente com o filhote, garantindo que tudo que é importante e valioso para o mais velho seja mantido.
Se o mais velho sempre associar a presença do filhote a mais atenção, interação, brincadeiras e recompensas, e não à perda de recursos que eram importantes a ele, provavelmente logo vai interagir de forma tranquila com o novo companheiro.
Aliás, quando os dois começarem a interagir efetivamente, podem começar aquelas brincadeiras mais barulhentas, com alguns rosnados e latidos, batendo as patinhas no chão. E como saber se estão brincando ou brigando? As posturas corporais de uma brincadeira são mais relaxadas, geralmente eles rolam no chão, batem a pata um no outro, nenhum dos dois tenta escapar. Já em uma briga, nota-se facilmente que a interação não está agradável: o corpo se mantém rígido, o animal não baixa a guarda nunca e tenta fugir.
Sendo brincadeira ou briga, é preciso tomar muito cuidado, pois, se houver diferença de força e tamanho entre eles, podem ocorrer acidentes que geram machucados. Por isso, a supervisão e o controle dessas interações é muito importante, especialmente no início.
Lembre-se que é preciso sempre respeitar o tempo deles. Não é possível precisar quanto tempo seria preciso insistir nas associações positivas e no controle. Cada cão é um indivíduo com um temperamento característico, criado de forma diferente e todos esses fatores influenciam no tempo que a adaptação pode demorar. É justamente aí que surge aquela dúvida: será que é melhor devolver o filhote? Esta questão é extremamente difícil de ser respondida, pois, em alguns casos, a adaptação é muito rápida, mas, em outros, pode até parecer impossível. Assim, o mais importante é verificar se ao menos pequenos progressos estão ocorrendo, se no dia a dia o bem-estar de ambos está sendo garantido, para verificar a perspectiva de sucesso e alegrias nesse relacionamento.
Por Cassia Rabelo Cardoso dos Santos, adestradora e consultora comportamental da equipe Cão Cidadão.
Fonte: BitCão.